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Xïkwembo: Conheces?

Chatamos no Facebook, trocamos sms, falamos mesmo no bar. Mas moçambicano não se conhece assim. Jantamos na mesma mesa uma vez, no trabalho cruzamo- nos no corredor. Frequentamos os mesmos sítios e temos amigos comuns, mas moçambicano não se conhece assim. Leio os livros e os jornais, oiço as músicas na rádio e vejo os shows nas praças. Mas não, moçambicano não se conhece assim.

Moçambicano conhece-se no toque insinuante dos dedos, na elasticidade macia da pele do peito, na cor limpa e brilhante das coxas. Moçambicano conhecese nos lábios grandes de beijos, nas mãos cheias de bunda, no sorriso branco de dentes, no tom grave do riso solto. No papo… ah, moçambicano tem papo!

Não faz pergunta e foge a respostas. Mas diz, fala, elogia, insinua e não insinua no duplo sentido da língua portuguesa – que como todos sabemos é traiçoeira – não, não é nos sentidos dúbios das palavras que o moçambicano se alonga, é o triplo acento de um olhar que transforma um simples “bom dia” na excitante forma da quase obscenidade.

Elogiosa, sempre. És quente tu, seja quem fores. E sentes isso num piscar de olho cúmplice, num afi rmativo levantar de sobrolho. Acção que confi rma, que convida, que dá. Moçambicano conhece-se na investida pélvica de uma passada. Na frescura espessa e doce de uma Laurentina. Num gole de cerveja preta, claro.

Moçambicano conhece-se na dormência grossa que o piri-piri sacana deixa na língua. No som batido dos tambores, sim, no desafi no da tímbila. É Verão. Chove.

E o moçambicano conhece-se no pingar grosso que aparece de surpresa, no sol forte que vem sem aviso. Na frescura do vento que despenteia cabelos e descobre pernas. No som do agitar das folhas dos coqueiros. No bafo quente do vento suão que de noite nos surpreende nuas. Moçambicano conhece-se no “não” sempre ausente. No eterno concordar.

Moçambicano conhece-se no improviso, no desconseguir sorridente de cada tentativa. Moçambicano conhece- se na porta aberta da hospitalidade, no olhar directo do estudo. Moçambicano estuda, sim, olha para fora. Observa-te sempre, e o caminho que faz tem base no que vê, no que mostras. Ah! e para moçambicano mostras, mostras sempre, é desarmante a generosidade do que aprecia, é cativante.

– Estás bonita hoje, sapatos vão bem com teus cabelos.

– ?Ah! Ah! Ah!

– Moçambicano conhece-se na prontidão do papo, na doçura sempre dependurado nos lábios generosos, no desejo em reflexo nos brilhos molhados dos olhos, no esboçar constante de um sorriso nas faces. Moçambicano conhece-se na água do coco, morna e suave como saliva.

Moçambicano conhece-se na doçura e maciez de uma manga madura. Na dureza aparente de uma massala, na acidez doce de um maracujá. No corpo.

– Aquele rapaz que parece uma estátua era teu namorado? Moçambicano conhece-se no desenho sinuoso dos braços, no redondo perfeito da nuca, na testa brilhante, no nariz redondo, nos lábios cheios. No peito desenhado, nas costas fortes de músculos curtos e duros, nas pernas atléticas… Sim, Moçambicano conhece- se no prazer, é aí que se conhece.

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