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Visita da Primeira-Dama paralisa serviços de saúde e educação na Manhiça

A Primeira-Dama e os seus assessores parecem não olhar a meios para obrigar as pessoas a fazerem-se presentes nos comícios que organizam sempre que ela visita um ponto do país, mesmo que para isso seja necessário interferir no funcionamento normal das instituições públicas.

Na semana passada, a esposa do Presidente da República, Maria da Luz Guebuza, esteve de visita ao distrito da Manhiça. Nada estranho, são fosse pelo facto de a sua passagem ter obrigado a que vários serviços, com destaque para os de saúde e educação, tivessem de ser encerrados por dois dias (quinta e sexta-feira).

Naquele distrito, docentes de escolas públicas receberam ordens para levar os seus alunos aos lugares onde iriam decorrer os comícios orientados pela Primeira-Dama, assim como apresentar diversas actividades culturais nos locais visitados.

Esta atitude é, no mínimo repugnável. Não se entende como é que um país cuja taxa de permanência de alunos na escola por ano é a mais baixa da região Austral de África e do mundo se dê ao luxo de interromper as aulas por dois dias para receber a esposa do Chefe de Estado.

Mas a paralisação não afectou somente a educação. As pessoas que tinham consultas marcadas nos serviços de fisioterapia, oftalmologia, pediatria, entre outros, não puderam ser atendidos nos dois dias, alegadamente porque os médicos tinham de estar concentrados na visita da Primeira-Dama.

Ou seja, naqueles dois dias antes valia ser visto pela esposa do Presidente da República que atender um paciente, que, devido à falta de cuidados médicos, podia perder a vida ou ver o seu estado de saúde deteriorar-se.

Assim, as consultas tiveram de ser remarcadas para a terça-feira desta semana. Refira-se que, por exemplo, os serviços de fisioterapia do Hospital Rural de Xinavane, que faz parte do distrito da Manhiça, só abre às sextas-feiras, o que significa que os pacientes viram a oportunidade de serem atendidos adiada por mais uma semana.

Com esta medida, os responsáveis pelos Serviços Distritais de Saúde vão contra os objectivos e políticas que passam por oferecer mais e melhores cuidados de saúde ao cidadão deste belo Moçambique, onde um médico está para 30 mil habitantes, contra os 1.000 recomendados pela Organização Mundial da Saúde.

Aliás, a Primeira-Dama é patrona de várias iniciativas ligadas à área da saúde, dentre as quais o Plano Global para a Eliminação de Novas Infecções, para além de ter sido reconhecida recentemente pelo seu contributo na luta contra os cancros da mama, próstata e do útero, daí que não se esperava que situações como as de Manhiça acontecessem.

Outros factos

Ainda durante a visita da Primeira-Dama à província de Maputo, o governo local, segundo o semanário Canal de Moçambique, teria exigido que os empresários contribuíssem para a logística, que só em alimentação estava orçada em mais de 126 mil meticais, o que é, no mínimo, estranho pois não é possível que o Executivo tenha agendado actividades sem condições para tal.

Na carta endereçada aos empresários, o secretário do Governo da Província de Maputo, Ali Chaucate, refere que “a província sentir-se-ia bastante honrada com a sua contribuição” para receber a esposa do Presidente da República.

“O secretariado da povoação de Djuba sentir-se-ia bastante honrado com a contribuição de V. Excia em apoiar na preparação do evento contribuindo com bens e valores monetários em conformidade com a lista de produtos necessários em anexo”, pode-se ler na carta.

Entretanto, da lista dos produtos necessários para a visita constavam cabeças de gado, frangos, arroz, farinha de milho, refrescos, caldos, até papel higiénico, entre outros.

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