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Viver à rasca

O custo de vida está cada vez mais alto. Para os que auferem salários mínimos nacionais, a situação tornou-se insustentável, até porque os preços de produtos de primeira necessidade não param de subir. Devido à imperiosa necessidade de garantir o sustento da família, alguns moçambicanos buscam alternativas ao emprego. Exemplo disso é Manuel Bauque, trabalhador no sector de construção civil.

Sobreviver do salário mínimo nunca foi tarefa fácil para os trabalhadores moçambicanos. Não há registo de melhor ano para o consumidor no que se refere à cobertura da remuneração básica nacional das necessidades básicas, ou seja, o salário nunca cobriu, ao menos, metade das despesas de alimentação.

O salário mínimo que acaba de entrar em vigor – anunciado em finais de Abril de 2011 – é três vezes mais baixo do que o custo de uma cesta básica necessária para um agregado familiar de cinco pessoas viver com alguma dignidade. Face a esta situação, alguns trabalhadores buscam alternativas para sustentar a família.

A título de exemplo, Manuel Bauque, de 37 anos de idade, trabalhador no sector de construção, aufere um salário mínimo de 2.550 meticais por mês e afirma que, em nenhum momento, aquele montante cobriu as suas despesas básicas, nomeadamente a alimentação, a renda de casa e o transporte para o trabalho. E, por isso, recorre à prática de “xitique” e ao empréstimo a amigos e familiares para garantir pelo menos uma refeição por dia aos seus filhos.

O custo de vida está cada vez mais alto e esta é uma das coisas a que Manuel Bauque não se consegue ajustar. “Os preços dos produtos sobem quase sempre e é difícil viver desta maneira”, desabafa.

Bauque vive maritalmente há pouco mais de 10 anos. Arrenda uma casa de dois quartos a 700 meticais por mês no bairro de Albasine, na qual vive com a sua esposa, três filhos e um sobrinho.

O novo reajuste de salário, segundo Bauque, que lhe garante o montante mensal de 2.779,50 meticais, não terá nenhum impacto na sua situação financeira, pois continuará a contrair dívidas para sobreviver.

“Até agora o meu patrão ainda não aumentou o salário e nem sei se vai dar retroactivos”, diz e acrescenta: “Mesmo com esse aumento vou continuar a fazer dívidas e xitique para sustentar a minha família”.

Fazendo as contas, ele garante que, por dia, gasta mais do que ganha com o transporte – de casa para o posto de trabalho e vice-versa – e o dos seus filhos para a escola, e alimentação.

Aliás, dos 2550 meticais que ganha actualmente, 700 são para a renda de casa, aproximadamente mil meticais para o transporte e o remanescente destina-se à alimentação. “Estou a tentar construir a minha própria casa, mas as condições estão difíceis”, afirma.

Este dilema não é apenas de Manuel Bauque, é também de milhares de moçambicanos que ganham um a, mais ou menos, três salários mínimos. Apesar dos reajustes anuais que os salários vêm sofrendo, o aumento não tem efeito significativo no orçamento doméstico.

Os preços de produtos alimentares nos principais centros de comércio da cidade de Maputo continuam a aumentar. O quilograma de farinha de milho está a ser vendido a preços entre 30 e 32 meticais contra os 22 e 25 praticados há meses. O mesmo ocorre com os produtos como feijão manteiga, batata, açúcar, cebola, óleo alimentar e carapau, cujo preço também regista uma variação considerável.

Cesta magra

A batalha dos sindicatos é de ver ajustado o vencimento do empregado ao valor do cabaz mínimo de uma família-tipo em Moçambique composta por cinco pessoas, mas a mesma tem vindo a fracassar. A prova disso é que os novos salários mínimos continuam a estar aquém das expectativas dos trabalhadores, uma vez que estão muito abaixo da proposta dos sindicalistas.

O custo da cesta básica para o sustento de um agregado familiar composto por, pelo menos, cinco pessoas durante um mês, ronda os 7.243,75 meticais, segundo os cálculos da Organização dos Trabalhadores Moçambicanos – Central Sindical (OTM-CS), pondo de lado despesas com higiene, carne vermelha e entretenimento.

Além da cesta básica, os trabalhadores têm outras necessidades com a saúde, o vestuário, a educação, a água e a energia e, para fazer face à situação, grande parte opta pelo comércio informal. “Já estou a pensar em fazer um negócio. Quero abrir a minha barraca porque é impossível viver com o salário que eu ganho”, adianta Manuel Bauque.

O economista do Grupo Moçambicano da Dívida (GMD), Humberto Zaqueu, defende que o salário mínimo nacional deve cobrir as despesas do trabalhador de modo que ele tenha condições para contribuir para o progresso do país.

“Uma melhor solução não passa só pelo ajuste do salário mínimo, mas sim pela criação de um mecanismo que permita que a economia esteja acessível ao consumidor”, comenta.

A queda do poder de compra está também associada a uma desproporcionalidade entre o crescimento do salário mínimo e o crescimento do nível geral de preços dos produtos que compõem a cesta básica.

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