Não consigo confirmar se esta frase é da escritora Agustina Bessa Luís, mas a verdade é que podíamos aplicar a mesma à peregrinação de Tico-Tico pelo Moçambola. A verdade é que, nos tempos que correm, ter o privilégio de ver actuar um jogador como Tico-Tico é um verdadeiro luxo.
Não só pela classe que demonstra em cada lance, mas pela qualidade que coloca em cada decisão e movimento. A inteligência do ‘filho pródigo’ não se manifesta só na qualidade das decisões que toma, mas na maneira como consegue “comprar” espaço e tempo no futebol actual. Valendo-se “apenas” de uma técnica sublime, sem ser poderoso fisicamente ou velocista, o número 10 do Desportivo não só consegue criar espaço para o seu futebol como ainda tem o desplante de cobrir os seus movimentos com a ilusão de que tudo o que faz é comum, marginal, ordinário…
Tico pisa o relvado com uma serenidade que ofende. Dá a ideia de que ele ouve Mucavel enquanto joga – será a balada para as minhas filhas? – e no tempo que sobra ouve Moreira Chonguiça. Os muitos golos que marca são apenas mais um detalhe, como os atilhos nas meias. Falar de Tico-Tico é sinónimo de sonhos, de imaginação, de criatividade e de arte! Do prazer que podemos encontrar no futebol. Quando desfila pelos ‘relvados’, parece que o faz em câmara lenta num gesto de generosidade.
A sua personalidade, de tão nobre e clássica, não lhe permitiu ser irreverente o suficiente para ser imortal, para ser um deus, tão-pouco um génio. Um génio a sério, não como aqueles que aparecem todos os dias… Mas permitiu ao futebol tornarse um lugar mais belo…