A 76ª edição da Feira do Livro da livraria Minerva Central fechou com chave de ouro na passada sexta-feira com o lançamento do livro de poesia “Não se emenda, a chuva” da autoria de António Cabrita. “Relativamente serena, ainda que condoída aqui e ali”, foi como o escritor, poeta e jornalista classificou a escrita desta sua 5ª obra.
“Este acto pecaminoso vai começar com um texto lido pela Tânia (Tomé) que se chama “A Louca da Casa”. Este foi o meu último poema. Escrevi-o antes de ontem.” Assim iniciou, na passada sexta-feira, na livraria Minerva Central, o poeta, escritor, professor e jornalista português António Cabrita a apresentação do seu último livro de poesia intitulado “Não se emenda, a chuva”.
Após a leitura do referido poema por Tânia Tomé, Cabrita tomou a palavra para dizer: “Depois da leitura deste poema, talvez se perceba porque é que eu não tenho ninguém sentado aqui ao meu lado para apresentar o livro. “A Louca da Casa” complicou-me a vida porque sob a infl uência dela eu convidei o Ricardo Chibanga, o toureiro, e ele não compareceu”, referiu, entre risos.
– Convida o Chibanga – disse ela (a louca da casa) porque tens da poesia uma noção que é uma lide corpo a corpo e não uma coisa de literatos para literatos. Corpo a corpo porque é a minha forma de vida não é o meu hobby.”
Depois dissertou sobre a palavra: “Para os árabes, a palavra é mais interior ao corpo do que os próprios órgãos. Está no cerne. Por isso eles fazem-se explodir. O mais importante para eles, a palavra, no caso a palavra de Deus, permanece intacto. Infelizmente não acredito em Deus, ou antes acredito num núcleo mas que não necessita que lhe atribuamos um nome.
Atribuir um nome a Deus é uma forma de idolatria, mas para mim a palavra também está no cerne e isso assusta-me tremendamente. Esta é uma possibilidade posta por um fi lósofo ainda mais chato do que eu que é o Jacques Derrida. Derrida fala da hipótese da linguagem enlouquecer que é o que pode ter acontecido ao alemão para gerar o nazismo e a cegueira fanática que se seguiu.
É o que acontece a todos nós quando teimamos em não aprender as nuances, por exemplo, entre a multiplicidade, que é uma máquina de produzir diferenças, e a diversidade, que é estática e limita-se ao existente. Com a diversidade temos a tolerância. Com a multiplicidade temos o entusiasmo, o contágio, a mestiçagem e o nosso compromisso no processo.”
Depois o autor citou o brasileiro Mário Quintana que dizia que “a poesia é uma lente que nos ajuda a fugir para a realidade.”
Mas como é que Cabrita “Não se emenda, a chuva”, a sua última obra?
“Este é o meu quinto livro de poesia e é um livro de um homem, enfi m, maduro que já não procura o adjectivo brilhante a todo o custo e que se preocupa agora mais com a exactidão da palavra, do verbo. É um livro relativamente sereno, ainda que condoído aqui e ali. (…) O livro dialoga com a morte, com o amor, com o sexo, com a palavra, com a arte, fala do álcool, do sangue, tudo o que deve ser um livro que se preze como um livro do homem adulto.”
No final, leu três pequenos poemas: o primeiro sobre a morte, o segundo sobre o tempo e o terceiro sobre a família, um valor que só há pouco tempo reconhece.
“Dantes estava-me nas tintas para a família. Mas faz parte do crescimento”, referiu jocosamente, para terminar dizendo que “ainda não é o livro que eu gostaria de publicar em Moçambique porque este ainda é um livro muito escrito a pensar no público de Lisboa e nos leitores de Portugal porque é aí que eu sou conhecido.”
E prometeu: “Está apalavrado um livro a publicar na Alcance que reúne três livros inéditos todos escritos aqui e com todas as referências a esta cidade.