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Voleibol: As selecções “impediram” a realização das provas nacionais

Voleibol: As selecções “impediram” a realização das provas nacionais

Khalid Cassam assumiu a presidência da Federação Moçambicana de Voleibol em Março de 2013 após derrotar, na corrida eleitoral, Camilo Antão. A sua vitória representou o fim de uma era do voleibol que durou cerca de 20 anos, e a esperança de dias melhores para os praticantes desta modalidade espalhados pelo país.

O presidente da Federação Moçambicana de Voleibol (FMV), Khalid Cassam, disse ao @Verdade, durante o balanço dos seus primeiros nove meses, que a sua eleição reavivou o voleibol no país que deixou de ser praticado somente na cidade de Maputo. Por outro lado, o nosso entrevistado revelou que encontrou um organismo desorganizado, que funcionava sem nenhuma sede e com sérios problemas financeiros.

@V – Qual é o balanço que faz do voleibol moçambicano, passados nove meses desde que tomou posse como presidente da FMV, em Março de 2013?

KC – Faço um balanço bastante positivo. Conseguimos apurar a nossa selecção nacional sénior feminina para a derradeira fase de qualificação ao Campeonato Mundial, como também movimentámos o voleibol a nível das bases em todas ? províncias, contrariando o que acontecia no passado em que somente a capital do país praticava esta modalidade.

@V – A época desportiva de 2013 foi atípica em termos de competições nacionais, como sempre foram as temporadas anteriores com o seu antecessor. A que se deveu este cenário?

KC – Não é verdade que houve falta de provas. O que aconteceu foi que não organizámos os campeonatos nacionais de voleibol devido aos compromissos internacionais das nossas selecções. Deve saber que estivemos envolvidos nas eliminatórias de acesso aos “Mundiais” em ambos os sexos. Mas também é importante esclarecer que não é papel da federação organizar todas as competições. As associações provinciais são responsáveis pelos respectivos torneios.

@V – Pode-se afirmar que, em termos competitivos, ainda estamos aquém do desejado?

KC – Não se pode chegar a essa conclusão só porque não foram organizados os campeonatos nacionais. Isso seria ignorar o esforço, quer do nosso elenco, quer das associações provinciais. Hoje é possível falar do voleibol a nível das bases, bem como do país a nível de África mercê do apuramento da nossa selecção feminina ao Campeonato Africano.

@V – Para além das competições nacionais, quais são as outras provas cuja organização é da responsabilidade da FMV?

KC – Nós temos o poder de realizar vários torneios, dependendo da nossa capacidade financeira e agenda. Somos o órgão máximo do voleibol no país. Mas falando concretamente da época 2013, devo dizer que organizámos um total de cinco competições de nível nacional e internacional.

@V – E quais foram as actividades mais marcantes nestes primeiros nove meses de mandato?

KC – Nós organizámos com sucesso o torneio sub-zonal de apuramento ao Campeonato do Mundo, em que na mesma ocasião fomos premiados pela Confederação Africana de Voleibol pelo nosso empenho; formámos e capacitámos os nossos treinadores em matérias ligadas à formação e massificação do voleibol, como também procedemos ao lançamento do projecto “Maningue Volei” que visa expandir esta modalidade aos pontos mais recônditos do país.

@V – Há um entendimento, quase que generalizado, de que o voleibol não é praticado com tanto ímpeto nas províncias como na cidade de Maputo. Tem a mesma percepção?

KC – Absolutamente que não. Depois da nossa tomada de posse, as províncias começaram a movimentar esta modalidade com alguma regularidade até nos escalões de formação. A cidade de Maputo deixou de ser o único ponto do país que pratica o voleibol. E isto é graças ao nosso empenho, sobretudo na distribuição de material desportivo pelas associações.

 

“A selecção feminina é o orgulho da nação”

@V – Olhando para a “vida” das selecções nacionais, qual é o comentário que faz?

KC – As nossas selecções nacionais gozam de boa saúde. No ano transacto, as atenções estavam viradas para o apuramento ao Campeonato do Mundo. Infelizmente e por razões sobejamente conhecidas, os rapazes foram eliminados na fase regional. Neste momento, o conjunto das meninas prepara-se para disputar o Campeonato Africano no próximo mês de Fevereiro no Quénia, também qualificativo para o “Mundial”. É importante sublinhar que a selecção feminina é o orgulho da nação moçambicana nesta modalidade.

@V – E o que podemos esperar dessa selecção no Campeonato Africano de Voleibol?

KC – O mesmo que estas meninas demonstraram nas duas fases anteriores: muito trabalho. Elas são humildes e batalhadoras e por esse motivo acredito que vão representar o país condignamente. Quando elas foram a Lusaka disputar o Torneio Regional, ninguém acreditava que poderiam qualificar-se para o Campeonato Africano. Neste momento estão em Goa a preparar a competição do Quénia. Tenho fé que elas estarão entre as melhores selecções de África e, por isso, vão garantir a presença no “Mundial”. Queremos fazer história participando pela primeira vez na maior prova internacional de voleibol.

@V – Referiu-se aos Jogos da Lusofonia como sendo de preparação. Qual é o plano da federação para que a nossa selecção tenha uma boa prestação no Quénia?

