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SELO: Vamos acreditar na recuperação do ser humano – Por Cochiwan Tivane

Chegará o tempo em que Moçambique tornar-se-á próspero, um país com mentes brilhantes. A industrialização tornar-se-á uma realidade e os académicos não usarão mais o saber para satisfazer seja quais forem as vontades.

Nesse Moçambique próspero, uma mente inventará a máquina do renascimento, dotada de capacidade para transformar as mais bizarras personalidades como as dos ditadores Hitler, Mussolini e Saddam, em pessoas amáveis e generosas.

As máquinas dessa altura significavam um momento único e de viragem para a humanidade que há muito perdera o direito de ser, de dignidade e honra. Renasceu a esperança de um mundo que palmo a palmo se aproximou da convivência cordial dos animais selvagens.

Incrédulos e desconfiados não faltaram. Afinal, a confiança continua sendo o artigo mais caro do mundo. O projecto da máquina foi apoiado por optimistas e vincou, por aqueles que acreditam que há sempre esperança, que em algum momento o tormento cessa e a todos é garantido um lugar à sombra.

Entre os prós e contras, receios, medos e esperanças a máquina foi aprovada pela Assembleia da República, para purificar os moçambicanos menos rebeldes e os que têm corações sujos.

O teste não mais tardou. Meia dúzia de delinquentes fora testado e os resultados não poderiam ser dos mais encorajadores. Ficou aprovada a eficiência da máquina. Os antes pregadores de terror tornavam-se pessoas de elevados valores morais.

O senhorio, como sempre, com sua capacidade única de ver e agarrar oportunidades quisera comprar a máquina. Seria esta a oportunidade única de ter servos leais e manter a soberba que o caracterizava. Foi uma tentativa fracassada.

A máquina foi orientada para os propósitos do seu criador sob supervisão dos servos do senhorio e, surpreendentemente, dessa vez fomos a prioridade e chamados para a purificação. A mensagem era clara: sereis purificados meu povo para o bem da nação, vós sereis o espelho da nossa pátria amada.

E alguém dizia sempre: “a nossa prioridade sempre foi a base, é lá onde apostamos e investimos todos os nossos recursos”. Paulatinamente, seguindo o gráfico de irrelevância, chegaremos ao topo. Todos nós seremos purificados, incluindo a minha pessoa. Claro, depois de todos vós. Sentenciava o senhorio.

Ouviram se sussurros de desconfiança pelos quartos e bares, afinal ainda era proibido falar em voz alta. Cresceram os temores e fugas, assim como tentativas de descredibilizar o processo por parte de certas elites. Afinal, não é bom ser bom ou as elites nunca são boas? Eu não entendia o medo deles.

O povo, sem escolha, tornou-se puro, amável e mais humano. As ruas ficaram mais limpas e seguras, a Polícia tornou-se desnecessária. As indecências explícitas desmoronaram pelas ruas da baixa da cidade. Até o senhor “auto-estima” perdeu a arrogância e prepotência. Ele também foi abrangido logo no primeiro chamamento, afinal de contas, ele também é povo.

A purificação das massas terminou e ficámos ansiosos em ver a purificação da elite, daqueles que deviam nos governar com nobreza. Quem não estava ansioso em ver os discursos dos famosos porta-vozes da desgraça depois da purificação.

Os discursos baratos e de populismo desenfreado, ponderando o adiamento da purificação para os dirigentes, começaram a ecoar mais altos, mas como que por milagre os visados mostraram uma disponibilidade imediata. Marcou-se se a data do início da purificação dos empregados do povo.

Naquela noite fomos deitar que nem crianças ansiosas em ver o sol nascer novamente para podermos jogar à bola de trapos, brincar com carrinhos de lata, saltar à corda, etc. Foi nessa condição de criança que acordámos, e mesmo antes de os galos mais preguiçosos terminarem os cânticos matinais, a notícia já circulava: juntamente, a máquina e o seu inventor foram “roubados”.

Esse era o cântico do dia. Não sabíamos se devíamos chorar mais pelo inventor ou pela máquina, mas as lágrimas eram inevitáveis, porque depois da purificação havíamos nos tornado mais sensíveis que os celulares modernos de tela táctil. Sentimo-nos desamparados e a nossa condição de criança duplicou, lembramo-nos daquele pai que promete um brinquedo ao filho por bom comportamento, mas no final o valor destinado à recompensa é esgotado num bar.

E assim foi-se a nossa esperança de um país melhor, continuámos mais ovelhas e eles os lobos de sempre. Prontos, foi mais um sonho com final infeliz. Mas se os sonhos são iguais à realidade, por que tentar sonhar!?

Por Cochiwan Tivane

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