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‘@verdade cor de rosa – Moçambique tá nice!

O primeiro contacto começa com um estágio profissional, uma viagem de férias, visita a um familiar que já não se vê “há anos”, ou uma proposta mais arrojada de emprego. As questões sobre África começam aí. Vai-se à consulta do viajante e é-nos aconselhada uma farmacopeia imensa para que nos possamos proteger das doenças! Dizem-nos também que não devemos beber água sem ser engarrafada, evitar as saladas e tudo o que esteja fresco porque “a cólera mata”.

O “Mephaquin”, contra a malária, passa a ser o nosso melhor amigo mesmo antes de aterrar. Depois, dias antes da viagem, vem aquele friozinho na barriga de como será viajar dez horas de distância e descobrir o paraíso perdido que sempre ouvimos falar através de familiares, do vizinho do lado, do pai da namorada que esteve na “guerra do Ultramar” e da amiga que “se passou” ao nadar com tubarões baleia. É um misto de curiosidade e medo, já que os relatos vão-se cruzando entre si e não sabemos bem o que vamos encontrar. “Como é que eu vou para África, se vejo tanta pobreza na TV?”

Ah pois é! Esqueci-me de referir a media – principal líder de opinião – que ainda nos desenha África numa tela, sempre a preto e branco, como se estivéssemos nos anos 80. No “Google Map” já estou em Moçambique e aterro num aeroporto “diferente” onde tenho de andar a pé para chegar ao edifício principal, os carrinhos de bagagem estão perros mas até acho graça. Os senhores que se oferecem para carregar as malas e facilitar o acesso ao “Visto” são muitos e não sei o que dizer. Normalmente estou habituado aos funcionários do aeroporto da minha terra, que até não são nada simpáticos e quase que nos atiram com o carro à frente porque a “pressa” é muita. Chego à migração, fazem-me simples perguntas e digo que estou cá de férias. Cito um nome de um hotel e – por 30 dias – “tasse bem”.

Entretanto já passaram 90 dias e continuo aqui! Não estou a aguentar com o calor do Verão e a passagem de ano na Ponta foi “maningue nice” já arrasto o calão moçambicano e o “kanimambo” substitui o “obrigado”. Estou a colaborar com uma empresa, uma vez que a minha licenciatura faz de mim o melhor do pedaço num país em “crescimento”. Bem dizia o meu tio “vai para África, rapaz! No meu tempo vivia numa casa na Pinheiro Chagas – a actual Eduardo Mondlane – e olha que o Cavaco também lá andou”. Só não me explicou que África é um continente com vários países, assim como a Europa, ‘tás a ver’. Acho que toda a gente fala crioulo e brinco com os miúdos de rua que se riem quando pergunto “a bô sta sabe?”. Não penso muito em largar os mil euros de Lisboa para mergulhar nos dólares africanos.

Troco o trânsito infernal por um mergulho no “Naval”. Esqueço-me do meu carro pequenino – que aqui se chama “turismo” – e compro uma “fobana” – 4×4. Já não tenho de esperar pela ‘D. Amélia’ que me engoma a roupa uma vez por semana, pois tenho a ‘Zuleica’ que cobra muito menos e trabalha 30 dias.’ Tá animar aqui. Já conheço três países em África, já que as idas à fronteira são constantes e ver leões hoje em dia já é para todos. Está tudo tão perfeito que não posso aceitar que, a partir de 12 de Julho de 2010, tenha de desembolsar 24.000 meticais para ter “direito” à vida que tenho. Como é que possível ser aprovada uma lei tão absurda, já que estou aqui a cooperar? Como é que é aceitável que me obriguem a pagar 400 euros em comparação com os 3000 que ganho para poder continuar a ajudar?

 É que no meu país nós ajudamos. Criamos pré-fabricados para os habitantes da Cova da Moura e eles lá estão a cantar Rap. Temos esse espírito desde sempre e até falamos a mesma língua ao contrário dos sul-africanos que só estão aqui a explorar. Será que os chineses pagam o mesmo? Esses são aos magotes! Estou indignado. Estas são as reacções à nova lei que entrou em vigor dia 1 de Julho, referente à taxa cobrada para pedir um DIRE – Documento de Identificação de Residente Estrangeiro. Um valor elevado para quem decidiu escolher Moçambique para viver. Mesmo assim considero desproporcionais os comentários que tenho ouvido acerca da mesma, uma vez que se tornam uma “vuvuzela” sensaborona baseada em uma suposta cooperação bilateral que não coincide com a realidade.

Acho justo que se ajustem os valores (desculpem a redundância), mas não consigo aceitar que se elevem palavras diplomáticas para retorquir o mesmo. * Continuo para a semana. Entretanto, Warethwa! Um bem-haja.

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