KC – Temos vindo a trabalhar de mãos dadas com a equipa técnica com vista a oferecer melhores condições à nossa selecção sénior feminina. A mesma tem vindo a preparar-se para a referida prova desde o passado mês de Novembro em Maputo. Os Jogos da Lusofonia não estavam na nossa agenda como parte do plano mas, desde a altura em que fomos convidados, sentimos que as nossas jogadoras voltarão com um bom nível competitivo.

@V – Os jogadores da selecção nacional sénior masculina observaram um período de greve durante a preparação para a fase regional de apuramento ao Campeonato do Mundo. Qual foi o verdadeiro motivo?

KC – Eles simplesmente recusaram-se a treinar como forma de exigir melhores condições. Sucede que a FMV não podia satisfazer os atletas pois não tinha meios financeiros para o fazer. Na altura explicámos aos jogadores que nós não vivemos com base nos patrocinadores. Informámos-lhes que trabalhamos com base num orçamento anual limitado, que nos impedia de satisfazer os caprichos daqueles que pensam que nós temos um banco.

@V – A que condições se refere?

KC – Sapatilhas de quatro mil meticais e um valor superior a 150 meticais diário durante o período em que estariam ao serviço da selecção.

@V – Assumindo que estava em jogo o apuramento ao Campeonato do Mundo, a FMV não podia ter resolvido este problema ou, no mínimo, tentado negociar com os atletas?

KC – Conforme disse anteriormente, a FMV não tinha condições para satisfazer o desejo dos atletas, razão pela qual fomos obrigados a recorrer à selecção sub-23 para fechar o vazio deixado pelos nossos rapazes da equipa A. Isto complicou os planos da federação que contava com a participação da equipa sénior no Torneio Regional de apuramento ao “Mundial”.

Mesmo com as condições que muitos julgam ser deploráveis, repare que a selecção nacional sénior feminina conseguiu qualificar-se para a derradeira fase de apuramento ao Campeonato do Mundo. Ainda assim, graças à boa vontade dos empresários nacionais, as nossas jogadoras tiveram um aumento considerável do per diem e equipamento desportivo completo. “Não perseguimos ninguém. As regras devem ser cumpridas”

@V – O antigo capitão da selecção nacional e mentor da greve dos atletas, Délcio Soares, veio a público denunciar que está a ser perseguido por Khalid Cassam. O que tem a dizer sobre esta acusação?

KC – Não há aqui nenhum tipo de perseguição. O caso do antigo capitão da selecção nacional, Délcio Soares, foi analisado e decidido pelo Conselho de Disciplina da FMV que entendeu que devia suspendê-lo por um período de 12 meses. A federação tem estatutos próprios que devem ser cumpridos por todos os fazedores do voleibol no país. Nós demos tempo ao referido jogador para se desculpar. Entretanto, ele entendeu que estava certo ao orquestrar a greve na selecção nacional sénior masculina. Délcio Soares ainda tentou sabotar os treinos da equipa dos sub-23.

 

Os Jogos da Lusofonia

@V – Moçambique foi representado em Goa pela equipa da Autoridade Tributária de Nampula. A que se deveu esta decisão?

KC – Trata-se da nossa selecção nacional, maioritariamente constituída por jogadores da Autoridade Tributária de Nampula e comandada pelo respectivo treinador. As pessoas precisam de saber que não estava prevista a participação da selecção masculina nos Jogos da Lusofonia. Recebemos o convite tardiamente e nada podíamos fazer senão levar a equipa que venceu o Torneio da Zona VI e mais alguns “reforços”.

@V – O que podemos esperar do voleibol neste ano de 2014?

KC – Vamos continuar a massificar a modalidade e investir muito na formação; Continuaremos à procura de uma sede para a federação e apoiaremos as associações provinciais na oferta de material desportivo. Neste ano queremos implementar um novo modelo de competições, introduzindo provas regionais que, por sua vez, vão apurar sete equipas que irão disputar o Campeonato Nacional de Voleibol, sendo três da zona Norte, igual número do Centro e quatro do Sul.

@V – É objectivo da FMV levar o país aos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro?

KC – Queremos ir ao Brasil nas categorias de voleibol de sala e de praia. Foi por isso que convidámos o seleccionador Hamilton Barros para coordenar o Gabinete Técnico. A organização de provas regionais faz parte desse projecto ambicioso.

 

“Não vamos processar Camilo Antão”

@V – Quando assumiu a presidência da FMV, deparou com sérios problemas nas finanças do organismo. Ameaçou, na altura, levar o seu antecessor à barra do tribunal caso ele não apresentasse justificativos dos gastos que fez durante o seu mandato. Como é que ficou resolvido este diferendo entre Khalid Cassam e Camilo Antão?

KC – Ainda está a decorrer uma auditoria nas contas da federação. De facto constatámos que o elenco cessante não foi transparente na gestão dos fundos durante o seu mandato. Mas não passa pela nossa cabeça processar o antigo presidente. O que faremos é obrigar as pessoas a devolverem o dinheiro, caso seja provado que realmente houve desvio.

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