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União dos moçambicanos pode estancar a caça furtiva

União dos moçambicanos pode estancar a caça furtiva

Mais de mil pessoas, entre ambientalistas, desportistas, músicos, organizações da sociedade civil e não-governamentais, estudantes universitários, individualidades, parceiros do Governo, entre outros singulares, marcharam na manhã do último sábado (04) em algumas das principais avenidas da capital de Moçambique, com o objectivo de influenciar os moçambicanos a lutarem pela mesma causa, através do reforço da vigilância e protecção de elefantes e rinocerontes.

Sob o lema ” Nós somos contra a caça furtiva e tu?” a marcha organizada pelo ambientalista moçambicano Carlos Serra começou às 10horas defronte da Faculdade de Direito da Universidade Eduardo Mondlane (UEM) e foi antecedida dos discursos na presença de uma dezena de agentes da Polícia de Protecção e Trânsito cuja missão era garantir a segurança dos marchantes. A marcha começou na Avenida Kenneth Kaunda, seguiu pelas avenidas Kim Il Sung, Mao-Tse-Tung, Julius Nyerere, Frederich Engels, Marginal e desaguou na Avenida 10 de Novembro, local da concentração.

Empunhando cartazes tais como “Eu tenho direito à vida”, “Denuncie a venda de marfim”, “Juntos contra a caça furtiva”, “Queremos rinocerontes em Moçambique”, “O meu futuro está nas tuas mãos”, “Não mate os animais”, entre outros, os participantes no evento, do qual faziam parte crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos, uniram-se pela mesma causa para protestar contra a disfuncionalidade das políticas de protecção daquelas espécies.

O coordenador do evento, Carlos Serra, disse, minutos antes do início da caminhada, que os moçambicanos devem estar unidos em prol da preservação de rinocerontes e elefantes, porque eles constituem um dos principais catalisadores da economia nacional e das receitas da actividade turística.

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Apesar de a marcha acontecer numa altura em que a situação dos elefantes e rinocerontes é considerada crítica, devido ao abate desenfreado protagonizado por caçadores ilegais, o evento foi de festa e marcado por cantos ao som da trombeta, do saxofone, dos batuques e de apitos.

Para além da exposição de rinocerontes e elefantes feitos de papelão, um grupo de ciclistas e motociclistas, praticantes de capoeira e promotores de outras manifestações culturais juntou-se para dizer “não ao abate indiscriminado de elefantes e rinocerontes”. Na Avenida 10 de Novembro, Carlos Serra mostrou-se satisfeito com a participação das pessoas na marcha.

Segundo ele, isso provou que os moçambicanos estão conscientes do perigo que representa a extinção daquelas espécies, o que pode transformar negativamente o ambiente das zonas de conservação e biodiversidade. Segundo o mentor da manifestação, a marcha não era um simples passeio, mas, sim, uma resposta dos moçambicanos ao chamamento para a luta pela preservação do elefante e rinoceronte.

Deve-se eliminar a comercialização do marfim e do corno de rinoceronte

O embaixador dos Estados Unidos da América em Moçambique, Douglas Griffths, disse que o globo deve unir-se para estancar este mal, através da eliminação da compra do marfim e dos chifres do rinoceronte no mercado negro, principalmente os grandes países que adquirirem aquele produto para a produção de bugigangas e aplicação na medicina.

“Os Estados Unidos da América deixaram de comprar marfim e cornos de rinoceronte, com vista a desencorajar a caça furtiva”, sustentou Griffths. Cada ser humano tem a responsabilidade de proteger a biodiversidade e o meio ambiente. Para ele, os diversos países do planeta devem pôr fim à venda de marfim e de cornos.

Deve apostar-se numa luta conjunta entre os diversos actores da sociedade, exortou Griffths. Além do fortalecimento do sistema de controlo nas zonas de protecção, nos aeroportos e noutros lugares de trânsito, é necessário criar outras oportunidades de subsistência nas proximidades do lugar onde vivem os animais, para reduzir a participação dos moçambicanos na caça furtiva.

O desaparecimento de animais pode transformar o ecossistema, uma vez que reduz o volume de plantas usadas por outras espécies para a sua alimentação e deprecia a qualidade dos lagos, garantiu o embaixador. Não existe uma receita mágica para combater a caça furtiva, mas é necessário que se definam acções conjuntas entre os Estados para abortar a boa organização da rede furtiva, concluiu Griffths.

Falta vontade política para se estancar caça ilegal

Por sua vez, o coordenador para a área de Energia e Desenvolvimento Sustentável na organização ambiental Livaningo, Domigos Pangueia, disse que a incidência da caça furtiva em Moçambique, no continente africano e no mundo é uma ameaça ao ecossistema e exige a adopção de mecanismos de segurança e protecção mais eficazes, devendo-se criar incentivos para os fiscalizadores das zonas de conservação, através da melhoria das condições de trabalho, aumento do salário e purificação das forças de defesa e segurança, que são os principais facilitadores do abate ilegal.

A falta de vontade política, aliada ao reduzido número de fiscais, faz com que estes sejam facilmente corrompidos e sejam os principais factores que concorrem para a proliferação da caça furtiva em Moçambique, terminou Pangueia.

Alberto Mendes, estudante de veterinária, disse que não se pode proteger as espécies animais enquanto as políticas, estratégias e planos de conservação continuarem disfuncionais, por falta em parte da falta de domínio daqueles instrumentos. Ele sublinhou que não são as políticas que estão desajustadas mas as pessoas responsáveis pela sua implementação, que passam por cima do que está regulamentado a fim de obterem benefícios pessoais.

Governo ausente da marcha

“Mesmo com o desinteresse do Governo para pôr termo à proliferação acentuada da caça furtiva, todos nós presentes na marcha continuaremos a lutar contra a descriminação das espécies animais, deficientes condições de trabalho na área da fiscalização, através da intensificação da pressão contra quem de direito, para que respeite e valorize todos intervenientes nas zonas de conservação e biodiversidade”, disse ainda Serra.

Para ele, a ausência do Governo testemunha a falta de vontade de maximizar o combate à caça ilegal, de introduzir meios eficientes e eficazes de proteger os animais e de contornar a marginalização dos guardas florestais, que estão voltados ao abandono, por causa do mísero salário de que usufruem.

“A ausência do Governo na marcha não põe em causa o objectivo pelo qual foi traçado, antes pelo contrário, fortalece os moçambicanos para que se engajem mais na protecção de elefantes e rinocerontes”, revelou Serra.

“Se nós queremos combater a pobreza junto às populações que vivem nas áreas de conservação, está na hora de mostrarmos que no nosso país não se vive da caça furtiva, pois somos contra esse mal”, concluiu Serra. Os organizadores destacam que a marcha foi a melhor forma de sensibilizar as pessoas sobre o perigo que a caça furtiva representa e, desta forma, retrair a perpetuação desse fenómeno.

Dados indicam que a crescente procura de marfim e de corno de rinoceronte para o mercado asiático, casos da China e do Vietname, está na origem do aumento exponencial do fenómeno da caça furtiva em Moçambique. Na década de 70 existiam cerca de 50 mil elefantes em Moçambique, mas o número reduziu, actualmente, para menos de metade, e os rinocerontes estão prestes a extinguir-se.

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