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Sérgio Faife: O (verdadeiro) mestre da táctica que “enche” o Moçambola

Sérgio Faife: O (verdadeiro) mestre da táctica que “enche” o Moçambola

O treinador da Liga Muçulmana, Sérgio Faife Matsolo, entrou para a história do futebol moçambicano ao terminar a primeira volta do Campeonato Nacional do Futebol, o Moçambola, sem nenhuma derrota em treze jogos. Ele colocou aquele clube no topo da tabela classificativa com 33 pontos, com nove de avanço sobre o segundo classificado, o Ferroviário de Nampula. Apesar disso, sente que há, ainda, muito campeonato pela frente ao assumir que tudo pode acontecer. Nesta semana, o @Verdade conversou com aquele técnico a fim de que este fizesse o rescaldo da trajectória dos campeões nacionais em título na primeira metade da prova máxima.

@Verdade (@V) – Como é que se sente depois de se sagrar “campeão de Inverno” e com nove pontos de avanço sobre o segundo classificado, na tabela classificativa?

Sérgio Faife (SF) – Sinto-me feliz por ter terminado a primeira volta no topo da tabela classificativa sem nenhuma derrota e com uma vantagem folgada sobre o segundo classificado. Cumprimos a nossa obrigação de defender o título que conquistámos na temporada passada. Mas é importante afirmar que ainda não ganhámos nada, por isso temos de nos concentrar nos 13 jogos que temos pela frente.

@V – É verdade que não sair derrotado, em nenhum dos treze jogos, foi o objectivo que a direcção da Liga Muçulmana pediu quando promoveu Sérgio Faife Matsolo a treinador principal da equipa sénior de futebol?

SF – O presidente do clube, Rafik Sidat, quando me nomeou treinador principal, pediu simplesmente para que a equipa terminasse a primeira volta bem classificada, ou seja, estar nas duas primeiras posições. Na altura respondi que, se ele estiver a entregar o comando de peito aberto, e não sob alguma pressão ou receoso do futuro, nós iríamos fazer de tudo para defendermos o título conquistado no ano passado, na medida em que, dentre várias qualidades, temos um plantel capaz de fazer grandes coisas.

@V – Mas onde é que se encontra tamanha inspiração para motivar o grupo de jogadores?

SF – O mais importante foi incutir aos jogadores que eles tinham capacidade para ultrapassar qualquer obstáculo. À equipa técnica, ou seja, aos meus colegas, eu segredei que tínhamos um plantel bastante equilibrado, que bem empenhados poderíamos alcançar o objectivo que a direcção colocou como desafio a alcançar no fim da primeira volta. Lembro-me de que na primeira jornada defrontámos o Clube de Chibuto, um adversário que nunca conseguimos derrotar desde que ascendeu ao Moçambola.

Quando ganhámos, os meus jogadores começaram a acreditar que poderiam ir mais longe ainda. Ou seja, vencer o Chibuto foi um factor motivador para a Liga e o princípio do nosso sucesso. Na terceira jornada, os meus atletas começaram a construir a auto-confiança, embora tenham ficado tristes e desolados com o empate diante do Desportivo de Nacala. Depois desse acontecimento, eu disse-lhes que não se tratava, necessariamente, de perder dois pontos, mas sim de ganhar um, que será preponderante para as contas no futuro.

@V – Com isso quer dizer que o insucesso dos adversários contribuiu, igualmente, para o sucesso da Liga Muçulmana?

SF – Digamos que sim. Conforme referi anteriormente, eu incuti nos meus jogadores a convicção de que eles eram capazes de vencer e alcançar o objectivo traçado pela direcção. Fizemos 13 jogos consecutivos, seis dos quais em casa, e não perdemos nenhum. Uma obra de grandes combatentes.

@V – Acha que, tal como fez na primeira volta, poderá jogar mais 13 vezes e não perder?

SF – O mais importante é ter os pés bem assentes no chão, manter a nossa humildade e a nossa forma de trabalhar pois, como devem saber, no futebol tudo pode acontecer. É possível dormir líder e acordar na zona da despromoção. Nós ainda não ganhámos nada e penso que há, ainda, muito a fazer. Importa agora limar os erros que cometemos durante a primeira volta, sobretudo nos jogos que empatámos.

“Na Liga Muçulmana não há vedetas. A maior estrela é o próprio grupo”

@V – Como é que se pode descrever a relação existente entre Sérgio Faife e os jogadores?

