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Venda de combustível lenhoso: Um negócio que se pode tornar um hobby

Venda de combustível lenhoso: Um negócio que se pode tornar um hobby

Praticado maioritariamente por mulheres, o negócio de venda de carvão vegetal é uma das alternativas que alguns moçambicanos encontraram como estratégia de sobrevivência para fortalecer a sua participação na economia familiar. Porém, para as pessoas que há anos se dedicam a esta actividade econ ómica, o mesmo tornou-se uma mera “ocupação”, uma vez que deixou de ser rentável.

Marcelina Macamo, de 49 anos de idade, sete dos quais dedicando-se à venda de carvão vegetal no Mercado Janet, é o rosto visível de uma mulher que viu naquela actividade económica uma fonte de rendimento familiar, o que lhe permite, simultaneamente, a inserção no sistema do mercado informal.

Vivendo maritalmente, Marcelina comenta que começou a praticar este negócio como forma de reforçar o salário mensal do seu esposo que, segundo as suas próprias palavras, não chegava para o suprimento das necessidades da família, como a aquisição de bens alimentares e pagamento de serviços, designadamente saúde e educação dos cinco filhos.

Se antigamente o negócio ia de vento em popa, não se pode dizer o mesmo hoje, visto que tem vindo a registar momentos nada agradáveis. Porque, primeiro, o seu marido ficou impossibilitado de trabalhar e, segundo, investe muito dinheiro na actividade e, no final do dia, não se vê o retorno. “Não ganhamos quase nada, só não deixo de fazer este negócio porque não sei fazer outra coisa. Já estou habituada a fazer isso”, diz.

Em média, Marcelina compra 500 sacos de carvão vegetal ao preço de 190 meticais cada no local de produção para depois os revender a 500. Mas quem pensa que ela, assim como tantos outros vendedores do mesmo ramo, obtém de lucro 310 meticais por cada saco que vende, engana-se pois, para além do custo de aquisição daquele produto, paga pelo transporte de cada saco 160 meticais, o indivíduo que coloca no camião cobra 15 por saco, o que procede o descarregamento – isso já no mercado – exige também o mesmo valor e o saco vazio é adquirido a 30 meticais. A esse gasto agregam-se também as despesas relacionadas com a sua deslocação à zona de produção de carvão, Mabalane, no valor de 100 meticais e o pagamento ao município a quantia de 1. 50MT por cada saco, além da taxa diária de permanência naquele mercado (6 meticais).

Ao todo, Marcelina Macamo despende 206030 meticais para aquisição de 500 sacos de carvão vegetal, o que, após a venda, supostamente, obteria 250 mil meticais. Mas, segundo a nossa interlocutora, nunca chegou a ter em mãos aquele montante porque, do dinheiro que amealha da venda de cada saco, tem de retirar algum para as necessidades básicas da sua família.

“É impossível ter esse dinheiro de uma só vez porque por cada saco que vendo retiro algum dinheiro para comprar comida. E, como deve saber, o preço dos alimentos está sempre a subir”, comenta acrescentando que “é graças ao xitique que mantenho o negócio”.

Já Angelina Mangue, de 65 anos de idade, diz que, actualmente, se dedica à comercialização de carvão vegetal para se manter ocupada, pois os filhos garantem o seu sustento. “Os meus filhos já me pediram várias vezes para parar de vender carvão. Eu faço isso para não ficar em casa sem fazer nada. Também não os quero incomodar quando eu precisar de comprar capulanas”, diz.

Mas nem sempre foi assim. Angelina conta que começou a exercer aquela actividade em 1979 por necessidade de sobrevivência, ou seja, de sustentar os seus oito filhos logo após a morte do seu marido. Começou por vender carvão em sacos, mas hoje por força da idade e a pedido dos filhos, opta por comprar apenas um saco para comercializar em quantidades reduzidas (latas) ao preço que varia entre 10 e 140 meticais. “Não estou preocupado com o lucro, não controlo o dinheiro que obtenho na venda de um saco, apenas vendo por vender”, diz a terminar.

Gilda Maússe, de 58 anos deidade, é também uma das mulheres para quem vender carvão vegetal foi a única solução que encontrou para ganhar o sustento da sua família. “O meu marido abandonou-me e foi viver com outra mulher. Como tinha de sustentar os meus filhos, comecei a vender carvão, uma actividade que o meu ex-marido já desenvolvia”, conta.

Mas hoje a situação mudou: “consegui construir a minha casa, pus os meus filhos a estudar e hoje eles já estão crescidos e ajudam-me nas despesas da casa”. Gilda comprava 100 sacos de carvão vegetal, mas actualmente opta por adquirir metade porque não vê o retorno do dinheiro investido naquele negócio. “Faço outro negócio que me ajuda a viver. Vendo laranjas, bananas e tomate e faço xitique. Continuo a vender carvão porque gosto deste trabalho, apesar de não dar lucros”, comenta.

Para as comerciantes de carvão, é difícil conseguir juntar grandes somas de dinheiro com esta actividade devido à demora na venda de todo o carvão adquirido, uma vez que maior parte do dinheiro amealhado é usado diariamente para as necessidades da família, o que dificulta a poupança.

Constrangimentos

As actividades informais tornaram-se um campo fértil em que a maioria das mulheres a viver na zona urbana obtêm algum rendimento, o que lhes permitindo satisfazer as suas (e das respectivas famílias) necessidades de consumo e económicas.

Para fazer face ao dia-a-dia, grande parte opta pelas mais variadas actividades, sendo a comercialização de carvão vegetal uma delas. Geralmente, comercializado em sacos correspondentes a 50 quilogramas, cujo peso varia entre 30 a 40 quilos, e também em quantidades mais reduzidas, o carvão vegetal é desde sempre a fonte de subsitência e de energia de grande parte dos moçambicanos. Porém, os comerciantes daquele produto reportam que enfrentam alguns contragimentos na sua actividade, como é o caso da falta de acesso ao crédito para aquisição de carvão e de espaço para o seu armazenamento no período chuvoso.

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