Para continuarmos  a fazer jornalismo independente dos políticos e da vontade dos anunciantes o @Verdade passou a ter um preço.

Conheça o candidato do partido Frelimo à edil de Inhambane: Benedito Guimino

Conheça o candidato do partido Frelimo à edil de Inhambane: Benedito Guimino

Na história do país, muitos jovens conseguiram fintar a pobreza e conquistar um lugar de destaque na sociedade moçambicana. Mas nem todos chegaram ao topo por mérito e sem dever favores a ninguém. Por isso mesmo, é de espantar a trajectória de Benedito Guimino. Basta olhar para as suas conquistas para ter a dimensão da sua figura. No dia 18 de Abril vai enfrentar a maior batalha da sua vida…

Suceder ao falecido edil de Inhambane, Lourenço Macul, o mais carismático e popular da história do município, é, sem dúvida, um grande desafio. Mas o professor galardoado uma vez como melhor gestor nacional de infra-estruturas escolares não costuma recuar diante de obstáculos. Ao contrário, o que mais emociona Benedito Guimino são os exemplos de superação diante das difi culdades da vida. Aliás, a sua infânciafoi marcada por inúmeros obstáculos.

Gumino nasceu no distrito da Maxixe (hoje é um município) em 1970. Um ano depois da independência, em ’76, ingressou no ensino primário na sua terra natal. O rapaz que foi praticamente criado pela mãe (o pai morreu ainda na sua infância) teve de apostar nos estudos para fugir da pobreza. Com esse espírito concluiu com sucesso o ensino primário em 1980.

No ano seguinte, em ’81, entrou na Escola Secundária da Maxixe. Cinco anos depois saiu com o diploma da nona classe debaixo do braço. Sem escolas para continuar o ensino no seu local de nascimento, Benedito Guimino cruzou os limites de Maxixe para proseguir os estudos. O destino foi a Escola Pré-universitária de Machicoloane, na província de Gaza de onde saiu em 1989 com a 11a classe feita.

Infância complicada

Aos 27 anos, em 1997, concluiu a licenciatura em Química na Faculdade de Ciências da Universidade Eduardo Mondlane. Apesar do brilhante percurso académico, a vida de Guimino não foi um mar de rosas. Perdeu o pai em 1978, quando ainda frequentava o ensino primário. “A vida não foi fácil”, refere.

“A minha mãe era camponesa. Vivia do que a terra dava. O nosso pai era a única pessoa que colocava dinheiro em casa.”

Num agregado de oito pessoas, a solução passou pela interrupção dos estudos do irmão mais velho de Guimino. “O meu irmão deixou de estudar e foi dar aulas para ajudar a nossa mãe nas contas da casa”, conta. Porém, tal solução foi sol de pouca dura, mas desta feita não foi uma morte que retirou o sustento da família. Foi o chamamento da defesa da pátria por via do serviço militar que afastou o Guimino mais velho para longe dos seus.

Nessa altura, outro irmão do actual candidato ao município de Inhambane foi fazer o curso de professores em Homoíne e devolveu o equilíbrio à família. Mas foi por pouco tempo. Em ’85 deixou de trabalhar. Nesse ano, Benedito Guimino frequentava a oitava classe. Na verdade, o agregado familiar nunca teve problemas de comida. A necessidade de ter algum dinheiro derivava de uma outra: material escolar.

Oriundo de uma família de agricultores, foi na terra que Guimino encontrou recursos para não parar de estudar. A mãe produzia mandioca, feijão e maçoraca, mas os Guimino tinham algumas áreas com cajueiros e coqueiros. Efectivamente, o comércio da castanha de caju e da copra permitiu que nem Guimino, nem os irmãos que lhe seguiam interrompessem os estudos.

Quando concluiu a nova classe teve de atravessar as fronteiras da província de Inhambane. Foi viver mais a sul, em Gaza. Só assim pôde continuar na escola. No que diz respeito aos estudos, pelas limitações do pós-independência e da guerra dos 16 anos, a formação de Guimino terminou no província mais a sul de Moçambique: Maputo.

Hoje, sente orgulho da sua trajectória. Sobretudo, porque “formei-me com esforço próprio e da minha mãe”. É, por isso, que diz com orgulho: “não devemos favores a ninguém”. “Entre seis irmãos (um faleceu) há cinco licenciados e a mais nova caminha para o mesmo fim”, acrescenta.

{youtube}atahp3IM2pk{/youtube}

Vida familiar

No que diz respeito à vida conjugal, Guimino é a antítese do moçambicano comum. Casou, para os padrões nacionais, muito tarde. Mas isso tem uma explicação: “Durante o meu percurso estudantil não quis casar. Não queria levar alguém para não conseguir sustentar.”

Efectivamente, começou a namorar seriamente com 30 anos. Um ano depois fez o lobolo para se casar oficialmente em 2007. Dessa relação nasceram três fi lhos. Duas meninas e um rapaz. Desses apenas dois têm idade para frequentar o ensino primário. O rapaz anda na sexta-classe e a menina na segunda.

Percurso profissional

Pouco antes de terminar a sua formação superior, foi trabalhar para o Ministério da Saúde, concretamente no Gabinete Nacional de Controlo de Qualidade de Medicamentos. “Desempenhava a função de analista de medicamentos”. Na verdade, a sua função era testar medicamentos para avaliar a sua qualidade antes que estes entrassem no mercado. “Mas isso não era só com os produtos que eram importados. Mesmo os que estavam em circulação no Sistema Nacional de Saúde tinham de ser testados”, explica.

