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Sobreviver ao futuro incerto

Sobreviver ao futuro incerto

Depois da perda prematura dos seus pais biológicos, Rosa Catiza, de 14 anos de idade, viu o seu futuro mergulhado num mar de incertezas. Desamparada e à mercê da boa vontade de terceiros, a adolescente tinha uma vida condenada a privações de natureza diversa. Porém, a mudança do destino da rapariga efectivou-se quando foi acolhida pelo Mosteiro Mater Dei das irmãs missionárias de caridade, onde encontrou a segunda família.

Não tinha ainda completado um ano de idade quando Rosa Catiza perdeu a sua progenitora, vítima de uma agressão física protagonizada pelo pai. Não há relatos sobre as circunstâncias que levaram ao acto macabro, mas aos poucos vai juntando os pedaços da triste história da sua vida. Ela apenas sabe que vivia na Unidade Comunal de Saua-Saua, vulgo Namiepe, bairro de Namicopo, arredores da cidade de Nampula.

O progenitor da menor abandonou a casa, deixando a filha entregue à sua própria sorte. Sem nenhum parente próximo para ampará-la, Rosa ficou à deriva. Porém, mais tarde, um cidadão identificou-se como alguém da sua família, mas por falta de condições financeiras para cuidar da menina encaminhou-a para o Mosteiro Mater Dei e, não se fazendo de rogadas, as missionárias acolheram-na.

Desde pequena, Rosa Catiza aprendeu a viver em comunidade. Cresceu no meio de muitos desafios cujas graças são atribuídas à bondade divina e a um trabalho aturado por parte das missionárias. O grupo de irmãs de caridade cuida carinhosamente de Catiza e outras crianças na mesma situação. As outras que são acolhidas naquele mosteiro já crescidas têm outra experiência.

Catiza não teve a sorte de ser adoptada por uma família. O caso dela não é isolado, sendo que existem muitos menores de idade na mesma situação. Quase todos nunca conheceram os seus pais biológicos, pois prematuramente perderam a vida por diversos motivos. Acidentes de viação, agressões físicas no seio dos cônjuges, entre outros, são algumas das razões apontadas. Os problemas sociais figuram como sendo as principais causas.

A filha do Mosteiro Mater Dei

Para Catiza, o mais triste é saber que nenhum dos seus parentes se encontra vivo. Mas no Mosteiro Mater Dei encontrou uma verdadeira família. É neste local onde a rapariga diz ter reconhecido o brilho do sol, porém tal não significa que se esqueceu da sua origem. É de louvar o trabalho das missionárias com vista a garantir o sustento de Catiza desde criança.

Administrar leite artificial em substituição do natural foi e continua um desafio que constitui o quotidiano daquela instituição que vela por perto de uma centena de crianças. Já com 14 anos de idade, é quase possível acreditar que ela chegou à casa das missionárias quando ainda não tinha um ano de vida.

“A alimentação que oferecemos é simplesmente básica, constituída por carnes, ovos, leite fresco, feijões, farinha de milho, arroz, entre outros produtos. No geral, é uma alimentação variada”, disse Maria de Cármen, gestora do Mosteiro Mater Dei para quem tudo tem sido feito pela graça de Deus.

Tendo em conta a diversidade cultural, crescer com um comportamento em comunidade é difícil, sobretudo quando se tem pessoas de diversas origens. No Mosteiro Mater Dei vive-se num ambiente familiar, pois essa tem sido a educação transmitida aos acolhidos, tendo como princípios o espírito de tolerância, perdão e solidariedade entre os seres humanos. Pelo facto de ser uma congregação religiosa cristã, muitas crianças professam a mesma religião. Mas a tal não são obrigadas. Depois de atingirem determinada idade, há toda a liberdade de escolherem o credo…

Abstinência da vida sexual

No convívio da comunidade no mosteiro, as meninas não se envolvem em relações sexuais. A abstinência é palavra de ordem no seu seio. Naquela instituição tem uma cultura diferente, onde no processo de educação é reiterada a necessidade de relegar a vida sexual para último plano.. Fica claro que a formação é uma prioridade e, posteriormente, o emprego para o auto-sustento. Depois disso, as meninas podem preocupar-se com relacionamentos íntimos. Não foi necessário uma vara mágica para que as raparigas seguissem fielmente esses e outros conselhos de vida.

O índice do analfabetismo, o qual afecta na sua maioria as mulheres, é apontado como a principal causa da decadência dos valores sociais, uma vez que as raparigas são obrigadas a abandonar os estudos e outras ocupações construtivas para cuidarem dos filhos nos respectivos lares. Por si só, as raparigas do Mosteiro Mater Dei concluem que é importante dedicarem-se aos estudos para garantirem um futuro melhor e com prosperidade.

“Depois da formação, apelamos as meninas a preocupar-se em arranjar um emprego. Mais tarde, devem casar-se para formar uma família”, afirmou Maria de Cármen. Entretanto, existem casos de sucesso, em que há meninas que já saíram do convento e hoje são pessoas bem-sucedidas. Neste momento, tentam localizar as suas famílias alargadas.

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