Num passo significativo para o desenvolvimento de novos tratamentos contra o cancro, os cientistas descobriram como um vírus comum da constipação é capaz de matar tumores e desencadear uma reacção imunológica, assim como uma vacina, ao ser injectado na corrente sanguínea.
Os pesquisadores da Universidade de Leeds e do Instituto de Pesquisa do Cancro (ICR), ambos da Grã-Bretanha, disseram que, ao aproveitar as células sanguíneas, o vírus protegeu-se dos anticorpos que poderiam neutralizar as suas propriedades anti cancro.
A descoberta sugere que as terapias virais desse tipo, chamadas de reovírus, podem ser injectadas na corrente sanguínea durante as consultas ambulatoriais, como na quimioterapia comum, o que as torna potencialmente adequadas para tratar vários tipos de cancro.
O estudo, financiado em parte pela entidade beneficente Cancer Research UK, e conduzida em dez pacientes com cancro avançado do intestino, confirmou que os reovírus atacam em duas frentes, matando directamente as células cancerosas, e provocando uma reacção imunológica que ajuda a eliminar células tumorais remanescentes.
“Os tratamentos virais, como os reovírus, estão a mostrar uma promessa real em testes com pacientes. Esse estudo dá-nos a óptima notícia de que seria possível oferecer esses tratamentos com uma injecção simples na corrente sanguínea”, disse Kevin Harrington, do ICR, um dos coordenadores do trabalho publicado, Quarta-feira, na revista Science Translational Medicine.
Harrington disse que, se os tratamentos virais funcionassem apenas quando injectados directamente nos tumores, isso seria uma barreira significativa à sua aplicação mais ampla.
“Mas a descoberta de que eles podem aproveitar as células sanguíneas irá potencialmente torná-los relevantes para uma ampla gama de cancros”, acrescentou.
Os reovírus estão a ser pesquisados por várias equipes do mundo todo, por já terem demonstrado a capacidade de contaminar e matar células cancerosas sem afectar os tecidos normais.
“Parece que o reovírus é ainda mais inteligente do que pensávamos”, disse o pesquisador Alan Melcher, da Universidade de Leeds.
“Ao alojar-se nas células sanguíneas, o vírus está a conseguir esconder-se da reacção imunológica natural do organismo, e chegar intacto ao seu alvo. Isso poderia ser enormemente significativo para a absorção de terapias virais como esta na prática clínica.”
O cancro matou 7,6 milhões de pessoas no mundo em 2008, ano mais recente com dados disponibilizados pela Organização Mundial da Saúde. O número de casos de cancro deve crescer mais de 75 por cento no mundo até 2030.