Nas noites trocava a bata de químico pela de docente e leccionava no Instituto de Saúde de Maputo. Essa relação com a Saúde durou apenas quatro anos, pois em 2000 foi à Zâmbia fazer um curso de controlo de qualidade industrial.

No regresso, ainda no mesmo ano, foi trabalhar para a província de Nampula, na fábrica da Coca-Cola. O trabalho não mudou muito, apenas o objecto de análise. Em Maputo eram medicamentos e na capital do norte passaram a ser refrigerantes. Não gostou da experiência e rescindiu o contrato passados nove meses.

Regresso a Inhambane

Quando o ano de 2000 corria para o seu término, Guimo regressou ao local onde nasceu, mas desta vez mudou de margem. Em vez de ficar do lado onde veio ao mundo em 1970 foi para a cidade de Inhambane. No ano seguinte, foi afecto como professor na Escola Secundária Emília Daússe de Inhambane.

Em 2003 recebeu o primeiro prémio de melhor professor daquele estabelecimento de ensino. O feito repetiu-se nos dois anos seguintes: 2004 e 2005. Na sequência disso foi nomeado director da Escola Secundária de Muelé, instituição na qual trabalhou de 2006 a 2012.

Conta, com algum orgulho à mistura, que o seu percurso como director escolar foi marcado pelo êxito. O ponto mais alto do mesmo, diz, foi o Prémio Nacional de Conservação de Infra-estruturas Escolares conquistado em 2011. Lembra, também, que ao nível da província de Inhambane alcançou o mesmo.

 

Visão para Inhambane

“O meu sonho é tornar Inhambane uma cidade moderna. Com ruas asfaltadas, com água canalizada para todos, postos de saúde, salas de aula apetrechadas”, diz. Mas diante do nosso silêncio justifica: “dito assim podem parecer poucas coisas, mas essas são os alicerces de uma sociedade mais justa”.

No que diz respeito aos desafi os para construir tal sociedade, Guimino afirma que, acima de tudo, “é preciso ouvir a população para tomar grandes decisões”. Sem, contudo, descurar que há desafios que estão na sua manga. “Julgo que são prioritários porque surgem das conversas dos munícipes”.

Um exemplo claro, diz, é o arruamento dos bairros de Inhambane por um lado e, por outro, o ordenamento territorial. Sem ser menos importante, mas para encarar numa outra perspectiva, Guimino aponta o abastecimento de água e a distribuição de energia. Como não podia deixar de ser, apetrechar as escolas é outra prioridade.

O desemprego, diz Guimino, é um dos grandes problemas do município de Inhambane. O candidato pela Frelimo tem a consciência disso pelo facto de ter sido director de uma escola. “Em Muelé graduávamos qualquer coisa como 700 alunos e, desses, poucos ingressavam no ensino superior. Essa situação acabou por colocar muitos jovens no desemprego. Um mal que temos de combater”.

De que forma? “Repare que o novo currículo foi concebido para que o estudante tenha noções de agropecuária e empreendedorismo. Portanto, é preciso criar projectos que apoiem os estudantes financeiramente para a geração de rendimentos e de mais emprego”.

Criar ruas: uma medida (im)popular

Guimino tem consciência de que a criação de ruas pode ser uma medida impopular, mas não pensa em adiar para um outro mandato tal prioridade. Até porque “acredito que é possível fazer e que a população tem consciência de que precisa de ruas”.

Contudo, “é preciso conversar com as pessoas e explicar a importância de uma bairro com acessos”. Aliás, “não se constrói desenvolvimento sem acessos. A energia precisa de acessos, a água também e até material de construção”.

Portanto, “essas necessidades vão tornar a população receptiva às mudanças para o bem de todos”. Ainda assim, “há pessoas que vão maldizer eventuais mudanças. Mas são necessárias”.

Na verdade, a superação de difi culdade é um traço marcante na vida de Benedito Guimino, que completou 41 anos no dia 19 de Janeiro. Filho de um professor, foi camponês, estudante, professor e sobreviveu à pobreza com abnegação e sacrifício. Conseguiu deixar Maxixe e, hoje, é candidato a edil de Inhambane.

O que espera para o futuro? Guimino bate três vezes no tampo da mesinha e responde: “Macul deixou um legado muito grande e eu vou passá-lo para a frente. Independentemente de quem vencer as eleições estamos a construir tudo para que Inhambane cresça de forma segura e sustentável”.

{youtube}DbHKIeHoIvI{/youtube}

Perfil

1976/1980 concluiu o ensino primário na Escola Primária de Maxixe

1981/1986 concluiu o ensino básico (9a classe do antigo sistema) na Escola Secundária de Maxixe

1987/1989 concluiu o ensino pré-universitário na Escola Secundária de Machicoloane, em Gaza.

1990/1997 fez a licenciatura em Química na Faculdade de Ciências da Universidade Eduardo Mondlane

1996/2000 técnico de análise de medicamentos no Gabinete Nacional de Controlo de Qualidade

2000 técnico de análise de qualidade na Coca-Cola, em Nampula

2001/2005 professor de Química na Escola Secundária Emília Daússe

2006/2012 Director da Escola Secundária de Muelé

Facebook
Twitter
LinkedIn
Pinterest

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Related Posts

error: Content is protected !!