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Um retrato nu do abuso (sexual) de menores

Além dos defeitos que caracterizam a primeira produção cinematográfica de um realizador, no filme O Muro da Vida – apresentado no sábado passado, 27 de Abril, no Cine Teatro Scala, em Maputo – faz-se um retrato nu da violência doméstica, com enfoque para o abuso sexual da rapariga. A ser factual a prostituição que as imagens, captadas nos bairros de Hulene e Mavalane, mostram, uma pergunta impõe-se. Será que o prostíbulo é o único destino para quem é órfã?

Como uma produção audiovisual, O Muro da Vida, como se chama o filme de António Simião Maxlhaieie, reúne todas as condições para deixar uma pessoa pouco entendida em matéria do cinema constrangida. O produtor, realizador e actor (na mesma obra) explorou todos os recursos de que dispunha (a música, como um elemento estético, a frieza do pai ao abusar sexualmente a enteada, por exemplo) em excesso.

As cenas decorrem em dois espaços essenciais, a casa da família em torno da qual os factos desenrolam e as barracas que infestam o subúrbio de Maputo, confundindo-se com os prostíbulos. É entre a actriz Arlete Guilhermino (a mãe), que é uma viúva do seu primeiro marido, vivendo maritalmente com Alfredo Goenha (Gerónimo, o prevaricador), Penina Sumbi (Márcia, a abusada) e António Maxlhaieie (Jorge) – os enteados de Gerónimo – que as peripécias decorrem.

Na verdade, há no filme um marido e padrasto que não cuida da sua família, muito em particular da sua mulher doentia. O filho mais velho (Jorge) é um desempregado. Por isso, não pode ajudar em nada no tratamento da enfermidade da mãe. Como é que um homem pode permitir que a sua família experimente necessidades básicas e não fazer nada – ainda que tenha condições para o efeito?

Como é que este mesmo pai, ao desamparar os seus filhos, pode ter a coragem de desperdiçar dinheiro embebedando-se nas barracas? Como é que ele – agindo contra todos os princípios morais e direitos humanos – pode ter apetites sexuais em relação à sua própria filha e abusá-la?

Se é que um dia o leitor, ao informar-se sobre a ocorrência de violação sexual de mulheres na imprensa, não encontrou respostas para estas questões, pois O Muro da Vida não as oferece. Apenas mostra a realidade.

Ou seja, o homem sentiu-se sexualmente atraído pela filha. Planeou abusá-la e, em função disso, nada fez para retardar a morte da esposa. Por essa razão, algum tempo depois da morte da sua mulher, Gerónimo violou sexualmente a sua filha.

A ocorrência origina uma tragédia no seio do lar, uma vez que o personagem Jorge (ao chegar à casa, onde deu conta da ocorrência) agride o padrasto até à morte.

Entretanto, se por um lado a exploração excessiva da música (que sob o ponto de vista temático se harmoniza à história) prejudica o filme, confundindo-o com um videoclipe, por outro, a frieza da forma como a violação dos direitos sexuais da mulher aí exposta chama a atenção das pessoas sobre a repugnância dessa prática.

Quando a prostituição se torna opção

Antes de morrer, a mãe de Márcia, que mais tarde é abusada pelo pai, recomendou- lhe que cuidasse da irmã mais nova. Tal significava que, nas condições sociais precárias em que se encontrava, devia criar mecanismos para que ambas continuassem a estudar.

É por essa razão que, em jeito de resumo, os produtores do filme explicam: “Ela torna-se a responsável absoluta da sua irmã mais nova muito cedo. Afinal, na vida acredita-se que promessa é divida. Por isso, em cumprimento do pacto feito com a mãe, Márcia, uma jovem de 18 anos de idade, sem nenhuma forma formação profissional, refugia-se na prostituição a fim de cumprir o prometido”.

Mais um cineasta

Sobre a sua introdução no mundo da sétima arte, António Simião Maxlhaieie, o produtor e realizador de O Muro da Vida, explica que “após a minha participação no filme CHIKWEMBO do cineasta moçambicano Júlio Silva, como protagonista, optei por fazer o Curso Intermédio Audiovisual e Cinema ministrado no Instituto Superior de Artes e Cultura (ISArC)”.

“Também escrevi e realizei o filme de curta-metragem, com duração de três minutos e intitulado Tarde Demais. Algum tempo depois, resolvi encarar o desafio de escrever, produzir e realizar O Muro da Vida a fim de expressar o meu ponto de vista em relação à prostituição e ao abuso sexual”.

Entretanto, “como além da prostituição o filme narra a violência doméstica e sexual, entendemos que ele pode contribuir para a mobilização social com vista à divulgação e promoção dos direitos humanos”.

Refira-se que Fernando Nhampulo é co-realizador do filme em que o actor Alfredo Goenha foi guionista. Outros actores que participam são Redimaldo Sumbi e Maria Clotilde. O Muro da Vida foi realizado pela Femax Produções.

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