Parte da população da província de Niassa, Norte de Moçambique, queixou-se hoje ao Presidente Armando Guebuza pelo facto de o sector de transportes continuar a ser um dos principais entraves ao plano local de combate a pobreza.
Este facto foi levantado por alguns populares durante um comício orientado por Guebuza, na sede do distrito de Lichinga, Chimbonila, uma hora depois de ter iniciado uma visita de trabalho de cinco dias a Niassa, no âmbito da sua presidência aberta e inclusiva que anualmente ele realiza a todas as 11 províncias moçambicanas.
Um residente de Chimbonila disse que o comboio não se desloca regularmente a Niassa o que dificulta a disponibilização de insumos para a agricultura, que é um dos sectores chave que salvaguarda a vida nesta província, a mais extensa mas também a menos habitada do país. Com efeito, a circulação do comboio entre a cidade de Cuamba, a segunda maior do Niassa, e a respectiva capital, Lichinga, reiniciou em 2005, depois de uma longa interrupção. Como que a secundar a reclamação da população, o Governador desta província,
Arnaldo Bimbe, explicou, perante o Presidente da República, que em todo o ano de 2008 o comboio chegou a Lichinga apenas 34 vezes. No primeiro trimestre de 2009, o comboio chegou a Lichinga apenas quatro vezes. Antes do conflito armado que opôs as forças governamentais e a Renamo, então movimento rebelde e hoje o maior partido da oposição em Moçambique, Lichinga recebia um comboio por dia e, na pior das hipóteses, de dois em dois dias.
Porém, devido à guerra de 16 anos, a circulação de comboios naquela linha foi interrompida, já que a linha ficou praticamente degradada. A AIM entrevistou alguns residentes de Chimbonila que, regra geral, referiram que “o comboio devia, no mínimo, chegar a Lichinga uma vez por mês”. Moisés Chiburre disse a AIM que a irregularidade do movimento ferroviário e a acentuada degradação das vias rodoviárias constituem, na sua óptica, a principal causa do elevado custo dos produtos da primeira necessidade, principalmente nas regiões mais a Norte da província. “Esta é uma extensa província com grande potencial agrícola mas, porque as vias de acesso são problemáticas, nem os insumos agrícolas chegam aonde eles tanta falta dão”, disse ele, secundando um dos populares que foi ao pódio, durante o comício, e se queixou das consequências negativas da inoperância das vias de acesso para a economia desta província.
Contudo, para o Governador de Niassa, o facto de o comboio ter recomeçado a ligação entre Cuamba e Lichinga contribuiu, durante o quinquénio prestes a terminar, para a melhoria do transporte de mercadorias e consequentemente reduziu a escassez de produtos da primeira necessidade, e não só. O Presidente Guebuza disse que apesar da linha-férrea não estar a ser operacional da forma como estava previsto já se pode louvar o facto de, paulatinamente, estar a impulsionar positivamente a vida no Niassa e em Lichinga, particularmente.
Este problema é agravado pelo facto de a via rodoviária entre Cuamba e Lichinga ser de difícil transitabilidade. Alguns empreiteiros seleccionados para melhorarem esta via pautaram pela desonestidade. “A desonestidade e o incumprimento de prazos pelos empreiteiros, agravado pela sua fraca capacidade de realizar obras, a não reabilitação do troço ferroviário Lichinga- Cuamba, e a difícil transitabilidade da rodovia entre Lichinga e Cuamba” são, segundo Bimbe, os principais constrangimentos que continuam a imperar o fraco desenvolvimento de Niassa.
A problemática rede de transportes em Niassa, não só dificulta o abastecimento de diversos produtos mas também constitui uma grande “dor de cabeça” ao escoamento da produção de Niassa. Depois do comício popular de Chimbonila, Guebuza orientou, neste mesmo local situado a pouco mais de 30 quilómetros de Lichinga, a sessão extraordinária do Governo provincial alargado aos administradores distritais e a outros quadros, cujos debates foram a porta fechada.
Guebuza presidiu ainda uma sessão extraordinária do comité provincial do partido governamental, a Frelimo. Terça-feira, Guebuza escala o distrito de Mavago que nos últimos tempos se notabilizou pela exploração ilegal do Rubi, um mineral valioso usado na área da joalharia. Alias a mineração ilegal deste recurso foi também levantado no comício popular.
Um residente do distrito de Lichinga queixou-se a Guebuza, alegando que os nacionais são impedidos de garimpar este recurso, o que não acontece com os estrangeiros. Sobre este assunto, Guebuza assegurou que tudo está sendo feito para se normalizar a exploração deste recurso, vincando que os recursos naturais de que o país dispõe devem, muito claramente, beneficiar os moçambicanos. Por outro lado, Guebuza indicou que os estrangeiros não podem ser mal vistos quando eles trazem algo benéfico como é o caso de tecnologias para acrescerem o valor da produção.
Recentemente, a Ministra dos Recursos Minerais e Energia, Esperança Bias, reuniuse com representantes do Ministério do Interior e da Autoridade Tributaria, em Maputo, para debaterem formas de se ordenar a exploração deste recurso que era ilegalmente traficado para a Ásia, particularmente para a Tailândia. A visita de Guebuza a Niassa termina Sexta-feira, em Cuamba.