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Simone Biles, Michael Phelps e Usain Bolt brilharam em mais uma olimpíada sem glória nem medalhas para Moçambique

Simone Biles

Apagou-se na noite deste domingo(21) a chama olímpica na cidade do Rio de Janeiro onde decorreram os 31º Jogos da era moderna. Entre “elefantes brancos” com custos astronómicos e receios de segurança venceu a hospitalidade dos brasileiros, muitos deles que preferiam ter tido melhores escolas e hospitais. Moçambique teve mais uma presença inglória e sem medalhas numa olimpíada que fica marcada pela explosão da ginasta Simone Biles e pelas despedidas do melhor nadador de todos os tempos, Michael Phelps, e do homem mais rápido do mundo, Usain Bolt.

Desde que Maria de Lurdes Mutola brilhou em Sidney, há 16 anos, que Moçambique não conhece a glória olímpica. Para os Jogos do Rio de Janeiro eram seis os atletas moçambicanos, dois convidados e quatro que conquistaram por mérito o direito disputar a maior prova desportiva do nosso planeta.

Os canoístas Mussa Chamaune e Joaquim Lobo eram as grandes esperanças para voltar a ver o nosso País no pódio mas ambos acabaram por não brilhar nem mesmo na prova de canoa dupla na distância de 1000 metros, onde são campeões africanos.

Na sexta-feira(19) os moçambicanos foram os últimos posicionados na 2ª eliminatória onde competiram fazendo a prova em 4:14:002 minutos, o pior tempo entre os 11 competidores, mas ainda assim apuraram para as meias-finais, tal como todos outros participantes.

Na tarde do mesmo dia voltaram a remar no estádio da Lagoa e voltaram a ocupar o último lugar novamente com o pior tempo de todos que competiram, 4:23:965 minutos, todavia foram classificados para disputar a Final B da competição.

No sábado(20), Mussa Chamaune e Joaquim Lobo regressaram à competição e tiveram uma prestação ainda pior do que na véspera, remaram os 1000 metros em 4:38:732 minutos.

O ouro na prova ficou com a dupla alemã, Sebastian Brendel e Jan Vandrey, que venceu com a marca de 3:43:912 à frente dos brasileiros e ucranianos.

Mussa e Joaquim também não brilharam nas provas individuais

Na prova individual de 1000 metros Mussa Chamaune, de 23 anos de idade, posicionou-se na última posição, com o tempo de 5:00:454 minutos, ainda assim, como todos outros competidores, apurou-se para as meias-finais onde voltou a ser último sem conseguir melhorar a sua marca anterior, completando a sua participação com o tempo de 5:07:281 minutos.

O seu compatriota, Joaquim Lobo, também remou sozinho na prova de canoa individual (C1) 200m e não foi além da primeira eliminatória. O canoísta de 21 anos de idade fez a sua prova, no estádio da Lagoa no Rio de Janeiro, em 44.949 segundos, a pior marca entre os 31 atletas que competiram, e foi sexto e último classificado da sua série não se apurando para as meias-finais.

Marlon durou menos de 2 minutos e Kurt foi penúltimo

O judoca Marlon Acácio, um dos moçambicanos que garantir a sua presença fazendo os mínimos de apuramento, participou nos Jogos do Rio de Janeiro durante menos de 2 minutos.

Enfrentou o brasileiro Victor Penalber, na primeira ronda da categoria até 81kg, que com um golpe e um wazari acabou com o sonho do moçambicano de 34 anos de idade.

Kurt Couto foi outro representante do nosso País que chegou ao Brasil por mérito próprio e, mais uma vez, desiludiu não passando da primeira eliminatória dos 400 metros barreiras.

Na sua quarta olimpíada consecutiva Couto, de 31 anos de idade, fez a sua participação em 49 segundos 74 décimos, na 5ª série, e posicionou-se na 6ª posição à frente do sul-africano Lindsay Henekom. Apesar de ter piorado a marca que conseguiu em igual eliminatória na olimpíada de Londres, Kurt Couto conseguiu fazer no Brasil a sua melhor marca da temporada, foi 27º tempo entre os 45 atletas que competiram na especialidade.

