Um dia, eu estava sentado com o meu pai e manifestei o meu desejo de cumprir o serviço militar. A sua resposta foi esta: Meu filho, se tu fores para lá não és mais meu filho e nunca contes comigo como teu pai.
Perguntei ao meu pai, porquê? A resposta/explicação dele foi de que ele é um combatente da luta de libertação nacional mas hoje vive como um desgraçado ou um “zé ninguém…”. “Não tenho nada e já passam anos que submeti documentos ao Ministério da Defesa Nacional com vista a ser integrado no grupo de desmobilizados mas até aqui estou ainda à espera”.
“A vida de combatente desgraçou-me, deixei a minha juventude de lado para ir ao combate, sofri bastante e era normal ficar duas semanas com as mesmas botas e sem tirá-las dos pés, dormia com a roupa do corpo molhada mas hoje não consigo pelo menos dar uma vida digna à minha família e tão-pouco proporcionar um futuro melhor aos meus filhos. E tu falas-me de tropa”, contou-me o meu pai.
Depois destas palavras, com calma e respeito tentei tranquilizar o meu pai e, em seguida, pedi para ver os documentos a que ele se referia. Na verdade são de muito tempo e, realmente, até hoje ele ainda não conseguiu nenhum tostão por ter sido combatente da luta de libertação nacional, nem beneficia das ditas bolsas de estudo para os antigos combatentes e desmobilizados.
O meu pai contou-me ainda que a última vez que se ensaiou um apoio a seu favor, por exemplo, ele foi aconselhado a pedir um empréstimo ao banco no sentido de desenvolver um projecto de rendimento. Os custos seriam supostamente todos suportados pelo Ministério dos Combatentes, porém, tudo não passou de uma falsidade.
Mais tarde, ele recebeu orientações para aguardar com vista a ser integrado no Fundo da Paz, mas também não obteve nada de novo. O meu pai continua à espera e, enquanto isso, o ministro do Interior e a sua comitiva têm estado a fazer apresentações públicas dos homens da Renamo que abandonaram o partido para serem integrados em projectos de reinserção social. Isso é uma mentira. E esses homens não são da Renamo e julgo que se trata de um jogo político.
Por Sefo Assane