Cabo Delgado, a província por onde o novo coronvírus entrou em Moçambique, continua a ser um dos principais focos da pandemia que não perdoa sequer as vítimas do terrorismo. “Começamos por ter febres que nunca passavam, quase todos em casa e não levamos a sério, porque não acreditávamos na doença. Dias depois fomos ao hospital e diagnosticaram covid-19, acabamos por perder dois familiares e nem fomos permitidos a participar nos funerais” conta Mahamudo Rajabo, sobrevivente do terrorismo refugiado na Cidade de Pemba.
Quase 2 anos após ter sido a porta de entrada do novo coronavírus, através dos funcionários da petrolífera Total, a Província de Cabo Delgado é nesta altura um dos epicentros da pandemia, mesmo depois da ultrapassada a 3ª vaga, particularmente a Cidade de Pemba onde a transmissão comunitária é impulsionada pelos aglomerados decorrentes do acolhimento dos deslocados que fogem do terrorismo que há mais 4 anos dilacera os distritos do Norte.
“Na minha terra eu dedicava-me a agricultura, quando me refugiei a Pemba pensei na escultura uma alternativa para o sustento mas não temos clientes por conta da covid-19 e a matéria-prima está inacessível, porque a mata onde se encontra o pau-ferro há insurgentes, assim vivo pela graça do Deus esperando por dias melhores”, disse ao @Verdade Panemba, um jovem de 30 anos de idade que é deslocado do terrorismo proveniente do Distrito de Macomia.
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Drama diferente enfrenta Amina Abdulai, que chefia um agregado familiar de 13 pessoas onde se inclui um casal deslocado do terrorismo provenientes de Mocímboa da Praia. “Antes da covid-19 vendia refrigerantes, frango e peixe assado na praia do Wimbe mas com o recolher obrigatório tive de parar. O pouco valor que tinha investi numa mota que entreguei ao meu sobrinho para fazer táxi”, relatou a empreendedora que nos confidenciou “os parentes que acolhi nem sempre recebem ajuda humanitária, as vezes não conseguimos fazer duas refeições diárias”.
Mahamudo Rajabo estabeleceu-se recentemente num dos bairros suburbanos da Cidade de Pemba onde desespera pelas provações que a vida o tem colocado com a família. “No dia 24 de Abril fomos alvo de um ataque a Vila Sede de Palma, perdi dois irmãos com quem eu vivia. A minha esposa e dois filhos só localizei 2 meses depois cá em Pemba onde fomos acolhidos por familiares”.
Militarização da Saúde na Cidade de Pemba
O funcionário publico de 48 anos de idade compartilhou que alguns meses depois “começamos por ter febres que nunca passavam quase todos de casa e não levamos a sério, porque não acreditávamos na doença. Dias depois fomos ao hospital e diagnosticaram covid-19, acabamos por perder dois familiares e nem fomos permitidos a participar aos funerais”.
“A situação pela qual estamos a atravessar não gostaria que alguém igual passasse o mesmo, não sei quando e este martírio vai acabar”, desabafou o Rajabo que entretanto mobilizou a família para proteger-se da pandemia respiratória aderindo a campanha de vacinação.
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A militarização da Cidade de Pemba, devido a insurgência, é extensiva ao sector da Saúde que instalou o Centro de isolamento da covid-19 no interior de uma subunidade militar sendo o acesso limitado por cancela onde soldados fortemente armados dificultam o acesso de familiares aos doentes internados e controlam os profissionais de saúde, situação que levanta a suspeita sobre a fiabilidade dos dados epidemiológicos, afinal a pandemia também infectou membros das Forças de Defesa e Segurança.
Aliás a distinção que o Ministério da Saúde recebeu do MISA Moçambique como instituição governamental mais abertas à disponibilização e partilha de informação é desmentida pela atitude de indisponibilidade à imprensa dos seus funcionários na Província de Cabo Delgado.