Jannah e Igor não passaram da primeira eliminatória

Os restantes dois representantes de Moçambique, os nadadores Jannah Sonnenschein e Igor Mogne, participaram como convidados pois não conseguiram atingir os mínimos olímpicos ao longo dos quatro anos que treinaram fora do País.

A nadadora Jannah Sonnenschein não passou na primeira eliminatória dos 100 metros mariposa enquanto o melhor nadador moçambicano da actualidade venceu a 2ª eliminatória da primeira ronda dos 100 metros livres, todavia os 50 segundos e 65 décimos foram insuficientes para garantir o apuramento para as meias-finais.

O moçambicano de 20 anos de idade fez o 45º tempo, entre 59 nadadores que disputaram a eliminatória, acima da sua melhor marca na especialidade e muito longe dos 47 segundos e 90 décimos do melhor tempo de qualificação que foi obtido pelo australiano Kyle Chalmers de 18 anos de idade.

Simone Biles, a melhor ginasta da actualidade

Tem 19 anos e com a sua técnica e força física a norte-americana Simone Biles mudou o curso da ginástica levando as acrobacias a um grau inédito de dificuldade.

Ver Simone no solo é como ver Michael Phelps na água ou Usain Bolt na pista: não têm rival. No Rio de Janeiro, Simone arrecadou um ouro na competição por equipas, ganhou outra medalha no concurso geral individual, brilhou no salto e cimentou a sua prestação nos Jogos do Rio de Janeiro na prova individual geral, tornando-se na primeira mulher em 32 anos e quinta no total a conquistar quatro ouros numa única Olimpíada.

A melhor de todas ginastas da actualidade é uma adolescente com 1,44 metros e 47 quilos e levou a modalidade a outros píncaros ao desafiar as leis da física, indo mais longe do que qualquer outra atleta.

Na trave, cuja superfície tem 10 centímetros de largura, ela executa movimentos que muitos atletas não conseguem fazer nem mesmo no solo. Chama a atenção também a altura que atinge nos saltos, chegando a flutuar a mais de 3 metros do chão no meio a rodopios que constrangeriam Isaac Newton.

Outra vantagem sobre as demais: ela precisa de um espaço curto para correr e tomar impulso para as acrobacias, o que amplia a quantidade de manobras nas exibições no solo. Os seus mortais e giros são mais rápidos e integram um vasto repertório de movimentos.

Um deles foi batizado com seu sobrenome: “The Biles”. O salto consiste em um duplo mortal estendido para trás com uma meia volta antes do pouso. Assim, por extenso, parece pouco. Mas Simone é a única ginasta capaz de executá-lo.

Simone Biles teve uma infância muito difícil. Aos 2 anos, foi afastada da mãe biológica, que enfrentava problemas com drogas e bebidas, e colocada num orfanato. Três anos depois, após uma tentativa frustrada de reaproximação da mãe, Simone e a sua irmã foram adoptadas pelo avô paterno, Ron, um controlador de voo aposentado, e pela sua segunda mulher, Nellie, dona de uma rede de asilos para idosos. Devido à adopção, elas tiveram de se mudar de Ohio, onde nasceram, para o Texas. Simone chama Ron e Nellie de pai e mãe.

Foi por acaso que Simone teve contacto com a modalidade que a tornaria famosa. Diante do cancelamento de uma viagem escolar, a turma foi visitar uma academia. Simone curtiu a experiência e ingressou no desporto. Ainda muito nova, o seu talento foi detectado por Aimee Boorman, até hoje a sua treinadora. O ponto de inflexão na sua trajetória desportiva ocorreu aos 13 anos, quando Simone decidiu abandonar a rotina na escola para ir estudar em casa. Assim, poderia dedicar-se a tempo integral à ginástica. Há três anos foi chamada por Martha Karolyi para se juntar à selecção americana.

Michael Phelps despede-se no Rio de Janeiro com cinco ouros

Das 306 provas com medalhas, disputadas por 10.500 atletas de 206 países, o norte-americano Michael Phelps ficou com seis, cinco de ouro, no seu regresso à alta competição, elevando para 28 o total de medalhas em Jogos.

