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“Os grandes objectivos da época são consagrar-nos campeões e vencer a Taça de Moçambique” Artur Semedo

“Os grandes objectivos da época são consagrar-nos campeões e vencer a Taça de Moçambique” Artur Semedo

Foto de Adérito CaldeiraQuando faltam seis jornadas para o término do Moçambola de 2016 a União Desportiva de Songo, que já conquistou mais pontos do que o campeão da época passada, é a única equipa que apenas depende de si ficar com o troféu, inédito para a província de Tete. “Nós somos candidatos desde a primeira hora, os grandes objectivos da época são consagrar-nos campeões e vencer a Taça de Moçambique” assumiu Artur Semedo em entrevista ao @Verdade onde revelou que o principal adversário da sua equipa é “o sistema”. “Nós dependemos exclusivamente de nós, mas sabendo como é que as coisas funcionam não podemos achar-nos neste momento com o caminho facilitado, até porque a solidariedade entre os ferroviários (de Maputo, da Beira, de Nampula e de Nacala) em muitos momentos vai traduzir-se em algo de concreto”. Frontal e com pouca humildade o treinador afirmou que a União Desportiva de Songo “tem tudo para ser um grande clube, mas ainda não é”.

O @Verdade conversou com o experiente treinador moçambicano antes do empate conquistado no passado domingo(11) no estádio da Machava diante do Ferroviário de Maputo, o ainda campeão em título. Instado a apontar qual dos seus perseguidores(Chibuto FC, Ferroviário da Beira, Ferroviário de Nampula, Ferroviário de Maputo e Liga Desportiva de Maputo) mais lhe preocupa Artur Semedo afirmou que “em termos de valia das equipas não temo nenhuma, receio mais o sistema do que as equipas”.

“Nós dependemos exclusivamente de nós, mas sabendo como é que as coisas funcionam não podemos achar-nos neste momento com o caminho facilitado. Nós temos três ferroviários que seguem-nos na tabela classificativa, o que quer dizer que com o tipo de mentalidade que temos no nosso País pode haver solidariedade institucional, até porque esta solidariedade em muitos momentos ela vai traduzir-se em algo de concreto” declarou.

“Sempre foi assim, não é de hoje e será para sempre, enquanto coexistir este panorama, nós é que temos que ser extremamente competentes para podermos ser campeões este ano a começar pelo jogo de domingo (passado), onde eu não espero facilidades à semelhança do que aconteceu com o mesmo adversário nas últimas quatro jornadas. Nós se tivéssemos ganho esse jogo no estádio da Machava no ano passado claramente a nossa candidatura seria reforçada. Repare que mesmo com o campeonato que tivemos (perdendo quase todos os jogos fora), com os problemas internos mais do que os externos, a quatro jornadas do fim estávamos a lutar pelo título, isso é sintomático” explanou Semedo.

“Nós somos, entre as equipas candidatas ao título, a mais fustigada pelas viagens”

Foto de Eliseu PatifeA União Desportiva, que não perde para o Campeonato Nacional de futebol desde Julho quando foi a cidade da Beira perder com o Ferroviário local em partida da 14ª jornada, sofreu uma derrota na semana passada com o Costa do Sol em partida da 1ª mão das meias-finais da Taça de Moçambique. Perguntamos ao técnico se a sua equipa estará a acusar a pressão dos momentos decisivos da época. “É inegável que se sente, mas nós seremos um das equipas mais fustigadas deste campeonato. Nós para virmos jogar a quarta-feira com o Costa do Sol (para Taça) tivemos que nos levantar as 3h30 da madrugada, para apanharmos o avião cedo em Tete e nenhuma outra equipa passa por isto. E nós somos, entre as equipas candidatas ao título, a mais fustigada pelas viagens. Até para Nampula temos que vir a Maputo, naturalmente vimos a Maputo e só depois nos deslocamos às outras províncias”.

“Se fosse apenas o desgaste pelas horas dentro do avião até teríamos tempo para recuperar, o problema são horas de sono(jogadores são sujeitos a menos horas do que as necessárias nas vésperas da competição)”, acrescentou Artur Semedo indicando a má qualidade dos campos como outro factor negativo para a sua equipa. “O sintético do Costa do Sol novo já era mau, os sintéticos construídos no nosso País são de má qualidade”.

