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SELO: Exmo Senhor Mediador Chefe do Acordo Geral de Paz – Por Jorge Valente

Senhor Mário Rafaelli, a Imprensa nacional anunciou, com destaque, a sua vinda a Moçambique para ajudar a encontrar a paz. Entretanto, a senhor e a Comunidade Internacional mal conhecem a realidade do nosso país, e tomo, desde já, a ousadia de lhe falar sobre algumas coisas de modo a fazer contactos com conhecimento de causa. Moçambique deixou de ser colonização portuguesa e passou a sofrer uma colonização doméstica, em que o sul do país, liderado por gente de origem dessa mesma região, subjuga as regiões centro e norte. Um individuo com consciência no lugar sente e constata esta realidade.

A hegemonia dos que provêm do sul iniciou com a luta armada, quando elementos desta zona, provenientes dos três movimentos de libertação, passaram a considerar reaccionários o pessoal do centro e norte, que discorda de algumas posições que eram tomadas pelo grupo do sul.

Depois de se vencer essa ala do sul, surgiram as execuções sumárias e campanhas de exclusão dos indivíduos do centro e norte de Moçambique. Estas regiões foram consideradas repúblicas vassalas do sul e tidas como apenas para a exploração da matéria-prima e bens de consumo para a metrópole – sul. O testemunho disto reside no facto de todas as oportunidades de desenvolvimento foram concentradas no sul. Logo após a independência viu-se que todos os dirigentes das instituições de Estado foram sempre elementos do sul, e isto ainda continua. Na realidade, o país ficou dividido ao meio, sendo a fronteira o rio Save.

As desigualdades de desenvolvimento colectivo e individual são mais assentes neste país. Os indivíduos do centro e norte são considerados servos, indivíduos sem pensamento nem direito a dignidade. Volvidos quase 41 anos desde que Moçambique deixou de ser colónia, o centro e norte ficaram mais marginalizados do que no tempo do colono. A Frelimo perdeu a gestão da nação e implantou males que só podem ser corrigidos com a alternância governativa. O nível de corrupção, espírito de clientelismo, o nepotismo, a exclusão e o “deixa andar” são mais patentes e, por consequência disto, não há nada que se adquire sem suborno, sobretudo hoje, em que para concorrer a uma vaga de formação precisa-se pagar e o esquema está montado a partir dos ministérios. Nas multinacionais, as pessoas com posições de chefia e com regalias são elementos do sul deste país. Nas embaixadas, os elementos que trabalham são do sul com posições também de chefia.

A criminalidade está a aumentar e a Frelimo montou esquadrões de morte contra os opositores, há relatos de raptos e assassinatos. O país, hoje, pertence a estrangeiros e ao pessoal do sul. O moçambicano vive como estrangeiro na sua própria terra e sujeito a políticas muito más e prejudiciais as iniciativas locais de desenvolvimento. Hoje, muitas pessoas, principalmente na zona rural do centro e norte, vive uma pobreza extrema.

Em Moçambique para se indicar um gestor recorre-se ao critério de amizade e faz-se um círculo de amiguismo para todos comerem juntos. Não se opta por capacidade e competência de serviço. Muitos maus gestores continuam impunes a prejudicar o povo porque são apadrinhados pelos seus amigos e familiares do topo. O nível de sabotagem no exercício de funções de chefia em Moçambique está alto. Não há democracia em Moçambique e a Frelimo continua a pensar que o país é de sua pertença.

Nas cinco eleições que decorreram em Moçambique a Frelimo nunca venceu, mas agarrou-se ao poder para garantir a sua sobrevivência por medo de os seus elementos serem julgados. Algum pessoal da Frelimo, oriundo do centro e norte, nomeadamente Aires Ali, Eduardo Mulembwe, Alberto Vaquina, Filipe Nyusi, Marcelino dos Santos, Eduardo Silva Nihia, José Pacheco, Margarida Talapa, Raimundo Pachinuapa, entre outros, conhecem o colonialismo doméstico implantado neste país pela ala do sul, mas como estão folgados fazem de contas que nada está acontecer.

Volvidos 41 anos em que estamos do colonialismo português, a maior parte dos antigos combatentes está muito pobres enquanto uma minoria está muito rica. Para ludibriar os moçambicanos, a Frelimo canta cegamente a unidade nacional e o país uno e indivisível enquanto o mesmo país está dividido a partir do Save, desde 1975.

O sul está a piorar na sua actuação caracterizada pelo desprezo contra o centro e norte. O não cumprimento do protocolo 4 do Acordo Geral de Paz serviu em grande medida como uma chamada de atenção da humilhação que a Frelimo ia praticar contra o povo, ao expulsar elementos da Renamo das Forças Armadas de Defesa de Moçambique.

A Renamo e o seu líder Afonso Dhlakama são, neste momento, a voz do povo oprimido e que clama pela igualdade de oportunidades. Senhor Mário Rafaelli, como se justifica que quem ganha em 6 das 11 províncias com maioria absoluta fica declarado perdedor das eleições, mas quem ganha em 5 com menor percentagem fica declarado vencedor? Após a fraude eleitoral, a Renamo, bem aconselhada, sugeriu que se criasse um Governo de Gestão, Governo de Unidade Nacional e Autarquias Provinciais, mas a Frelimo negou todas estas alternativas.

Na Assembleia da República a Frelimo não aceita nenhuma ideia nem sugestão da oposição, e impõe as suas vontades. Que democracia se implantou? Muitos académicos subornados pelo regime desdobram-se em campanhas de desinformação para manter a Frelimo a humilhar as regiões centro e norte. O senhor Mário Rafaelli deve visitar estas zonas e outras do sul com vista a fazer uma análise para depois saber mediar esse conflito no sentido de haver a paz.

O que vale haver paz no meio de muitos abusos de direitos humanos e exclusão, em que uma minoria se acha dona do país em detrimento da maioria?

Por Jorge Valente

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