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Um espectáculo para esquecer

Um espectáculo para esquecer

Tendo como figuras de cartaz a cantora angolana Gizela da Silva e os moçambicanos Valdemiro José e Miss Zav, o espectáculo de música realizado no passado Sábado (23 de Julho), no Pavilhão de Desportos, na cidade de Nampula, não cabe em nenhum rótulo. Mas, apesar de ser um eufemismo, pode-se dizer que foi um verdadeiro fiasco, de bradar aos céus.

Eis a perfeita receita de como fazer um espectáculo desorganizado. Pede-se um patrocínio à mcel e à Coca-Cola, ‘importa-se’ um músico de um país qualquer, de preferência Angola, e pega-se em dois artistas nacionais, sobretudo residentes na cidade de Maputo (têm de ser de ambos os sexos). Arranja-se um espaço – quanto maior for, melhor – e uma qualquer aparelhagem de som, desde que faça (muito) barulho ou apenas ruído, tanto faz.

Cobre-se na bilheteira 250 meticais por pessoa, e adicione- -se umas gotas, quanto baste, de brutalidade dos agentes da PRM. Serve-se a uma temperatura (artisticamente) fria. Aliás, não se esqueça dos aperitivos: cantores amadores locais.

Quem estava à espera de um concerto honesto, memorável e com tudo no lugar, então pagou caro, pois só assistiu a um evento deprimente, um verdadeiro fiasco. Foi uma decepção e uma aposta arriscada.

Diga-se, a desilusão foi dupla: não só não se conseguiu oferecer ao público um espectáculo digno como se alienou um pouco mais de 500 pessoas – muito abaixo da capacidade do recinto – sedentas de diversão na cidade de Nampula.

Aliás, o que se sucedeu no passado Sábado (23), no Pavilhão de Desportos, em Nampula, não foi mais do que uma espécie do resultado da receita de como criar um péssimo (leia-se, desalinhado) espectáculo musical que, à falta de melhor – e opção, também –, nos sentimos obrigados a assistir, até porque este tipo acontecimento é raro nesta urbe.

O fracasso começa no cumprimento de horário. O show teve um atraso de cortar a respiração. Previsto para iniciar às 21h00, só começou por volta da meia-noite. Primeiro, comojá é da praxe, subiram ao palco os músicos locais que, a todo custo, tentavam disfarçar a má qualidade do som. O ruído da aparelhagem não permitia ouvir a música, ofuscava a voz dos artistas que, a dado momento, dava a impressão de estarem a murmurar.Do lado de fora do pavilhão era o único lugar no qual se ouvia perfeitamente a voz dos artistas.

Com um público apático, os músicos locais apresentavam- -se no seu melhor, apesar das dificuldades de se fazerem ouvir. Mas a falta de talento era deveras visível. Para salvar a honra dos artistas da casa, subiu ao palco Puto Nico que, embora fosse impossível perceber as músicas que cantava, se mostrou comunicativo com os espectadores.

Com o seu sucesso musical “Emuali”, tema que o levou à ribalta na capital do norte, Puto Nico arrancou efusivos aplausos e assobios da plateia, embora a melodia fosse quebrada pela má qualidade do som.

Mas o público, inebriado pela música (Pandza, com uma mistura de ritmos do norte, cantada em Emacua) e, diga-se, também pelo álcool, ignorou o ruído (irritante) da aparelhagem e mostrou conhecer muito bem a letra daquela canção. Vibrou a cada momento. Foi o artista local mais aplaudido da noite.

Puto Nico deixou o palco. Fez-se um compasso de espera de aproximadamente meia hora. Enquanto se aguardava pela subida do músico seguinte, uma das figuras de cartaz, ao palco, o DJ entretinha o público.

Mais tarde, o animador da “festa” anunciou a entrada do músico moçambicano Valdemiro José, ou simplesmente VJ como é tratado, que foi recebido com calorosos aplausos e assobios à mistura.

VJ mostrou que ainda preserva algum pudor e respeito pelos espectadores – e os seus fãs – que adquiriram o bilhete para o ver cantar. O músico começou por pedir desculpa pelo atraso e foi sacudindo a água do capote. “Desculpa pelo atraso, meu povo. Isto não tem nada a ver connosco, os músicos, é por culpa da própria organização”, disse.

Valdemiro apresentou-se descontraído, embora não no estilo habitual: acompanhado por uma banda. Com um repertório honesto e sem nenhuma novidade, VJ galvanizou as atenções do público. Abriu a sua apresentação com o tema “Saudades”, e os espectadores cantaram o sucesso com o artista. Mostrava-se sempre comunicativo com a plateia.

Dentre outros temas, VJ cantou “Striptease”, “Papá Muroga”, interpretou “Xiripo” de Madala, mas foi com o êxito “Se casar mal”, uma espécie de auto-retrato, que o músico deixou o pavilhão em ebulição, vibrando com o sucesso, e revelando que ainda dispõe de uma legião de admiradores por esta cidade. Despediu-se, agradeceu pela paciência do público, tendo prometido voltar brevemente.

Verificou-se mais uma demorada pausa. A segunda figura de noite, a cantora Miss Zav, ou simplesmente Zav, subiu ao palco e recebeu merecidos aplausos. Ela apresentou um repertório constituído por quatro composições que fazem dela uma artista. Esteve perto do seu público, mas nem por isso conseguia disfarçar o seu desagrado em relação à má qualidade da aparelhagem que falhava constantemente.

A cantora protagonizou a actuação menos interessante. Mas mostrou grande qualidade nos passos voluptuosos e conseguiu manter o ambiente de agitação e emoção já criado pelo colega que lhe antecedeu.

Para fechar o show, a responsabilidade ficou para a tão aguardada cantora angolana, Gizela da Silva. A artista subiu ao palco e levantou a plateia com alguns passos de Kuduro e Semba à mistura. Ela apresentou-se com os seus maiores sucessos já conhecidos pelo público de Nampula.

Quando a artista angolana começou a cantar o seu êxito “Azar”, os agentes da PRM entraram em acção, criando uma confusão entre os espectadores que queriam ver de perto a cantora. “Isto é azar! Por favor, deixem-me terminar o show”, implorava Gizela da Silva. Mas foi com o tema “Vou xinguilar” que encerrou um espectáculo que não deve ser lembrado.

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