O Governo de Moçambique decidiu massificar a conversão de viaturas movidas a gasolina e diesel para o uso de gás natural comprimido como forma de reduzir a dependência do país aos combustíveis fosseis importados, bem como ajudar a combater as alterações climáticas.
Nesse contexto, em 2008, o Executivo comprometeu-se a converter 10 por cento das viaturas do Estado para passarem a mover-se a gás natural, uma meta que está longe de ser cumprida. Aliás, o próprio Ministério da Energia, responsável por implementar esta medida, só conseguiu converter duas viaturas. De 2008 a esta parte, em todo o país foram convertidos 150 veículos, sendo a maior parte mini-buses.
Só a província de Maputo e a cidade capital moçambicana tem um universo de cerca de 200 mil viaturas. Em Moçambique, a Autogás é a única empresa que converte veículos para funcionarem a gás. Esta empresa conta com apenas três instalações de conversão e dois pontos de reabastecimento, todos em Maputo e na cidade vizinha de Matola. A empresa quer expandir as suas instalações.
Porém, tal expansão só é viável financeiramente se mais veículos forem convertidos para funcionarem a gás. Entretanto, a adesão à conversão não ocorre conforme o desejado devido aos custos da mesma, que são elevados. A conversão de um carro familiar custa cerca de 36 mil Meticais e a de um veículo como um Range Rover ou mini-bus custa quase 45 mil meticais.
O Ministro da Energia, Salvador Namburete, reconhece que os custos são proibitivos e considera que não existe nenhum incentivo para persuadir as pessoas a converterem os seus veículos, tendo revelado que o Governo está a estudar a questão, concretamente, maneiras de subsidiar os custos de conversão. “Temos uma estratégia clara de priorizar nossas próprias fontes de energia, e que inclui o gás natural”, salientou Namburete, acrescentando que “mas isso não é um processo de curto prazo”.
Namburete, que falava, em Maputo, na última quarta-feira, durante o seminário sobre o uso do gás natural em automóveis e seu impacto sobre a poluição, salientou que o uso de gás natural é vantajoso para Moçambique, sobretudo por se tratar de um produto moçambicano e como tal sofre menor pressão das variações do preço do petróleo no mercado internacional. Na ocasião, Namburete advertiu que a tendência futura é de provável aumento contínuo de preço de petróleo e seus derivados no mercado.
“É uma ilusão pensar que os preços dos combustíveis vão cair novamente”, advertiu. Por seu turno, o Presidente do Conselho de Administração da Autogás, o ex-Ministro da Indústria, Octávio Muthemba, apontou que o preço actual de um equivalente de litro de gás natural comprimido é 13.85 meticais, quando um litro de diesel custa 30.98 meticais e um litro de gasolina 37.02 meticais. Estes números mostram claramente que o gás é quase 66 por cento mais barato que a gasolina, para além de ser muito menos nocivo para o ambiente do que a gasolina ou diesel.
A monitoria da poluição em cidades de vários países do mundo como a Argentina, China e Índia demonstraram ganhos consideráveis na qualidade do ar após a introdução dos veículos movidos a gasolina. O uso do gás natural reduz as emissões de monóxido de carbono em 99 por cento, de óxido de azoto em 94 por cento, de hidrocarbonetos em 82 por cento e de dióxido de carbono em 15 por cento dos veículos.
O director executivo, João das Neves, observou que, se pelo menos 50 autocarros funcionassem a gás, em vez de combustíveis líquidos importados, Moçambique pouparia 1.5 milhão de dólares por ano. “O custo do transporte público seria menos susceptível a oscilações dos preços internacionais do petróleo”, disse.
O processo de conversão de viaturas para o uso de gás natural está a ser afectado por alguns receios relacionados com alegada periculosidade deste produto. Neves explicou que estes receios são infundados. Na verdade, o ponto de auto-ignição de gás (580 graus centígrados) é muito maior do que de gasolina ou diesel (280 e 210 graus, respectivamente). Um carro movido a gás envolvido em acidente não se incendeia, em vez disso, se os cilindros de gás romperem, o gás, que é mais leve que o ar, simplesmente dissipase na atmosfera, o que é diferente de derramamentos de gasolina ou diesel, que têm um potencial sério para poluir o solo ou a água.
Neves apontou outro aspecto de segurança que é importante para o bolso dos consumidores, que está relacionado ao roubo da gasolina ou diesel em carros estacionados, o que já não ocorre com o gás. Por sua vez, o Professor universitário, António Matos, advertiu, na ocasião, que a idade do petróleo está chegando ao fim. Ele prevê que dentro de 50 anos não haverá mais petróleo no mundo.
Assim, ele considera o gás natural uma alternativa segura durante a transição para combustíveis de hidrogénio. O gás usado é retirado em Pande e Temane, na província meridional de Inhambane, recurso que está a ser explorado pela petroquímica sul-africana Sasol.