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Vida nas nuvens

O novo serviço criado pela Apple promete consolidar de vez a era da computação livre de discos rígidos – e aumenta ainda mais a influência da empresa sobre os seus clientes.

Steve Jobs escapuliu-se de novo da sua licença médica para ditar mais uma nova onda do mercado da tecnologia. O detalhe é que o iCloud, principal lançamento anunciado pelo presidente da Apple na segunda-feira 6, não é exactamente novo.

O serviço, porém, chega para consolidar a tendência de os usuários confiarem às companhias de Internet o armazenamento dos seus arquivos, como milhões já fazem no Gmail, no Hotmail e no Facebook, por exemplo. É a chamada era da “computação na nuvem”, termo que compara a grande rede a um universo digital que paira sobre as nossas cabeças.

O atractivo agora é que os usuários terão uma plataforma de uso mais intuitivo e acessível em até dez aparelhos da Apple. A partir de Setembro, o iCloud funcionará da seguinte forma: o usuário – que não paga para armazenar até 5 gigabytes de arquivos – baixa uma música, filme ou documento no seu iPhone, iPad, iPod ou computador da linha Mac. Ele salva-o no iCloud e então pode acessá-lo em qualquer uma das máquinas quando estiver conectado à Internet.

“Se você disser aos consumidores que eles poderão ter acesso ao seu conteúdo em qualquer computador ou celular, todos entenderão na altura”, disse ao jornal inglês “Financial Times” Brian Hall, executivo da Microsoft.

Segundo ele, três itens são essenciais nesse tipo de serviço: facilitar a transferência de dados para a nuvem, a conexão com os demais serviços que o usuário utiliza e o acesso por meio de qualquer dispositivo – ninguém, diz Hall, chegou lá até o momento. Uma limitação para o iCloud é a necessidade de conexões velozes de Internet – o que, pelo menos em Moçambique, continua a ser quase uma utopia.

Corre-se o risco, também, de ter uma quantidade ainda maior de informações e arquivos pessoais acessada por hackers ou usada indevidamente pela própria Apple. Os atractivos, porém, ainda se sobrepõem aos riscos. No futuro, aliada a uma maior velocidade das conexões de Internet, a “nuvem” pode fazer com que os aparelhos se tornem cada vez menores, pois não precisarão de armazenar os dados em discos rígidos, como ocorre hoje.

Com o iCloud, a Apple usa ainda outra estratégia conhecida dos seus produtos anteriores: a sensação de fazer parte de um clube – já que a maioria das aplicações do serviço é exclusiva aos produtos da Apple.

O especialista em Apple e Microsoft da revista “Wired”, Brian Chen, resumiu da seguinte forma a estratégia, chamada por ele de “lock in” (fechada, numa tradução livre). Se você é um usuário do iPhone hoje, como poderá resistir a comprar um Mac ou iPad? Porque compraria um computador com Windows ou um tablet ou smartphone com Android (sistema operacional do Google)?

E se é um usuário do iCloud, porque usaria outros serviços de armazenamento na nuvem, como o Dropbox ou o Google Docs, se a tecnologia Apple reúne tudo de forma optimizada para si? “As novidades da Apple foram produzidas para fazer as pessoas se sentirem mal se elas não forem usuárias da marca”, resumiu Brian.

Com o iCloud, tudo o que o usuário salvar numa máquina da Apple estará automaticamente salvo em todas elas. Novamente, a ordem foi dada: concorrentes, à luta.

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