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Alegadas práticas de feitiçaria levam ao homicídio de 16 idosas este ano

Idosos na cidade da Beira dizem estar a passar, nos últimos tempos, por situações bastante lamentáveis de acusações de feitiçaria, que nalguns casos acabam em assassinatos, destacando-se homicídios de pelo menos 16 idosas registados de Janeiro a Novembro do presente ano no distrito de Marromeu, em Sofala.

Segundo o jornal Diário de Moçambique, a preocupação foi, recentemente, manifestada durante uma marcha contra a violência da mulher, incluindo a idosa, organizada pela organização Acção para o Desenvolvimento Comunitário (ASADEC), que visava consciencializar a sociedade no sentido de abandonar esta atitude.

Numa mensagem apresentada na altura, as pessoas da terceira idade referiram que quando um jovem não logra sucesso na sua vida, como a falta de emprego, a primeira culpada que encontra por isso é a idosa, como lhe tendo amaldiçoado.

“Estas situações estão a ser frequentes na nossa sociedade”, refere a mensagem dos idosos, questionando: “será que possuir 50 anos de idade deve constituir motivo para a idosa ser considerada feiticeira e condenada à morte?”.

A situação da mulher idosa está a atingir contornos cada vez mais dramáticos, estando este grupo etário a pedir ao Governo e às organizações da sociedade civil a continuarem a lutar em defesa da pessoa idosa.

No primeiro semestre deste ano, a Direcção Provincial da Mulher e Acção Social de Sofala prestou assistência a 1.580 pessoas vítimas de violência, incluindo idosas acusadas de feitiçaria. Da assistência prestada, refere-se ao encaminhamento jurídico dos casos e outras formas de ajuda.

O director do Turismo de Sofala, Anibal Nhampossa, em representação do Governo provincial de Sofala na marcha, apelou as pessoas presentes no sentido de respeitarem os direitos humanos e as regras sociais de boa convivência, pois os motivos evocados, incluindo a feitiçaria, não têm razão de ser.

Nhampossa precisou que o Governo vai continuar através do sector da Mulher e da Acção Social, dos Gabinetes de Atendimento da Mulher, do Instituto do Patrocínio e Assistência Jurídica a promover a assistência e protecção à mulher, à criança e ao idoso de forma que estas pessoas, muitas delas indefesas possam viver uma vida condigna.

Para o director provincial da Mulher e da Acção Social de Sofala, Diquessone Tole, disse que a marcha serviu para manifestar o repúdio contra a violência.

“Temos estado a envidar esforços no sentido de reduzir os índices da violência, divulgando as leis contra a violência doméstica, tráfico de menores e outros instrumentos, visando criar novo ambiente de relacionamento humano na sociedade”, disse, convidando aos presentes a assinar “nunca a violência”.

Entretanto, algumas mulheres entrevistadas na ocasião pelo “Diário de Moçambique” referiram que a violência contra a mulher representa uma destruição do tecido social. Helena Macamo, cantora residente na cidade da Beira, disse que a violência doméstica é uma atitude que não deixa a mulher livre para fazer o que deve.

“Para mim qualquer violência constitui uma destruição porque entendo que esta atitude não pode ser usada para resolver desavenças”, disse, precisando que em casa e em qualquer lugar de convivência deve haver conjugação de ideias de forma a se evitarem casos de violência.

Helena Macamo disse que são casos raros em que uma mulher violenta o seu parceiro. Quando assim acontece, no entender da nossa fonte, é porque a mulher está farta de tanta vingança do seu marido e acha que deve agir para se defender. Contudo, a violência não deve ser usada para resolver discórdias sociais.

Para Matilde José, funcionária pública da Beira, as pessoas que pautam pela violência para resolver as desavenças domésticas, apresentam comportamentos errados. Comentou que os homens são os que mais apresentam conduta infiel, muitas vezes motivada pelo ciúme. Para que isso não aconteça, a nossa entrevistada apela para que os homens sejam mais dignos no seu ser social.

Por seu turno, Rita Domingos considera de triste as situações de violência quer contra a mulher quer contra o homem, porque no seu entender não dignificam as sociedades humanas, pelo contrário transmitem trauma aos nossos progenitores.

“Independentemente do que for a causa de um desentendimento no lar ninguém deve usar a violência senão procurar um entendimento”, aconselhou Rita, precisando que as pessoas que recorrem à violência deviam merecer fortes sanções.

Entretanto, o coordenador-geral da ASADEC, Henrique Verónica Henriques, precisou que a marcha serviu para reflectir sobre a violência contra a mulher, chamando a consciência da sociedade no sentido de continuar a respeitar a pessoa idosa.

“A pessoa idosa constitui a nossa biblioteca”, considera Henrique, acreditando que algum dia a luta contra a violência da mulher será vencida, a avaliar pelo crescente número de activistas contra a atitude. Apelou, contudo, as organizações da sociedade civil no sentido de continuarem a reforçar as acções em defesa da pessoa idosa.

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