SF – Antes de me formar, como treinador, fui jogador de futebol. Conheço muito bem o ambiente de um balneário. Por isso, tenho dito aos jogadores que eles devem jogar a bola por amor à modalidade e nunca por aquilo que devem receber em troca. Se notarem, podem ver que os meus atletas são muito alegres e solidários dentro das quatro linhas. Dou-te um exemplo. Momed Hagi é um médio defensivo. Mas, durante a primeira volta, marcou muitos golos.

Sabem porquê? Ele agora sente-se mais à vontade e livre para jogar como tal, na medida em que deixou de estar preso ao esquema táctico que temos montado. Ele já não se sente pressionado, até porque tem desempenhado bem as funções de deter o ataque do adversário. Isto tudo para dizer que na Liga Muçulmana não há estrelas. A maior vedeta é o próprio grupo, visto que todos são importantes.

@V – Mas essa alegria de que fala faltou em alguns jogos. Por exemplo, durante os primeiros 45 minutos em certos desafios, a Liga teve prestações enfadonhas, sem muita intensidade e com um ataque denunciado. Quando assim acontece, é porque há falta de sintonia entre os jogadores e o treinador?

SF – A primeira coisa que digo aos jogadores, antes de um jogo, é que eles devem manter a humildade, independentemente do adversário. Sucede que em algumas partidas eles entram convencidos de que já garantiram os três pontos. Um exemplo prático é o que sucedeu contra o Têxtil de Púngué, na 12ª jornada, em que os meus atletas adormeceram durante a primeira parte, pensando que tinham tudo controlado. Quando viram que o tempo estava a passar, sem que nada acontecesse, envergaram o fato-macaco e correram atrás do resultado. Vencemos o jogo no limite, visto que o primeiro golo que marcámos foi a cinco minutos do apito final.

 

“O plantel do ano passado tinha mais qualidade”

@V – Quais são as diferenças que podemos encontrar entre a Liga Muçulmana do ano passado e a da presente temporada?

SF – A grande diferença entre o plantel de 2013 e o da actualidade está na qualidade. No ano passado tínhamos mais opções para determinadas posições, diferentemente do que sucede no presente momento, em que somos obrigados, por vezes, a adaptar alguns jogadores. Mas não podemos lamentar visto que os que saíram foram vendidos para o bem do clube. Outra discrepância reside no facto de, neste ano, estarmos mais unidos, coesos e relativamente mais fortes.

@V – Mas o sistema táctico continua o mesmo, em relação ao ano passado. Será que estamos enganados?

SF – Não absolutamente. Mas é importante afirmar que nós, neste ano, trabalhamos muito com o ego dos jogadores. A forma como eles jogam, hoje, é o reflexo do trabalho psicológico que temos feito. Actualmente não jogamos com base no erro do adversário. Nós é que obrigamos o nosso oponente a cometer erros. Eu não gosto de defender. Quando a equipa marca um golo, procuro lançar jogadores capazes de ampliar a vantagem, razão pela qual temos o melhor ataque da prova. Há casos em que o nosso rival é forte no jogo ofensivo. Aí eu monto uma estratégia defensiva, mas sempre procurando ter a posse de bola para correr poucos riscos.

@V – Terminou a primeira volta sem nenhuma derrota. Qual foi, para si, o jogo mais difícil nestas treze jornadas?

SF – É um pouco complicado responder a essa pergunta, porque cada jogo é diferente do outro. Mas a segunda parte do confronto contra o Ferroviário de Pemba foi muito difícil. Saímos ao intervalo a vencer por 2 – 0 mas, na etapa conclusiva, os “Pembinhas” agigantaram-se e conseguiram reduzir para 2 – 1, o que nos deixou pressionados até ao apito final. Não me esqueço, igualmente, da primeira parte contra o Têxtil de Púnguè, em que jogámos praticamente mal. Falaria do confronto diante do Estrela Vermelha que se soube trancar na defesa, não dando opções aos meus avançados, o mesmo comportamento que o Desportivo de Nacala teve no campo da Bela Vista.

 

“Temos a capacidade de aprender com os nossos próprios erros”

@V – A Liga consegue tirar alguma ilação com os erros que tem cometido?

SF – Sem sombra de dúvidas. Temos essa capacidade de estudar os nossos erros e isso é algo que aconteceu ao longo da primeira volta. Cometemos muitos erros, mas também soubemos emendá-los nos jogos seguintes.

@V – Embora esteja a fazer o balanço do Moçambola, é capaz de nos explicar o que terá acontecido no confronto da Taça de Moçambique, em que foi eliminado pelo Estrela Vermelha de Maputo, uma equipa da segunda divisão?

