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Um banco de sementes para a população de Imala

Um banco de sementes para a população de Imala

A vida no povoado de Ilache, a 20 quilómetros do posto administrativo de Imala, no distrito de Muecate, em Nampula, não será a mesma. Numa iniciativa ímpar, um grupo de camponeses uniu-se em benefício da sua comunidade, criando um banco que, por via de crédito, disponibilizará à população local sementes agrícolas. Para a materialização da ideia, os associados contam com quatro silos e, com o provável aumento da produção, esperam ainda construir mais.

A associação dos camponeses 12 de Janeiro é um bom exemplo em matéria de associativismo e de como a agricultura familiar pode ser transformada de forma estratégica e inovadora numa actividade de subsistência, sem se perder a sua essência, criando benefícios não apenas económicos como sociais para uma determinada comunidade. Mas antes de reportar o sucesso deste grupo de produtores, é necessário contar uma história.

Durante muito tempo, um grupo de pequenos agricultores de Ilache, no posto administrativo de Imala, no distrito de Muecate, na província nortenha de Nampula, dedicava-se apenas à agricultura familiar. Com uma enxada de cabo curto e sem nenhum apoio técnico, os camponeses limitavam-se a produzir para o sustento diário dos seus respectivos agregados familiares. Nessa altura, eles cultivavam, principalmente, mandioca, milho, tomate e amendoim.

À mercê de todas as adversidades, os camponeses, por sinal moradores do mesmo povoado, conseguiam apenas tirar das suas machambas o suficiente para alimentar a família, porém, a grande dificuldade era obter sementes para a época seguinte de plantio. Sem dinheiro ou alternativa, a cada ano que passava a produção minguava e o seu campo agrícola contava com menos culturas. Ou seja, se na época passada o agricultor produzia milho e feijão, na outra campanha só podia contar com apenas uma cultura.

Porém, com o andar do tempo, os pequenos produtores tiveram a ideia de se unirem de modo a potenciar os residentes de Ilache no que respeita à produção agrícola. Em 2007, criaram a Associação 12 de Janeiro, mas, somente no ano de 2009 é que iniciaram as suas actividades laborais. Desde então nunca mais pararam.

Presentemente, a associação conta com 15 membros, 10 do sexo masculino e os restantes cinco do feminino. No princípio, os integrantes do grupo produziam apenas gergelim e hortícolas e, mais tarde, passaram a dedicar-se à criação de frangos. Com o rendimento resultante da comercialização dos excedentes, investiram na construção de um aviário e um alpendre que servia de armazém para guardar as sementes. Como, segundo reza o adágio popular, “não há bela sem senão”, os seus produtos eram atacados por ratos.

Nem toda a produção estava virada para a comercialização. Os camponeses, usando o método de financiamento bancário em que o devedor amortiza a dívida com uma taxa de juro, disponibilizavam as sementes aos membros da sua comunidade a título de empréstimo. “O produtor leva por emprestado uma lata, por exemplo, de milho e devolve uma lata e meia. Esta foi a forma que encontrámos para ajudar a população. Além disso, antigamente, as pessoas produziam e tudo acabava por se perder, uma vez que não tinham como guardar”, explica Cristóvão Loja, presidente da Associação 12 de Janeiro.

No entanto, com o apoio material, técnico e moral de uma organização não governamental denominada por Visão Mundial – Moçambique, os camponeses de Ilache dispõem de quatro silos com capacidade para armazenar perto de 350 quilogramas de sementes cada um. Os depósitos serão usados para conservar culturas como amendoim, milho, feijão e mapira.

O objectivo da associação é criar um banco de sementes de modo a mudar a vida da população local. Os agricultores estão a ser capacitados em toda a cadeia de valores, ou seja, desde a produção, selecção, processamento até à comercialização do produto. “Temos vindo a aprender como tratar a semente para armazenar e vender”, diz Loja para depois acrescentar que o grupo de camponeses pretende produzir milho num campo de dois a três hectares nas próximas épocas.

Na sequência do sucesso do projecto ou do aumento da produção, está em vista a construção de mais silos naquele ponto do país. “Já aprendemos a construir silos graças à Visão Mundial. Na próxima vez, iremos edificar os nossos depósitos pessoalmente”, garante o presidente da associação dos camponeses de Ilache. Os lucros, por assim dizer, do banco de sementes serão usados em benefício dos membros da Associação 12 de Janeiro, nos casos de doenças, falecimentos e outras situações adversas, e da comunidade no geral. Diga-se de passagem, com o rendimento vão melhorar as suas habitações, além de apoiarem as crianças do povoado na compra de material escolar.

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