Estive em Songo aquando da realização da gala “Ngoma Moçambique”, a 10 de Abril corrente, mas porque gostaria de conhecer melhor a vila cheguei no locala 08 de Abril. Feliz e casualmente, encontrei um grupo de jovens, que por coincidência são docentes do Instituto Superior Politécnico de Songo (ISPSongo), num dos pontos de concentração e entretenimento, onde o consumo de bebidas alcoólicas e o jogo de bilhares é o dia-a-dia após um dia de trabalho em toda a vila de Songo. Pude constatar que aquele não era somente um momento de distracção, mas também para afogar as mágoas de um emprego que se torna desgastante e aborrecido a cada dia que passa. Porquê?
Como em qualquer ponto de Moçambique, as bebidas alcoólicas ajudam a fazer amizades e não foi difícil conhecer um Dr. X e depois outro Dr. Y. Devo antes dizer que são de facto jovens cheios de energia para lidar com inúmeros planos na vida e com vontade de trabalhar. Timidamente, a conversa foi tomando o seu rumo porque reinava o medo de traição e desconfiança entre os docentes.
Há na instituição um Conselho Directivo que na verdade não passa de um grupo de pessoas que, pura e simplesmente, cumpre com as ordens e decisões tomadas pelo director-geral, que é o cabeça pensante e controla tudo como numa empresa privada. Sim, existe o director-geral, o Prof. Doutor Francisco Vieira, que dirige a instituição desde a sua criação e cujo mandato expirou em Abril de 2013 mas até a presente data não foi renovado. Antes,ele fora director da Faculdade de Ciências e durante a sua liderança, segundo relatos, não faltaram casos para pôr os cabelos dos docentes e estudantes de pé.
A questão que coloquei foi: “Como isso é possível? Será que o Governo não vê ou é cúmplice da situação?”. Sim, porque esta é uma grande irregularidade.
A verdade é que muitos que estão lá já pensam numa oportunidade de emprego noutro lugar, não por falta de vontade para trabalhar, mas devido ao clima tenso que reina na instituição. Há aqueles que, mesmo sem perspectiva de colocação, abandonaram a instituição um mês após chegaram lá. Outrossim, é que muitos já tentaram denunciar as várias humilhações por que passam os funcionários, mas sem efeito.
Dois aspectos que me pareceram curiosos são: a política do plano de formação dos docentes e a gestão do quadro pessoal. O primeiro é um dos muitos pontos que têm deixado os jovens docentes desgastados porque o plano e os critérios de indicação dos beneficiários de formação são só do conhecimento do director-geral, restando aos subordinados a implementação e monitorização dos processos em causa.
Quanto à gestão do quadro pessoal, é frequente um funcionário ser retirado de uma posição para outra que nada tem a ver com a sua formação porque o director não gosta da postura da pessoa ou a vítima tem uma posição contrária à que o director pretende.
No ISPSongo o responsável pelo Departamento de Recursos Humanos é actualmente um dos docentes de Inglês e o responsável pelo património é formado em Gestão de Recursos Humanos, só para exemplificar. Ainda, no site do instituto (www.ispsongo.ac.mz), estão publicados resultados finais de um dos concursos públicos. A minha indignação foi ver muitos reprovados, numa altura que em, segundo fui informado, o ISPSongo pretende introduzir novos cursos e necessita de mais pessoal.
De acordo com um dos meus amigos, o grosso dos reprovados com nível de licenciatura é composto por candidatos formados na UNIZAMBEZE, na UNILÚRIO, na UCM, no ISPG e na UP cujo currículo é supostamente desacreditado, no entender do director-geral, que foi a pessoa que elaborou as pautas finais e muitas decisões que culminaram com a reprovação foram tomadas por ele.
Será que o nível ou a qualidade de formação no ISPSongo é melhor que na UNIZAMBEZE, na UNILÚRIO e na UCM a ponto de sua excia Prof. Doutor Francisco Vieira colocá-los em causa?
Na verdade, é difícil saber o quão o director-geral tem um dirigente presente naquela instituição porque passam mais de 70% de dias, por ano, fora da vila de Songo, em Maputo ou a efectuar viagens fora do país cuja agenda só é do seu conhecimento. Segundo um dos docentes, é comum o director-geral chegar de viagem numa sexta-feira e no domingo partir de regresso a Maputo.
A verdade seja dita: algo deve ser feito para mudar o cenário porque o ISPSongo é uma instituição pública. De acordo com os docentes, a instituição parece uma empresa privada onde a gestão financeira é feita pelo dono mesmo existindo um contabilista.
Há mais: o Conselho Directivo daquela instituição é uma fachada para validar e justificar as decisões tomadas pelo director-geral, porque este é um indivíduo de ideias próprias e quase sempre, mais de 90% dos casos, não aceita a opinião dos outros ou não dá tempo para que o seu interlocutor se expresse.
Por Castigo Macoto
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