A entrevista dada pelo PCA da EAM é muito interessante. Gostaria de fazer alguns comentários.
1- Quando ainda andava no Liceu Salazar, portanto há imenso tempo (agora tenho 76 anos) lembro-me de ter havido uma discussão de meu pai com o Dr. Barros Moura, Director do “Guardian” jornal diário e um senhor das O. Públicas. O tema era a construção de uma barragem no rio Movene, uns diziam que o rio era seco e outros que na época das chuvas era muito caudaloso e provocava grandes inundações. Com uma barragem pode-se armazenar muita água. O que é facto, é que a barragem não se construiu, porquê não sei. Todos os jornais falavam disso.
2 – Mais tarde já com a barragem dos pequenos Libombos em construção viu-se que não seria suficiente. Surgiu então outro Projecto que consistia na construção de furos em Direcção a Norte até Marracuene e Manhiça. Os furos teriam cerca de 200 metros de profundidade, suficientemente afastados do Incomati para não bombearem água salobra. Haveria estações de bombagem não sei a que distância umas das outras. De qualquer forma também este Projecto não foi avante, não sei porque, era vantajoso porque se poderia fazer por fases, ou seja, aos poucos. Além disso era pouco dispendioso.
Parece-me que a água que vai chegar à Grande Maputo em fins 2018 não será suficiente para continuarmos a ter a água que agora é distribuída á população. Não sei se foi tomada em conta os milhares de deslocados que vieram para a cidade devido á seca para não morrerem de sede(e de fome). A minha experiência é que quem vem para a cidade raramente regressa ás terras de origem. Para o ajudar a calcular o crescimento da população posso dizer-lhe que nascem 45 bebés por cada mil habitante, por ano, nos países a Norte do nosso este número é superior.
Neste momento alguns bairros recebem água poucas horas por dia, outros em dias alternados e outros nem isso. Esta situação, resulta da necessidade de diminuir o caudal do rio Umbeluzi encerrando comportas da Barragem dos Pequenos Libombos cuja albufeira estava a atingir um nível crítico e preocupante.
3 – No que se refere às perdas de água pelos canos podres e rotos foi-me descrito, tal e qual, há cerca de 30 anos , quando V. Ministro da Saúde. É muito tempo! O que andar a fazer durante tanto tempo? Devem ter andado a fazer elefantes brancos para aumentarem o prestigio do Presidente, dos ministros e outros que tais que devem ter recebido chorudas comissões dos construtores. Durante esta 3 décadas é impressionante que não lhes tenha passado pelas cabeças arranjar os canos. E não me falem de falta de dinheiro porque nessa altura era fácil obter financiamentos de reabilitação de sistemas de abastecimentos de água.
Acho que e uma boa altura para se explicarem: a) porque não foram substituídos os canos rotos e podres durante cerca de 30 anos? b) porque razão não foi iniciado o programa de abertura de furos em direcção à Manhiça? Sem uma explicação credível e plausível que nos leve deixar de pensar que são um grupo de técnicos incompetentes e preguiçosos que estiveram 30 anos a dormir.
4 – Quanto aos roubos gostava de sugerir que nos prédios se somasse o valor das faturas de todos os condóminos e comparasse o total com o que refere o contador geral do prédio: a diferença será o valor do roubo. Como não é polícia junte todos os documentos com uma queixa-crime a entregar na Procuradora da República da cidade ficando com fotocópia para os seus Serviços. Desejo-lhe os maiores sucessos e gostaria de felicitar o jornalista que o entrevistou.
Por José Maria de Igrejas Campos
Médico especialista em saúde pública
Docente da Faculdade de Medicina da UEM
Membro do partido Frelimo
