Para continuarmos  a fazer jornalismo independente dos políticos e da vontade dos anunciantes o @Verdade passou a ter um preço.

‘@Verdade : o jornal que os jovens africanos querem conhecer

'@Verdade : o jornal que os jovens africanos querem conhecer

O que há cinco anos era para muitos uma aventura de um jovem sem preparação, tornou-se, hoje, numa referência obrigatória na disseminação de informação para o povo: o jornal @Verdade. Trata-se de uma experiência única, não só em Moçambique, mas em toda África. Um jornal independente e com pouca publicidade é distribuído gratuitamente em quase todas as províncias do país.

Erik Charas, fundador e proprietário do semanário @Verdade, foi convidado pelo Parlamento Juvenil para falar sobre o “Acesso à informação, media sociais e prestação de contas: instrumentos de advocacia na posse dos agentes de mudança”. Coincidência ou não, o lema do @Verdade é: “o jornal que está a mudar Moçambique”. E está. Charas demonstrou isso com números. Há cinco anos, o Notícias, um jornal governamental tido como o de maior circulação, era lido por cerca de 100 mil moçambicanos, num país com cerca de 23 milhões de habitantes, dos quais perto de metade sabe ler e escrever.

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Ele disse que ficou chocado com a descoberta, mas não desesperou. “Decidi criar um mecanismo que levasse a informação ao povo”. Fê-lo não a troco de dinheiro, porque, justifica, a verdade não tem preço. “O jornal @Verdade veicula a verdade, não a verdade dos jornalistas que vivem na sombra do poder, mas a verdade do povo. Pois é o povo que faz o jornal”, afirma. Isso, disse, acontece através de ferramentas que vão desde as mensagens de texto de telemóvel até às redes sociais.

Com @Verdade nasceu o cidadão repórter. Ou seja, os leitores do @Verdade não são apenas leitores, mas também repórteres. Eles podem escrever para o jornal, a qualquer hora e a partir de qualquer lugar.

A história do @Verdade contada pelo seu maior entusiasta suscitou o interesse de muitos jovens delegados à conferência. A sessão foi rica em questões e o debate continuou por mais de uma hora fora da sala. Todos queriam saber de Eric Charas como foi possível criar algo tão fantástico e distribui-lo gratuitamente pelo povo.

“Criei um jornal de qualidade e gratuito para permitir que a maior parte das pessoas tenha acesso à informação. Decidi que fosse gratuito porque o custo de informação em Moçambique é de oito pães”, resposta profunda, dita de forma tão simples, como que a replicar a marca do jornal. Afinal, a mensagem deve chegar a todos. O custo unitário de jornais em Moçambique varia de 15 a 30 meticais. Muitos semanários independentes são vendidos a 30 meticais, quase um dólar norte-americano. Pode parecer pouco, mas não é. Sobretudo se tomarmos em consideração que quase metade da população moçambicana vive com menos de um dólar por dia. Trinta meticais são seis pães e seis pães podem constituir duas refeições em Moçambique.

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Compromisso com a verdade

O facto de o jornal ser gratuito não faz dele um pasquim. “O nosso compromisso é com a verdade. Existimos há cinco anos e continuamos a dar informação de qualidade ao povo”, disse.

O custo de acesso à informação priva muitas pessoas em África de ter notícias sobre o que acontece nos seus países, e não só. “As pessoas são mantidas nas trevas e não têm como aceder à informação sobre o que está a acontecer”, queixa-se. Muitos países africanos, Moçambique incluso, definem o acesso à informação como um direito constitucional. Mas constrangimentos de ordem económica privam milhares de pessoas do seu acesso. As rádios e televisões públicas, apesar de transmitirem em sinal aberto, não garantem um acesso universal. Há custos pelo meio, como a compra e manutenção de receptores, e a energia para mantê-los em funcionamento, o que muitas famílias não conseguem satisfazer.

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“Neste momento estamos a atingir perto de 630 mil pessoas. A nossa meta é, nas próximas eleições (autárquicas para 2013 e gerais para 2014), atingirmos toda a população eleitoral, estimada em cerca de nove milhões de moçambicanos”.

Para além das dificuldades económicas, há as políticas. “Em África apenas quatro países é que têm leis de acesso à informação”, diz Charas, destacando que o Quénia é dos países mais avançados na disponibilização de informação aos cidadãos.

Moçambique, apesar de ter uma lei de Imprensa muito elogiada, ainda não possui uma de acesso à informação. Existe um ante-projecto feito pela sociedade civil, mas há oito anos que não é discutido na Assembleia da República. “Temos de manter a Internet gratuita como a única ferramenta que vai garantir os nossos direitos e deveres”, exorta o fundador do @Verdade, o jornal que mais explora as novas tecnologias de informação no país.

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