Pelo menos três manifestantes foram mortos pela polícia anti motim num protesto contra o regime na Praça Pérola, em Manamá, capital do Bahrein, onde a elite governante sunita enfrenta a mais grave contestação no país desde a década de 1990. “Isto é uma guerra de aniquilação. Isto não acontece nem sequer em guerras e não é aceitável. Eu vi-os disparar munições reais, bem à frente dos meus olhos”, criticou um dos líderes do principal partido xiita, o Wefaq, cujos 18 representantes no Parlamento (de 40 deputados) se demitiram há cerca de três semanas, logo após as primeiras acções de repressão das autoridades.
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Além de dispersar violentamente os manifestantes da praça central da capital, as tropas estão numa operação de “limpeza” em todo o país, bloqueando estradas e ruas, para impedir manifestações e a deter ou disparar a tiro contra quem tente passar estas barreiras, avançou ainda Abdel Jalil Khalil, citado pela agência noticiosa Reuters.
Abdel Jalil Khalil relatou a ocorrência de cinco mortos na acção de repressão na Praça Pérola, mas outra fonte da oposição veio mais tarde corrigir aquele balanço para três mortos. Entretanto, um médico em Manama apontou à Reuters ter visto pelo menos dois civis e dois polícias mortos em resultado dos confrontos.
Testemunhas relatam que a polícia entrou pouco após o nascer do dia com tanques armados na Praça Pérola para dispersar os manifestantes que ali se mantinham acampados e barricados há várias semanas, tendo recorrido ao uso de gás lacrimogéneo, ao mesmo tempo que a zona era sobrevoada por helicópteros. Os manifestantes responderam lançado coktails molotov contra as forças de segurança.
São registados também mais de 200 feridos nesta operação das autoridades, que terá durado cerca de duas horas, os quais estão a ser assistidos em mesquitas ou nas casas de moradores da capital, tendo a polícia cercado todos os acessos ao hospital de Salmaniya, não permitindo a entrada nem saída de ninguém do local – é avançado pela correspondente da BBC em Manamá.
Já após a polícia ter dispersado os manifestantes da Praça Pérola, um responsável do Ministério da Defesa avisou, em discurso transmitido pela televisão estatal, que não eram autorizadas nenhumas reuniões públicas no país, justificando-o com a “segurança pública”. A mesma fonte confirmou que as autoridades tinham afastado os manifestantes e desmontado as tendas montadas tanto da praça central da capital como dos arredores do hospital.
Há registo também de que soldados, com espingardas semi automáticas e envergando máscaras negras, bloquearam várias estradas com ligação à área de Sitra, maioritariamente xiita, onde as ruas estão desertas e as lojas fechadas, de acordo com testemunhas locais. “Ouvem-se tiros a serem disparados, aqui perto e longe. Não são apenas disparados para o ar, isto é guerra urbana”, avaliava um residente da zona de Budaya, no Noroeste do Bahrein. A mesma fonte avançou que as tropas bloquearam três pontes que ligam ao aeroporto da região.
A situação no país – que se agrava há mais de um mês com um balanço total já de perto de pelo menos dez mortos – agudizou-se no início desta semana com a entrada no Bahrein, a pedido das autoridades, de cerca de mil soldados sauditas integrados numa missão do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG, bloco regional que integra a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos, o Kuwait, Qatar e Omã, além do Bahrein).
Esta medida foi justificada pelo Governo com a necessidade de “proteger instalações estratégicas” (complexos petrolíferos e gasíferos e instituições financeiras) de eventuais invasões ou ataques dos manifestantes. Ontem, o rei Hamad bin Issa al-Khalifa decretara o estado de emergência no país por um período de três meses.
A oposição no país, com uma população de 525 mil pessoas e maioritariamente xiita, acusa a elite governadora sunita de discriminação e exige o fortalecimento de poderes do Parlamento e uma reforma do Governo assim como da lei eleitoral.