Humberto Benfica, ou simplesmente Wazimbo completou seis décadas de vida no passado dia 11 deste mês, mas quando se faz ao palco continua a transmitir uma energia cada vez mais jovem. Iniciou a sua carreira musical em 1964.
Em 1997 publicou o seu primeiro álbum a solo intitulado “Makwerhu”, e com o grupo RM lançou os álbuns “Independence” e “Piquenique”. É, sem dúvidas, uma das melhores vozes de Moçambique. O seu talento musical teve como uma das expressões mais altas o seu contributo na “Orquestra Marrabenta Star” nos anos ‘80 e ‘90. O músico é autor do tema “Nwahulwana” que fez parte da trilha sonora do fi lme “Th e Pledge” cujo protagonista principal é o consagrado actor, Jack Nicholson.
O conceituado músico moçambicano e um dos ícones da marrabenta, Wazimbo, carinhosamente tratado por Tio Wazi, pela camada jovem, vai apresentou o concerto “Retrospectiva 40 anos de carreira”. Em alusão a este marco importante da música nacional, entabulámos uma conversa com o músico.
Que avaliação faz destes 40 anos de percurso na música?
Na realidade são 43 anos só que arredondamos para 40. É um percurso preenchido por muito trabalho, sucesso, passagem por grandes palcos dentro e fora do país e acima de tudo foram anos de muita experiência. Mas ainda não me sinto realizado porque estamos num país onde a vida artística é enganadora. Durante muito tempo o músico viveu marginalizado, era visto como bandido, como uma pessoa sem família, e agora é que estamos a tentar reverter este cenário. Estou apto para continuar a dar o meu contributo na música moçambicana.
Certamente que teve momentos altos e baixos, quais foram os mais altos?
Momentos altos foram muitos. Por exemplo, quando pela primeira vez consegui actuar num casamento em que também tocavam os Dinamites, que tinham como baterista o antigo Ministro da Juventude e Desportos, Joel Libombo. Foi com muita relutância que a banda nos cedeu 30 minutos para actuarmos. Outro momento que considero alto foi quando através da música “Nwahulwana” fomos convidados para cantar na Itália, nos anos ‘80. A consolidação da Orquestra Marrabenta, que nos permitiu fazer uma digressão pela Europa, foi igualmente um grande momento.
Soubemos que esteve há poucos dias em Macau a participar num festival, como foi?
A ida a Macau surge através de um convite formulado pela Embaixada de Moçambique na China, a solicitar que o Grupo RM fosse participar no Festival Anual da Lusofonia. Estive lá eu e o grupo RM e actuámos em dois concertos.
Actualmente tem feito parcerias com cantores jovens. Que valor isso tem para a música nacional e para si em particular?
À semelhança do que acontece noutros quandrantes do mundo, aqui não poderia ser diferente. É pela confi ança que os jovens depositam no meu trabalho e em mim, que me convidam a participar nas suas músicas. Para a música moçambicana isso signifi ca uma tomada de posição muito válida, porque permite-nos trocar experiências e aprender mais, para daí fazer crescer a nossa música. Para mim, signifi ca que sou valorizado e o meu trabalho também.
40 anos de carreira com apenas um álbum gravado a solo e dois gravados com o Grupo RM, não considera isso pouco?
Considero pouco sim, por isso estou a trabalhar no sentido de encontrar apoios para gravar novas músicas. Agora encontro- me na fase de preparação do meu segundo álbum a solo e quem sabe…gravar mais em próximas oportunidades.
Em tempos o Grupo RM foi um manancial de estrelas da música ligeira moçambicana e agora fi caram apenas seis elementos, será que os que fi caram estão a honrar a história do grupo?
De forma alguma podemos comparar o Grupo RM de ontem com o de hoje, não há comparação. Hoje estamos a apostar numa forma diferente de fazer música, mantendo a identidade da nossa rádio. Nos anos ‘80 éramos muitos e quase todos compúnhamos, mas agora é diferente, estamos reduzidos a seis e nem todos somos compositores, os tempos são diferentes e não podemos ser fiéis ao que se fazia nos anos passados. Embora tenhamos os mesmos objectivos, encontramos algumas diferenças nomeadamento no que se refere ao poder decisivo e na forma como executamos a música. No que diz respeito à honra, estamos a honrar os compromissos com a Rádio Moçambique, continuando a fazer o que pretendia com a criação deste grupo.
O que o grupo está a fazer para renovar o repertório?
Temos estado a criar novas composições, já temos material sufi ciente para gravar dois discos, mas deparámonos com a falta de condições fi nanceiras para entrarmos num estúdio moderno e fazer um trabalho com a qualidade desejada. O apoio deve ser disponibilizado pela RM, que é a instituição que nos suporta, ou por nós os músicos, se tivermos a sorte de encontrar um patrocinador.
Quem são os elementos que actualmente constituem o grupo RM?
Actualmente o grupo RM tem seis elementos que são: Zeca Tcheco na bateria, Sox, Tomás, Pipas e Nando nas guitarras e Wazimbo como vocalista principal. Mas de acordo com a necessidade e característica do concerto que quizermos fazer convidamos outros elementos para tocarem percussão e fazer os coros.