A comissão mista incumbida de preparar o encontro entre o Presidente da República, Filipe Nyusi, e o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, com intuito de pôr fim ao conflito armado, prossegue indiferente ao sofrimento de centenas de moçambicanos. Recentemente, as negociações entre as delegações da Frelimo e da Renamo haviam sido interrompidas sem consenso. Pouco importa as razões por detrás de tal situação, até porque os moçambicanos já estão habituados a esse tipo de teatro protagonizado por actores amadores de muito mau gosto de sempre.
Na verdade, diante de tal situação é indiscutível que a comissão mista é exemplo mais bem acabado de um clube de amigos que se encontram esporadicamente para beber uns copos e colocar a conversa em dia, à custa do cadavérico dinheiro público, razão pela qual não se regista nenhum avanço nas negociações.
Aliás, as discussões de preparação do encontro prosseguem em silêncio – e em segredo. As duas delegações movimentam- se qual orquestra em que cada instrumentista toca uma música diferente, para defender os interesses dos seus partidos políticos – na sua maioria, não explicado -, ao invés de resguardarem os legítimos interesses de um povo que é forçado a viver à intempérie e sob constantes ataques armados.
De um lado, está a turma dos “camaradas” com aquele ar de meros empregados públicos cientificamente preparados para produzir um documento, escrito em um idioma parecido com o português para aldrabar incautos. Não estão dispostos a ceder e pregam fervorosamente que não são parte do problema que o país atravessa. Não falam nos aspectos que se podem alterar. Mas todo mundo – pelo menos todo o ser humano em seu juízo e que não escamoteia a realidade – sabe que o fim último é continuar a acomodar os interesses do partido Frelimo. Este grupo, na sua habitual chatice congénita, continua a demonstrar desprezo absoluto por alguns princípios básicos da democracia, valendo-se da maioria absoluta parlamentar. Prossegue indiferente ao eleitor, ao povo e à opinião pública.
Do outro, encontra-se a turma dos “odientos” que tem o (péssimo) hábito de jogar tudo na sua vingança, além de fingir que é oposição. Mas, desta vez, eles têm um motivo legítimo para as suas demonstrações recorrentes de ódio. Recusam-se a embarcar, qual bestas de carga, na trapaça habilmente orquestrada pelos “camaradas” – ou não fossem, estes, políticos profissionais que medram à custa do subdesenvolvimento espiritual e cultural de um povo ensinado a dizer “viva”.
Portanto, o final desta novela é previsível: protagonistas e figurantes a darem beijinhos uns aos outros, e não se vão lembrar de dezenas de moçambicanos que perderam a vida por conta da sua ganância.