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SELO: Camponês VS Ganância

“Os ensaios em campos confinados do projecto WEMA anunciam o início de uma era de organismos geneticamente modificados em Moçambique, fenómeno que alterará por completo os seus sistemas de alimentação e agrícola, a sua biodiversidade e a sua cadeia de valor alimentar. (…) Culturas geneticamente modificadas resultarão no declínio da diversidade de sementes e, o mais certo, os camponeses não poderão semear sementes conservadas por eles. Isto terá implicações nefastas e consequências profundas no sistemas de sementes geridos por camponeses em Moçambique.”

No início de Setembro, colheu-se num campo experimental do Instituto de Investigação Agrícola de Moçambique (IIAM) no Chókwè, aquela que foi, alegadamente, a primeira safra de milho geneticamente modificado plantada no país. A safra, diz a imprensa, é composta por 14 variedades experimentais do famigerado milho WEMA, – sigla em Inglês para “Milho com Eficiência Hídrica para África”.

Nós achamos lamentável. Mais um passo dado na direcção errada, mas já estávamos à espera. Era previsível. No entanto, garantimo-vos: o pior ainda está por vir. Os organismos geneticamente modificados não são compatíveis com a nossa agricultura e vão exterminá-la (a ela e aos nossos camponeses). Aqueles que são inocentes o suficiente para acreditar que são só “sementes melhoradas” para ajudar as populações, não estão a perceber que estão a ser burlados.

Não estão a perceber que as “sementes melhoradas” são o fim da troca de sementes, dos bancos de sementes… Não estão a entender que as “sementes melhoradas” jamais serão suas e que ao aceitá-las estão a colocar-se nas mãos de quem realmente as detém. Não sabem do que estão a abdicar. Mas não é disso que queremos falar hoje. Hoje queremos dizer-vos porquê que os nossos governantes estão a permitir que isto aconteça.

É verdade que a produtividade agrícola do nosso país é muito baixa. Moçambique é um país de pequenos agricultores, onde predomina a agricultura familiar, grande parte da qual, de subsistência. A agricultura comercial é escassa por vários motivos: desde a falta de opções financiamento, a dificuldades de escoamento e transporte, à carência de infra estruturas como mercados, falta de meios para lidar com adversidades climatéricas, entre outros. Todos sabemos disso. É igualmente verdade que algo precisa de ser feito urgentemente para que esse cenário se reverta o quanto antes. Também sabemos disso. Entendemos também que, por vezes, “o óptimo é inimigo do bom” e para andarmos para a frente precisamos de fazer alguns sacrifícios e algumas cedências, mas sacrificar desnecessariamente o amanhã para garantir o hoje é uma burrice que só a ganância ou a preguiça e incompetência podem justificar.

Nós gostaríamos muito de acreditar na tese da preguiça e incompetência. Muito mesmo. Muito nos agradaria poder dizer com convicção que, “havendo vontade política, bem feitas as coisas, estamos certos que poderíamos muito bem desenhar soluções inclusivas que nos permitissem produzir substancialmente, em quantidade e qualidade, sem exterminar o campesinato e sem promover a usurpação das suas terras ou deitar no lixo a riqueza e diversidade genética das nossas culturas.” Gostaríamos mesmo muito de poder crer nisso. Mas só quem não conhece a classe política do nosso país julga essa tese plausível… A verdade, infelizmente, é que estabelecer largas plantações de monoculturas expropriando centenas de milhares de camponeses e escancarar as portas do país a biotecnologia agrícola que está a ser banida mundo a fora, em Moçambique, não é incompetência.

A verdade é que colocar 10 ou 20 mega projectos agrícolas ao encargo de quem pagar mais para os ter, em Moçambique não é preguiça, não é lavar as mãos da responsabilidade de governar esse território ao invés de trabalhar para reunir condições para que os 2 milhões de camponeses que o ocupam produzam o suficiente para comer e ajudar o país. Não é verdade. Pode parecer plausível para alguns, mas o problema do nosso sector agrícola não é a preguiça nem a incompetência de quem o rege. A verdade nua e crua é que o problema é mesmo ganância. O problema são os conflitos de interesse, são as “luvas” milionárias que os nossos governantes cobram a esses lesivos agronegócios que, como uma praga, vão despoletando pelo país, para que sejam devidamente acomodados. A verdade, é que é muito mais fácil e rentável cobrar “para facilitar” a meia dúzia de corporações do que ter de inventar maneiras de complicar ainda mais a vida a milhões de pequenos machambeiros. E pese embora haja por aí muito governante mascarado de preguiçoso e incompetente, não se deixem iludir, é apenas um disfarce, debaixo da sua máscara de inábil servidor público está certamente um mui hábil corrupto. Essa, meus amigos, é a triste verdade.

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