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Serão necessários 27 planetas

Ainda que se multiplicasse por dez as áreas destinadas no mundo inteiro a conservar plantas, animais e outras espécies, não seriam suficientes para enfrentar os grandes problemas do Século 21: o aumento populacional, o consumo desenfreado e o uso ineficiente dos recursos.

E se estas questões não forem enfrentadas, a humanidade chegará aos dez biliões de pessoas em 2050 e precisará de outros 27 planetas Terra para pagar o custo ambiental da demanda por recursos, afirma um novo estudo publicado no final de Julho pela revista Marine Ecology Progress Series.

O tamanho e o número de áreas protegidas em terra e no mar aumentaram drasticamente desde a década de 1980, totalizando hoje mais de cem mil e cobrindo 17 milhões de quilómetros quadrados de solo e dois milhões de quilómetros quadrados em oceanos.

Entretanto, as espécies extinguem- se mais rapidamente do que antes, alerta o estudo. “Para mim é incrível não termos conseguido enfrentar este fracasso das áreas protegidas”, disse o principal autor do trabalho, Camilo Mora, da Universidade do Hawai.

“Surpreendeu-nos que a evidência dos últimos 30 anos fosse tão clara”, disse Mora. A capacidade das áreas protegidas para parar a perda de biodiversidade – redução da variedade e do número de espécies vivas – foi superestimada por muito tempo, segundo os especialistas.

A realidade é que a maioria não está realmente protegida. Muitas são apenas “parques de papel”, isto é, teoricamente protegidas. Mais de 70% inserem-se nesta categoria, alertou. O estudo mostra, ainda, que os gastos mundiais com áreas protegidas são actualmente de 6 biliões de dólares por ano, e muitas não recebem fundos suficientes para uma administração adequada.

Gerir efectivamente estas áreas exige 24 biliões de dólares anuais, quatro vezes mais o investimento actual. “A perda de biodiversidade e as suas consequências para o bem-estar da humanidade são de grande preocupação, o que desatou fortes apelos para se expandir o uso de áreas protegidas para remediar o problema”, explicou o co-autor do estudo, Peter Sale, biólogo marinho e director assistente do Instituto de Água, Ambiente e Saúde da Universidade das Nações Unidas. Mas estas “são uma falsa esperança”, acrescentou.

Consultado a respeito do acordo mundial sobre biodiversidade alcançado em Nagoya, no Japão, para colocar 17% das terras e 10% dos oceanos do planeta sob protecção até 2020, Sale afirmou que “é muito pouco provável que essas metas sejam alcançadas”, devido à crescente necessidade de alimentos e outros recursos.

“Mesmo que estes objectivos sejam alcançados, não se deteria a perda de biodiversidade”, acrescentou Sale. Uma das razões é que, uma vez criada uma zona protegida, a indústria muda-se para outro lugar para extrair recursos.

Outro dos motivos pelos quais as áreas protegidas não são uma resposta é que não podem controlar o impacto da contaminação ou da mudança climática. Por fim, a pressão sobre os recursos do planeta aumenta tão rapidamente que “o problema foge de toda a solução”, ressaltou Sale. A perda de biodiversidade é preocupante, pois trata- -se do único sistema de apoio que a humanidade tem para a sua sobrevivência: fornece desde alimentos, água e ar limpo até recreação e turismo, disse Mora.

A única estratégia hoje é a criação de áreas protegidas, mas “isto é colocar todos os nossos ovos numa única cesta. É necessária uma grande mudança para enfrentar as raízes do problema”, acrescentou Mora. O aumento populacional é a principal causa da perda de biodiversidade.

Quando o número de habitantes do planeta era de cinco biliões, em 1985, o uso de recursos superava o que a Terra podia propiciar de forma indefinida, segundo várias estimativas, disse Mora. Hoje, a população mundial é de sete biliões de habitantes, muito mais do que a Terra pode sustentar.

Para 2050, com a população estimada em dez biliões e sem mudanças nos padrões de consumo, o uso acumulado de recursos naturais equivalerá à produtividade de mais de 27 planetas Terra, segundo o estudo. Para manter os actuais sete biliões de pessoas é necessária uma drástica mudança no uso de recursos.

Actualmente, a pegada ecológica média de cada cidadão dos Estados Unidos é de dez hectares, enquanto a de um haitiano é de menos de um. O planeta poderia sustentar toda a humanidade se a pegada média de cada pessoa fosse de dois hectares, calcula Mora. Se há mais gente, simplesmente haverá menos recursos disponíveis para todos, por isso será necessário um controlo da população, afirmou.

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