“Não são os árbitros, é um sistema desportivo”

Além disso “há estas adversidades inerentes à calendarização, as viagens”, lamentou o técnico que já foi campeão como treinador do Ferroviário de Maputo e da então Liga Muçulmana. “Saber-se que teríamos vários jogos durante um determinado período, esse ónus é arcado por quem: pelos clubes ou pela organização? Estamos a falar de que actividade? Os jogadores estão sujeitos a carga física e emocional muito grande, humanamente não é possível ter uma equipa de futebol a fazer dez jogos num mês, nem mesmos os profissionais de alto rendimento habituados a competições extremamente duras e rigorosas se submetem a uma actividade como esta (estou a falar do Manchester United e dos outros que disputam a Liga dos Campeões e depois têm campeonatos extremamente duros)” disse Semedo reagindo a posição da Liga de Clubes de futebol sobre os muitos jogos disputados num curto intervalo de tempo.

Foto de Eliseu Patife“A calendarização deve respeitar a princípios de integridade física e emocional dos atletas, que são os fazedores da modalidade, são os que cativam o público e os financiadores para que possamos ter uma competição apelativa e que se possa vender. Não quero responsabilizar apenas a Liga (de Clubes) por isto, pois tem que submeter-se a outras organizações acima, mas dar primazia a uma competição da COSAFA, como foi o caso, pondo em causa uma competição nacional é menosprezar a nossa competição. Provavelmente a Federação tire da COSAFA dividendos financeiros mas o que isso representa para os clubes, não é nada de substantivo”, aclarou o treinador.

Semedo tem sido um acérrimo crítico do futebol moçambicano mas principalmente dos seus fazedores. “Ser campeão, ser vice ou ser terceiro as diferenças são mínimas, ainda por cima num campeonato cuja verdade desportiva é escamoteada todos os dias. Hoje nós temos alguns poderes instalados no nosso sistema desportivo, de pessoas que são detentoras de poder e que manipulam os dados, usam da sua influência nos órgãos que superintendem o nosso futebol para de alguma forma desvirtuar a verdade desportiva”.

“Não são os árbitros, é um sistema desportivo” explicou o técnico, “Eu sei que esta verdade custa a ser entendida e aceite mas é uma verdade constatável todos os fins-de-semana”.

Nas 24 jornadas já disputadas a União Desportiva de Songo conquistou 49 pontos, mais 10 do que fez em toda época passada e mais 5 do que o campeão de 2015. “Nós no ano passado fomos fustigados pelas nossas circunstâncias internas mais do que pelas externas, as externas enfrento-as todos os anos por isso muitas vezes perdi muitos campeonatos e portanto com essas eu lido melhor. Agora as intrínsecas são muito mais complicadas, sobretudo para alguém que chega a um determinado meio e não conhece os mecanismos de funcionamento, não conhece a realidade em concreto, é difícil nos primeiros meses identificar os problemas e neutraliza-los” declarou Semedo.

“Mas a medida que o tempo foi passando fomo-nos apercebendo de quem na realidade mexe os cordelinhos e conseguimos de alguma forma, não vencemos, mas temos estado muito mais atentos e concentrados para atenuar este aspecto que já nos pôs em causa, mesmo esta época nalguns momentos pôs em causa a nossa prestação” acrescentou.

“Não é este futebol, com a qualidade que tem que pode prescindir dos meus serviços”

Foto de Eliseu PatifeO @Verdade recordou ao treinador que em certa altura do Moçambola de 2015 a sua saída foi noticiada, o que aconteceu quisemos saber? “Pode também soar a falta de humildade mas não é este futebol, com a qualidade que tem que pode prescindir dos meus serviços, seria até contrassenso que um clube que me contratasse para poucos meses, vislumbrando a qualidade do trabalho, pudesse questionar a competência do treinador. Na verdade não era este o problema”.

“O problema é que a antiga HCB e hoje União Desportiva de Songo é um clube que vive sempre em convulsão, é um clube apetecível para todas as pessoas. Toda gente (sócios do clube que são trabalhadores da Hidroeléctrica) quer ser dirigente da União e a única forma de conseguirem chegar esta posição é ponto em causa quem dirige o clube no momento, e a única forma visível e concreta é por em causa a equipa de futebol usando meios e modos muito subversivos para pôr em causa a estabilidade emocional dos jogadores. É um clube que dá margem para uma ascensão eventualmente social ou de outra natureza e por isso as pessoas provavelmente não têm a paciência de esperar que a “legislatura” termine e usam de meios subversivos para poder chegar ao resultado que desejam” revelou Artur Semedo.

