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Sílvia: A (des)amparada que corre pelo país

Sílvia: A (des)amparada que corre pelo país

Que não se leva a sério o desporto em Moçambique é um facto. O país de Lurdes Mutola não investe como deve ser em algumas modalidades e nem sequer define quais devem ser as prioritárias. Já lá vão anos desde que a nossa Menina de Ouro abandonou o atletismo e ao país só restam memórias, pelo que hoje, a caminhar para trás, procuramos por uma substituta. O @Verdade traz nesta semana uma verdadeira atleta que se encontra em Londres desamparada e à espera do dia para competir.

Nascida na capital do país, Maputo, a 16 de Fevereiro de 1993, Sílvia Eduardo Panguana abraçou o atletismo há sensivelmente seis anos. A sua carreira teve início nos Jogos Escolares da Cidade de Maputo em Agosto de 2006, em que representou a Escola Primária de Laulane.

A sede de vencer desta jovem começou naqueles Jogos Escolares mas tão cedo sentiu o peso de viver num país que trata o desporto como uma actividade recreativa.

Sendo a primeira vez a participar numa competição, a atleta ficou em segundo lugar na modalidade de salto em comprimento e em primeiro na categoria dos 100 metros, mas não chegou a receber nenhuma medalha, facto que a deixou bastante magoada.

Findos os jogos, Sílvia Eduardo recebeu um convite do então seleccionador nacional de atletismo dos juniores para treinar no Parque dos Continuadores, uma “caminhada” que durou cerca de quatro anos.

Nesse período, em que esteve sob a responsabilidade do treinador cubano ao serviço do país, Sílvia conquistou várias medalhas, mas acima de tudo a maturidade no atletismo.

Curiosamente, ela foi vice-campeã africana dos juniores nos 100 metros barreiras em 2009, numa competição em que depois ficou em primeiro lugar em virtude de a vencedora ter sido submetida a testes que acusaram a presença de substâncias proibidas, nas Ilhas Maurícias.

Ainda sob o comando de Ângelo Carreiro, a jovem atleta conquistou, por cinco edições consecutivas, o título de campeã nacional e da cidade de Maputo de atletismo em juniores. Outrossim, Sílvia tem nas suas prateleiras inúmeras medalhas conquistadas em vários torneios (regionais e internos).

A desistência e os grandes momentos

Apesar de estar há pouco tempo no atletismo, terá pensado em desistir da modalidade em 2010. Tudo aconteceu quando terminou o contrato de trabalho do treinador cubano que estava ligado à selecção nacional.

A alma de Sílvia corou-se de muita dor e melancolia porque tinha em Ângelo muito mais do que um simples treinador, mas um verdadeiro pai. O abandono era certo mas, graças ao apoio da família e dos amigos, voltou atrás.

Aliás, o apoio do clube Desportivo de Maputo, no qual milita desde 2008, foi crucial para não tomar a triste decisão.

Com ainda muito percurso pela frente, destacam-se até ao momento dois melhores e memoráveis momentos da carreira de Sílvia: Quando em 2007 conquistou as primeiras três medalhas (ouro, prata e bronze) no Campeonato Regional de Atletismo da Zona Sul e quando se tornou campeã africana de Atletismo nas Maurícias.

Londres: O lado real de um sonho

Sílvia não precisou de uma competição específica para realizar um dos seus maiores sonhos: chegar aos Jogos Olímpicos. Todavia, aterrou em Londres sem os mínimos possíveis até porque o atletismo é uma modalidade que não tem essas exigências.

A razão para a sua escolha, diga-se, foi mesmo por ser a atleta moçambicana que mais se destacou nos últimos anos tendo inclusive melhorado nas marcas pessoais no presente ano. Tudo se deveu à sua dedicação e entrega ao atletismo.

Contrariamente ao que sucedeu em 2010, quando soube que ia representar o país em Londres os seus olhos encheram- se de lágrimas, o que revelava a emoção e felicidade de concretizar um sonho.

E com o objectivo de “atacar” a cidade inglesa de Londres, a atleta moçambicana intensificou os treinos e explorou ao máximo o Parque dos Continuadores. Beneficiou igualmente duma passagem por Portugal, onde fez um estágio que durou uma semana.

Sílvia está em Londres mas sem treinador

Tudo aconteceu de uma forma estranha. Momentos antes de ser escolhida para se juntar a Kurt Couto na dupla de atletismo que vai representar Moçambique, Sílvia Eduardo era treinada pelo técnico Lourenço Nhaúle no Grupo Desportivo de Maputo. Mesmo a fase de preparação de Sílvia em solo pátrio foi comandada por aquele treinador, que estranhamente não partiu para Portugal, muito menos para Londres.

No breve contacto tido com Sílvia Eduardo, a atleta não escondeu o seu sentimento de mágoa como também prometeu dar o seu melhor e representar condignamente o país já na próxima segunda-feira, às 11h de Maputo.

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