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Xikwembo: Da posse II (continuação)

Agora ainda estou mais intrigada… veio o guarda? Algum dos dois me engana… mas e se é uma emboscada? Apanharem-me aqui nas escadas ou lá em baixo… é fácil… e eu que faço? Já me imagino de cabeço baixa, “porque é que saí de casa, porque não sou sensata?”. Mas a sensatez não é a minha característica mais marcada, e cada um tem de perceber os seus pontos fortes e usálos! Ganho coragem, amarro a capulana, e lá vou eu! Bom, sentia-me melhor se levasse uma arma… mas eu não tenho armas… um spray! Pelo menos nos fi lmes funciona! Confi ante nas elaborações da fi cção, e armada com um desodorizante DOVE go fresh, um telemóvel e uma chave desço para a rua.

Mas não desço fresca, vou receosa, confesso. Troco algumas palavras com o guarda, que continua a dizer que está tudo bem. Acrescenta que as portas de trás do carro estavam abertas e o porta-luvas também – que parte disto é que lhe parece bem é para mim um mistério, talvez seja mestre da fi losofi a da partilha universal, ou talvez seja só porque o carro não é dele! Sei que também não é meu, as coisas não são nossas, reforço a minha consciência do facto.

Vou até ao dito carro, as portas estão fechadas, e mesmo bem fechadas, porque do lado do condutor a fechadura foi tão forçada que a chave nem entra. Vou pelo lado do pendura, entro, a chave nem entra na ignição…

Saio e dirijo-me ao mano a quem devo um pedido de desculpas: – Tem razão mano, entraram ali, chave nem roda agora… – Eu disse, senhora estava a desconfi ar! Eu que salvei, moços lá e eu fi quei só assim a olhar, só! Nem disse nada. Eles atrapalharam, foram embora. Se não fosse eu agora estavas a chorar aí. – Ya… peço fi car de olho essa noite, amanhã conversamos. – Ya, ok… Se eu apanhar tiro desses aí eu não sei… Eu nem devia fi car aqui com esse jack nem nada, talvez disfarçar eu não sei… esses podem voltar, se fazem isso assim, de dia, de madrugada podem vir me complicar que nós somos esses moços que impedem de fazer seus business.

– Te agradeço muito mano – tenho um boné no carro e entregolho para o disfarce da noite. Agradeço de novo e ainda olho para trás, ele está com um boné do 10 de Junho – dia de Portugal, e ainda lhe vejo a expressão ofendida de eu ter desconfi ado… Na entrada do prédio o guarda está a jantar, de costas para a porta, eu vou dizer-lhe qualquer coisa sobre o carro, que fi cou lá no mesmo sítio, que ele vigie, entre duas garfadas ele confi rma que sim, claro.

Ao Jaimiro aqui, publicamente digo Sorry e thanks, mano! Os outros manos, peço deixar meu carro, porque a partilha universal até entendo, mas e pagar o carro, podemos partilhar? Já agora, aos que levaram a máquina fotográfi ca – emprestada, claro – peço trazer que ando com câmara emprestada, preciso dela este mês.

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