Segundo o nosso entrevistado o problema “continua de novo, alguns focos pelo sucesso da equipa. Aquilo é um meio pequeno, as pessoas conhecem-se, lidam umas com as outras a anos, há ali uma cumplicidade entre algumas figuras que se destacam e o resto dos associados e por via disso há alguns que até se acham, ao longo destes anos todos desde a fundação do clube se sentem como detentores de alguma importância no clube e provavelmente mais donos que os outros”. “Mas tenho todo o apoio da direcção do clube, se não fosse esse apoio se calhar nesta altura já estaríamos numa fase de derrapagem porque se não houvesse este clima de solidariedade e de cumplicidade que existe entre as várias entidades do clube, dificilmente nós poderíamos manter durante tanto tempo o lugar que ocupamos”, explicou.

União Desportiva de Songo “tem tudo para ser um grande clube, mas ainda não é”

Foto de Eliseu PatifeSemedo aprofundou o motivo da troca de nome de HCB de Songo. “Sinto que na União Desportiva de Songo existe essa preocupação de dotar o clube de instrumentos para poder ser mais profissional, mais capaz, ter uma organização própria, o clube neste momento até conseguiu diversificar um bocadinho os seus raios de acção, estão se a criar condições para que o clube num futuro possa ele próprio criar fontes de rendimento para que possa ele próprio ser auto sustentável. É exactamente nesse sentido que houve a mudança de nome. Mas ainda assim há nós de estrangulamento, quer dizer que é preciso que as pessoas sejam menos individualistas e pensem na orgânica do clube”.

Todavia, segundo o treinador, “a ideia de clube ainda não está bem institucionalizada na região, na localidade, as pessoas provavelmente ainda estão a espera que se ganhe algo para que comecem a estabelecer vínculos de cumplicidade com o clube, provavelmente porque o clube também foi criado há pouco tempo e ter uma ligação durante muito tempo apenas com os associados que são funcionários da empresa (Hidroeléctrica) criou se calhar um desfasamento, isto é um processo que ainda está em curso para dar maior grandiosidade a todo este puzzle de relações que se estabelecem ali no clube, e acredito que estas são adversidades que temos que contar com elas. Mas jogamos em casa como se estivéssemos a jogar fora por exemplo. Esta relação do clube com os associados é algo fria, sinto que precisa de haver alguma cumplicidade que não há, como têm os outros clubes. Creio que por ser um clube ligado a empresa, por isso esta desvinculação parcial poderá absorver um universo maior de associados”.

“Este clube tem tudo para ser um grande clube, mas ainda não é. Falta muita coisa, precisa de reestruturar-se para de facto ser um clube profissional. Provavelmente o facto de eu estar lá induziu as pessoas nesse sentido, as pessoas perceberam a necessidade de edificar as estruturas do clube Acredito que as pessoas ainda espera um título para dotar o clube de condições substanciais para poder atacar coisas maiores” afirmou Artur Semedo.

Futuro na União Desportiva de Songo “não depende de ser campeão ou deixar de ser”

Foto de Adérito CaldeiraPara chegar ao título nacional de futebol a União Desportiva vai ainda defrontar o Ferroviário de Nampula (no Songo), o Estrela Vermelha (em Maputo), o Maxaquene (em Maputo), o Costa do Sol (em Maputo), o Ferroviário da Beira (no Songo) e o Ferroviário de Nacala (em Nacala), quisemos saber que estratégia tem o técnico delineada. “Basta que ganhemos o próximo jogo sem nos preocuparmos com quem nos segue” disparou sem hesitar.

O treinador e o goleador, Luís Miquissone, são as estrelas cintilantes da União Desportiva de Songo, @Verdade quis saber qual o segredo? “Competência do trabalho, qualidade de trabalho, o facto de nós nos preocuparmos com potenciar o valor dos jogadores, identificando claramente as metodologias para potenciar jogadores. Pode soar a falta de humildade mas a diferença é feita pelos treinadores de facto”, declarou Semedo.

@Verdade perguntou se está para ficar em Tete, “é um possibilidade continuar, mas ao contrário do que toda gente pensa, quem determina a minha vida sou eu e estender um vínculo não depende de ser campeão ou deixar de ser”, disse o treinador de 58 anos de idade.

“Alguns dirigentes prejudicaram-me noutros clubes onde estive antes, fizeram com que eu fosse campeão para me terem na época seguinte porque teria o prazer enorme de disputar as competições africanas, como se isso fosse algo de extraordinário. Há coisas bem mais importantes do que isso. Repare trabalhar em projectos, edificar um clube no sentido de ter uma formação decente isso é muito mais gratificante para mim do que disputar uma competição africana onde pelo histórico dos nossos clubes nós só ficamos uma ou duas eliminatórias, então qual é o interesse? Antes de ser sustentável não se chega lá”, rematou Artur Semedo.

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