Moçambique debate-se com uma greve de profissionais da Saúde, que se segue à do pessoal de bordo das Linhas Aéreas de Moçambique. O sector da Saúde, um pouco pelo mundo fora, enfrentou várias greves nos últimos anos. Países do primeiro mundo enfrentaram as suas.
Portanto, o que se passa em Moçambique é igual ao que se passa em todo o mundo e exactamente ao que aconteceu, para usar um exemplo de um país que partilha a mesma língua, em Portugal recentemente. Dizemos que é tudo igual, mas há algumas diferenças que é preciso evidenciar.
Em Portugal o Governo não soltou os seus cães para diabolizar – por ar, terra e mar – a causa dos grevistas, como também não se mandou maquilhar jornais e telejornais para desinformar o povo e desestabilizar os protestantes. Ninguém foi detido arbitrariamente. Em suma: Nos outros países onde eclodiram greves no sector da Saúde ninguém estorvou o direito dos protestantes de expressarem o seu descontentamento. Nenhum jardim, espaço de paz, foi cercado por agentes armados até aos dentes.
Não nos espantamos, por isso, que a greve tenha sido levada ao extremo e com prejuízo claro e inegável para o povo que não pode pagar o tratamento nas clínicas do país vizinho. A culpa, em última análise, recai sobre o Governo. Não se trata, diga-se, de um expediente falso e que procura o aplauso fácil e imediato de quem se recusa a raciocinar. O descontentamento no sector da Saúde é antigo e o Governo tinha conhecimento disso. Porém, sempre foi abafado.
A gota que fez transbordar o copo não vem de hoje. Ivo Garrido, então ministro, que o diga. Ou seja, os médicos que já recebiam pouco tiveram de deixar as casas do Ministério da Saúde por obra e graça de Garrido. O barulho que se seguiu, nos corredores do poder, acabou com a exoneração daquele que era tido como ministro do povo.
A medida agradou aos médicos, mas não resolveu os problemas. No entanto, no seio da classe, calou fundo a mensagem de que a força dos médicos foi capaz de derrubar um ministro. Essa foi a primeira vez que o poder ficou de joelhos. O que é, convenhamos, bom para a edificação de um país que se quer democrático.
Os médicos, agora, com mais força, exigem mais e o poder já, tão acomodado na sua arrogância, julga que é incapaz de flectir mais os joelhos. Isso é que torna atípica a reacção ao movimento dos médicos. O poder foi surpreendido de tangas, mas ainda quer fazer transparecer que estamos, na sua presença, diante da donzela zelosa.
O pessoal da Saúde descobriu que esse poder abana ao menor sinal de vento. As mensagens, as ameaças e essas operetas ridículas de quem promove atropelos à ética e aos direitos elementares dos cidadão são o maior sinal de um governo desnorteado e com feridas no joelho de tanto rezar.
Agora cabe aos injustiçados do Rovuma ao Maputo e do Zumbo ao Índico compreenderem que esse poder é pouca coisa. Não é de nada e só precisa do sopro dos enteados da pátria para desaparecer como qualquer injustiça merece ser extirpada do convívio das pessoas decentes.