SF – Cometi um erro estratégico, em função da má leitura que fiz do jogo. Eu decidi fazer algumas alterações para dar espaço aos jogadores menos utilizados. Porém dei-me mal, muito mal, na medida em que as mesmas não responderam aos meus anseios. Aprendi muito com aquele jogo, que infelizmente nos custou a única derrota que temos até agora e a eliminação da Taça de Moçambique. A mão de Sérgio Faife nos campeões nacionais Durante a entrevista, desafiámos o treinador da Liga Muçulmana a falar de algumas mudanças que temos notado na equipa, sobretudo na adaptação dos jogadores a certas posições dentro do “xadrez”. Elegemos cinco jogadores, nomeadamente Kito, Mustafá Hadji, Zico e Jerry.

@V – Kito é sobejamente conhecido como um médio-ala. Porém, na Liga Muçulmana, parece não ter uma posição fixa, na medida em que intercala entre a postura de defesa lateral e a de extremo, mas sempre encostado ao lado direito. Porquê?

SF – Gosto de ver Kito a jogar como extremo. Só que, nesta época, temos o nosso lateral de raiz, Bheu, lesionado. É por esse motivo que coloco Kito a jogar como defesa, sobretudo nos jogos que temos fora de casa, sendo que Nando entra para completar o tridente ofensivo da equipa. Em casa, ele (Kito) joga como avançado, pois temos uma maior percentagem de segurança na zona recuada com a adaptação de Mustafá. Tenho comentado com os meus companheiros da equipa técnica o facto de termos perdido um jogador mas, em contrapartida, ganhámos dois, na medida em que Kito consegue desempenhar bem as duas funções.

@V – Mustafá é um médio defensivo de raiz. Mas temo-lo visto a desempenhar as funções de lateral.

SF – Como diz o adágio popular, “quem não tem cão, caça com o gato”. Bheu anda lesionado e, para não sacrificarmos Kito como lateral direito, preferimos escalar Mustafá, também porque, sendo ele médio defensivo, pode muito bem desempenhar a função de defesa direito. Conforme disse anteriormente, eu não gosto de jogar com dois médios defensivos. Momed Hagi, sozinho, está a fazer uma grande época e Mustafá só pode ajudar a equipa como lateral, posição em que vinha actuando com os outros treinadores que passaram pela Liga Muçulmana.

@V – No início da presente época, havia um debate interno na Liga, sobre o substituto de Sonito. Na altura falava-se de Jerry e Zico. Actualmente os dois jogadores têm disputado a mesma posição e ainda não existe um ponta-de-lança fixo. O que se está a passar?

SF – Jerry é um ponta-de-lança de raiz, apesar de ter jogado como extremo durante a liderança de Litos Carvalha. Mas eu sempre defendi que, naquela posição, ele não ia progredir. Ele é um avançado que sabe tabelar com os colegas e que procura explorar a sua velocidade para visar a baliza contrária, diferentemente de Zico que é polivalente nas duas posições do ataque. Se Jerry joga como ponta-de-lança, Zico tem de ficar no banco.

 

“Precisámos de cinco vitórias e três empates para revalidarmos o título”

Ainda durante a entrevista concedida aos nossos repórteres, Sérgio Faife Matsolo admitiu que a vantagem que tem, de nove pontos, sobre o segundo classificado, não envaidece a Liga Muçulmana.

“Temos mais treze jornadas por disputar, mas que podem ficar reduzidas se, com um esforço redobrado, vencermos cinco jogos e empatarmos três”, um propósito que, segundo o técnico, marcaria a revalidação do título do Moçambola. Numa outra abordagem, Sérgio Faife valorizou a união que existe dentro da equipa técnica que, na sua óptica, é fundamental para o sucesso dos muçulmanos. O técnico explicou que, quando sente a mente bloqueada, a primeira coisa que faz é consultar os seus adjuntos.

 

“Tenho problemas sérios com a minha mulher”

O futebol faz parte da minha vida. Está no meu sangue. É por isso que, todos os domingos de manhã quando não tenho jogo fora de Maputo, eu falto à igreja para ir jogar com os meus amigos. E isto tem-me criado muitos problemas em casa, na medida em que chega a não ser do agrado da minha mulher. Jogo futebol com os veteranos do meu bairro, mas não me intrometo nos assuntos tácticos e técnicos, visto que devo dar o exemplo de respeito pelo trabalho de um treinador.

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