Os serviços básicos que devem ser providenciados pelo Estado em benefício do cidadão passaram a ser produtos de venda e lucro para os governantes e líderes dos países africanos, incluíndo Moçambique. A constatação é do professor Issa Shivji, especialista em estudos Pan- Africanos na Universidade de Dar- Es-Salaam, República Unida da Tanzânia, durante a segunda conferência do Instituto dos Estúdios Sociais e Económicos, sobre o tema “Dinâmica da pobreza e padrões de acumulação económica em Moçambique”.
Segundo Shivlij, os serviços que são de vital importância para as populações dentre outros, a educação, produção de alimentos, água, saúde, energia e a terra, que deviam ser subsidiados pelo Estado são tomados pelos regimes governamentais africanos como sua propriedade, chegando ao extremo de os comercializar como se fossem produto de compra e revenda, para poderem desenvolver uma espécie de acumulação primitiva do capital.
Tal cenário de acordo com a fonte, resulta no recrudescimento da pobreza nos países africanos em particular Moçambique, tendo salientado na ocasião que “apesar de os países africanos estarem a dar sinais de crescimento económico, nota- se que o fosso entre as camadas sociais favorecidas e desfavorecidas, aumenta, verificando- se que os ricos tornamse cada vez mais ricos e os pobres mais pobres”, frisou.
Apontou dentre outros factores que contribuem para a situação actual, o facto dos respectivos governos africanos não têrem uma agenda genuinamente africana e que se adapta a realidade local, limitando-se a aplicar fielmente as regras ditadas pelas maiores agências financiadoras mundiais, nomeadamente, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Shivji, a situação é tão preocupante que até as novas gerações não têm auto estima e confiança, não sabem quem são e donde vem, e o que devem fazer para saírem da situação da dependência em que se encontram, optando por seguir o sistema pedinte vigente há longos anos.
Outro factor apontado é a destruição e privatização das indústrias africanas básicas, nomeadamente a téxtil, alimentar, de calçado e de óleos alimentares, o que criou uma sociedade economicamente forte, caracterizada por investimentos estrangeiros, o que torna o Estado frágil.
A liberalização do sector financeiro, com o capital a ser dominado pelo sector privado, maioritariamente estrangeiro, também contribuiu em grande medida para o aumento da pobreza e acumulação fácil de riquezas por parte de grupos sociais privilegiados, situação que põe em causa a legitimidade do próprio Estado, propiciando o sofrimento das populações, principais produtores desta riqueza. Finalizando salientou que está a surgir nos dias que correm, um neoliberalismo africano caracterizado, dentre outros, através de investimentos especulativos que não contribuem para o desenvolvimento dos países.
Estes factores, acabam por propiciar a distribuição desigual dos recursos. Os Estados segundo o orador, estão mais militarizados do que no final da Segunda Guerra Mundial, salientando que “este facto originou um aumento de conflitos no continente africano.
O encontro promovido pelo Instituto dos Estúdios Sociais e Económicos termina ainda hoje e conta com a participação dos representantes de várias organizações que se dedicam à investigações sociais e económicas em Moçambique, economistas e gestores.
Por seu turno, Nuno Castel Branco, director do IESE disse que, o encontro tem por objectivo promover debates em torno da problemática da acumulação de riqueza, seus autores e o impacto na economia moçambicana.