“Ao caminhar para a piscina esta noite, quase chorei. Último aquecimento, última vez a vestir o fato, a última vez a representar o meu país em frente de milhares de pessoas. É de loucos. Esta é a forma como queria terminar a minha carreira. Sabe bem perceber que o trabalho árduo compensou e que fui capaz de ultrapassar alguns tempos difíceis dos últimos dois anos e regressar ao sítio onde sempre quis estar. Esta foi a cereja no topo do bolo e já estou ansioso por começar um novo capítulo”, afirmou Phelps, na sua despedida, após ajudar os EUA a ganharem a estafeta 4×100 metros estilos, com Ryan Murphy, Cody Miller e Nathan Adrian.

A noite que encerrou a natação nos Jogos proporcionou também um marco histórico para o olimpismo norte-americano, que conquistou no Rio de Janeiro a sua milésima medalha de ouro, a melhor campanha dos Estados Unidos da América na natação neste século.

Aos 31 anos, e salvo uma nova surpresa como aconteceu após Londres 2012, Phelps despediu-se de vez dos Jogos Olímpicos.

Usain Bolt, o triplo-triplo

Uma jornada olímpica épica que começou numa noite em Pequim quando um atleta de 21 anos chocou o mundo ao bater o recorde mundial dos 100 metros rasos chegou ao fim na noite de sexta-feira no Rio de Janeiro, depois de nove finais olímpicas e nove medalhas de ouro.

Num intervalo de oito anos, Usain Bolt encantou estádios em Pequim, Londres e Rio, assim como biliões de pessoas ao redor do mundo pela televisão.

O acto final aconteceu quando o homem mais rápido a já ter vivido, que completou 30 anos no domingo, fez a última perna da estafeta 4×100 metros para a Jamaica para conquistar o ouro e o inédito tricampeonato olímpico das três provas de velocidade do atletismo, o triplo-triplo.

Bolt ainda tem um ano de competição pela frente, culminando com o Mundial de Atletismo no ano que vem em Londres, até se aposentar.

“Tenho sentimentos mistos agora”, disse ele a jornalistas. “Alívio, tive toda essa pressão ao longo dos anos… Definitivamente vou sentir falta do desporto, sentir falta das Olimpíadas, porque esse é o maior palco”, disse.

“Não vou sentir saudades dessas entrevistas. Fiz umas 500 desde que cheguei aqui. Mas definitivamente terei saudade da torcida, da energia e simplesmente da competição”, afirmou.

“Amo competir. Então terei saudade de tudo isso. Mas foi uma grande carreira. Fiz tudo que posso. Provei ao mundo que sou o melhor no desporto, então é missão cumprida.”

Olimpíada fecha ciclo de megalomania

Um ciclo de mega-eventos e mega-projetos está a terminar no Brasil com os Jogos Olímpicos, com saldo negativo deixado pela megalomania, que também alimenta a crise económica e política em que o País da América do Sul está mergulhado.

Durante uma década, actividades e obras gigantescas – algumas ainda não concluídas ou condenadas ao abandono –, estimularam a economia, os sonhos, as polémicas e frustrações dos brasileiros, reflectindo e acelerando a subida e a queda no poder do Partido dos Trabalhadores (PT). O crescimento económico do país e o prestígio internacional do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2011) foram decisivos para que, em 2007, o Brasil fosse escolhido sede do Campeonato do Mundo de futebol de 2014.

Dois anos depois, o Rio de Janeiro conquistou o direito de receber os XXXI Jogos Olímpicos. Em 2007, esta cidade já havia sido sede dos Jogos Pan-Americanos, inaugurando a série de mega eventos desportivos no Brasil, que incluiu também a Taça das Confederações em futebol, antecedendo o Mundial da FIFA.

A origem da megalomania brasileira também pode ser situada no Mundial de futebol de 1950, que motivou a construção do estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro, por décadas o maior estádio de futebol do mundo, onde até 180 mil espectadores viram algumas partidas.

A derrota para o Uruguai na final desse Mundial, decepção jamais esquecida pelos brasileiros, não impediu que o Brasil organizasse o Mundial de 2014, construindo novos estádios e sofrendo outra derrota demolidora: sete a um diante da Alemanha na semifinal.

Agora, submerso numa crise fiscal que durará anos, o Brasil dificilmente poderá aventurar-se em novos mega-projetos. Além disso, a ilusão de que se pode queimar etapas do desenvolvimento não será a mesma depois de tantos fracassos e questionamentos ambientais, sociais e económicos.

* Com Agências & Envolverde/IPS

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