O planeta Vénus passou lentamente diante do Sol, na noite da Terça-feira para Quarta-feira, no último trânsito desse tipo a ser visível na Terra nos próximos 105 anos.
Os trânsitos de Vénus ocorrem aos pares, com oito anos de intervalo, e mais de um século entre os ciclos.
O fenómeno da Terça-feira, em que Vénus foi visto como um pontinho preto a cruzar lentamente o hemisfério norte do Sol, começou às 19h09 da Terça-feira e durou seis horas e 40 minutos, completando o ciclo iniciado em 2004.
Os astrónomos amadores puderam observar o trânsito pela Internet, com dezenas de sites a oferecerem imagens ao vivo do mundo todo.
O fenómeno foi acompanhado por entusiastas em sete continentes, inclusive a Antártida, e até a bordo da Estação Espacial Internacional. “Faz tempo que estou a planear isso”, disse o engenheiro de voo Don Pettit em entrevista para a Nasa.
“Eu sabia que o trânsito de Vénus aconteceria durante o meu turno, então trouxe um filtro solar comigo.” E o evento não se resume a belas fotos. Várias experiências científicas estavam planeadas, inclusive estudos que ajudarão na busca por planetas habitáveis além da Terra.
Isso porque essa busca é feita quando os planetas extrassolares passam diante das suas estrelas, como Vénus diante do Sol.
O trânsito desta semana foi uma oportunidade de mensurar a densa atmosfera venusiana, e os dados serão usados no desenvolvimento de técnicas para a mensuração de atmosferas de outros planetas.
As pesquisas também podem revelar por que a Terra e Vénus, que têm quase o mesmo tamanho e orbitam a quase a mesma distância em relação ao Sol, são tão diferentes.
Vénus tem uma atmosfera sufocante, cem vezes mais espessa que a nossa, e quase toda composta por dióxido de carbono, um gás do efeito estufa que eleva a temperatura de lá a quase 500ºC.
Enormes nuvens de ácido sulfúrico deslocam-se a 30 quilómetros por hora, causando tempestades ácidas.
“Vénus é conhecida como a deusa do amor, mas não é o tipo de relação que irias querer”, disse um astrónomo no site Slooh.com, que transmitiu o fenómeno. “É um tipo de relação ‘olhe, mas não toque’.”
Os cientistas querem saber mais sobre o clima venusiano na esperança de que isso permita entender melhor as mudanças na atmosfera terrestre.
Durante trânsitos anteriores de Vénus, os cientistas puderam calcular o tamanho do Sistema Solar e a distância entre o Sol e os seus planetas.
O trânsito da Terça-feira foi apenas o oitavo desde a invenção do telescópio, e será o último até 10/11 de Dezembro de 2117.
Esse foi também o primeiro trânsito ocorrido na presença de uma sonda terrestre em Vénus.
As observações da sonda europeia Express serão comparadas às dos vários telescópios terrestres e espaciais.
