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Toyota City em clima de tensão ante a crise do império automobilístico

“Quando a Toyota tosse, a cidade inteira fica resfriada”, é um ditado local que exemplica como a Toyota City, coração do império automobilístico japonês, treme ante a atual crise que ameaça repercutir além de suas fronteiras.

Primeiro grupo japonês, a Toyota, que emprega mais de 300 mil pessoas no mundo, foi durante muito tempo motivo de orgulho para o Japão.

Milhares de japoneses circulam em seus carros, desde a família imperial até o primeiro-ministro, passando pelos taxistas. Mas a crise, que obrigou o gigante a retirar quase nove milhões de veículos em todo o mundo devido a problemas no acelerador e nos travões, angustia os habitantes de Toyota City, na região de Nagoya.

“A crise econômica nos atingiu em cheio, e justo no momento em que pensávamos que a demanda mundial ia se reativar recebemos um novo golpe com a retirada (de carros). Mas dessa vez na cara”, conta Kazuhiko Yamada, dono de uma pequena empresa responsável pela manutenção das fábricas da Toyota. Chamada outrora de Koromo, a antiga cidade têxtil ganhou há 50 anos o nome da empresa criada antes da Segunda Guerra Mundial por Kiichiro Toyoda, que transformou a fábrica familiar de tecelagem em uma empresa automobilística.

O fundador e seus descendentes são tão venerados que é difícil para os habitantes da cidade criticar seu neto Akio Toyoda, diretor-geral do grupo desde o ano passado que, segundo algumas pessoas, não soube lidar com a crise provocada por problemas técnicos de seus veículos. “É o que se pode esperar de um dirigente de terceira geração: não conhece o terreno. É como um soldado que sabe atirar, mas nunca esteve em combate”, declara um morador da cidade, que pediu para não ser identificado por trabalhar em uma atividade ligada ao grupo.

A companhia, que possui uma rede de abastecedores submetidos à ela por um juramento de fidelidade próprio dos samurais, se converteu na segunda metade do século XX em um império com um enorme capital de bens, ativo nas telecomunicações, na publicidade, nos seguros e no turismo. Tudo ou quase tudo pertence a eles em Toyota City, desde a zona industrial até o estádio de futebol, passando pelo museu de história do automóvel.

A empresa ocupa-se de tudo, organiza as atividades esportivas dos fins de semana e planta hortas para seus empregados que se aposentaram. “Toyota é a número um”, diz Hatsue Aoyama, proprietária de um café frequentado pelos aposentados da empresa. “Com esses problemas todos estão com medo, é realmente triste”. Muitas famílias dependem do destino da empresa, já que possuem várias de suas gerações trabalhando.

“Graças à Toyota podemos ter vidas estáveis. É uma segurança, mas também um orgulho”, reconhece Rieko Iwai, cujo sogro, marido e filho trabalharam ou trabalham na empresa. Frente à crise econômica mundial, a Toyota cortou gastos e deixou na rua milhares de empregados temporários, muitos deles imigrantes que optaram por voltar aos seus países de origem.

William Yoshinori Honda, um brasileiro com raízes japonezas, observou como o número de clientes de seu supermercado, dedicado aos latino-americanos, caiu pela metade. “Como os carros Toyota são magníficos, as pessoas pensam frequentemente que é agradável trabalhar para eles. Mas a realidade nem sempre é tão reluzente”, assegura.

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