Ao contrário de indivíduos que optam pela delinquência devido à falta de emprego, há cidadãos que, de maneira incansável, procuram formas honestas para garantir o sustento das suas respectivas famílias. Manuel Zuela, de 44 anos de idade, pertence a este último grupo. Morador do bairro de Napakala, ele dedica-se à venda de fores no cemitério de São João de Brito desde a sua adolescência.
Quando Manuel Zuela abraçou a actividade, logo após a morte do seu pai, ele tinha como objectivo preparar-se para o futuro e enfrentar a vida. Há mais de 20 anos que sobrevive da venda de flores no cemitério São João de Brito, arredores da cidade de Nampula. Com o dinheiro que amealhou durante os últimos anos, Zuela construiu a sua habitação, além de assegurar o sustento diário do seu agregado familiar.
Nos finais dos anos ’90, ele começou a trabalhar para um cidadão de origem portuguesa, que é proprietário de uma pequena empresa que se dedica à venda de flores no portão do cemitério. Na época, Zuela ganhava 300 meticais no fim de cada mês. Ele conta que o seu salário era insignificante para o esforço que despendia todos os dias. “Com os 300 meticais, eu não conseguia fazer nada porque, além de ser encarregado de educação de cinco crianças, sou chefe de família”, diz.
Devido à distância que separava a sua moradia do seu posto de trabalho, ele chegava a gastar, com o transporte, pouco mais de 300 meticais mensalmente. Apesar do sofrimento, Zuela exercia a sua actividade com dedicação e amor. Mas os seus amigos aconselhavam-no constantemente a optar por um outro emprego, pois eles consideravam que vender flores no cemitério era algo deplorável. Por amor ao seu labor, ele não desistiu da actividade.
“A partir daquele momento, comecei a perceber que o meu salário era um autêntico roubo. Por dia, em média, eu conseguia vender flores no valor de mil meticais, mas no fim do mês ganhava apenas 300 meticais”, afirma Zuela.
“Decidi ser patrão de mim mesmo”
Nos meados de 2005, o vendedor decidiu abrir o seu próprio negócio. “Decidi ser patrão de mim mesmo. Plantei algumas flores e passei a vendê-las na porta do cemitério”, conta.
Embora a ideia fosse contrária à do seu patrão, Zuela não teve receio de apresentar ao seu chefe os planos que tinha em vista. Volvidos seis meses, ele materializou o projecto de criação de uma empresa de venda de flores. Presentemente, o nosso interlocutor, apesar de não se sentir realizado, diz que é um pequeno empresário de sucesso, uma vez que conseguiu materializar o que sempre idealizou, designadamente o plantio e a venda de flores naturais nos cemitérios da cidade.
“Neste momento, o meu sonho é ter trabalhadores e ser o maior fornecedor de flores para as cerimónias fúnebres, porque sinto que é que tenho vocação para o efeito”, garante. Nesta nova fase, o negócio passou a ser mais rendoso, visto que, diariamente, de segunda a sexta-feira, Zuela amealha, no mínimo, 150 meticais. Nos fins-de-semana, sobretudo aos sábados e domingos, ele chega a ganhar cerca de 500 meticais.
As conquistas
Movido pela sua força de vontade, Manuel Zuela conseguiu, com a ajuda dos seus filhos e da esposa, criar um viveiro de plantas, sendo, assim, um dos principais floristas da cidade de Nampula. Ele conquistou o mercado e, presentemente, é conhecido como principal fornecedor de flores nesta urbe. Consta no rol das suas realizações a compra de uma motorizada e uma bicicleta que o ajudam a percorrer longas distâncias para fazer a entrega de flores aos seus clientes. Refira-se que Zuela está a formar os seus filhos com vista a aprenderem o ofício.
“Somos confundidos com os ladrões de flores aqui no cemitério”
Nos últimos tempos, são reportados casos de roubo de flores naquele cemitério. Segundo Manuel Zuela, há cidadãos, na sua maioria jovens, que na calada da noite saltam o muro de vedação do cemitério e roubam as plantas, tanto naturais assim como artificiais. “Esses gatunos apropriam-se de flores e vão vendê-las na feira dominical e, por sua vez, quando os familiares dos falecidos visitam as campas e não as encontram, eles acusam-nos de roubar e revender”, lamenta.
Em conversa com o @Verdade, um dos guardas daquele cemitério revelou que, só no ano de 2013, pouco mais de uma dezena de jovens foi surpreendida a tentar roubar flores naquele sepulcrário. Mas quando são encaminhados para o posto policial mais próximo, por sinal o da zona da Cavalaria no bairro de Carrupeia, os gatunos são libertados. Consta ainda que os vigilantes são desprovidos de qualquer material para a sua auto-defesa, daí que, facilmente, os larápios entram, roubam e põem-se em fuga.