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SELO: Analisando o suicídio como facto social – Por José Franze

O suicídio é um facto social antigo e tornou se uma patologia social de ordem pública que não só depende da influência individual, mas também da própria sociedade. Segundo Durkheim (2014), o suicídio é todo o caso de morte que resulte directa ou indiretamente de um ato positivo ou negativo, realizado pela própria vítima e que esta previa esse resultado “morte”.

Conforme o precursor do estudo do suicídio, Durkheim, existe três principais classes de suicídios, todos inerentes ao funcionamento da própria sociedade, ou seja, as taxas de suicídio são proporcionais ao grau de coesão social, isto é, quanto menor forte for a coesão social, mais elevada é a taxa de suicídio, vice-versa. Estas três principais tipologias de suicídio resumem se fundamentalmente em:

a) Suicídio egoísta-resultante da falta de integração da vítima na sociedade, são casos de indivíduos que se auto excluem do grupo social preponderante, achando se de autossuficiente, mas quando descobre o seu fracasso pessoal acha ser tarde demais para se integrar, aliado ao orgulho, acaba sofrendo sem desabafo, daí o suicídio.

b) Suicídio altruísta-resulta do excesso de integração social, são casos de indivíduos que sacrificam suas vidas em prol da maioria. Exemplo concreto é de homem bomba.

c) Suicídio Anômico resultante da ausência de regras sociais, ou existindo, a vítima não se sente integrado na sociedade, pela desorganização social, que acaba substituindo as relações sociais direitas por indiretas, onde a impessoalidade torna se um modo de vida recorrente e as relações sociais são feitas por detrás de interesses e ao mesmo tempo são ocasionais e fracas. Na contemporaneidade são exemplos disso: o contacto entre cobrador de autocarro e passageiro, entre vendedor e comprador. Neste caso, a solidariedade mecânica (relações sociais de indivíduos que partilham as mesmas crenças e objetivos), passa a ser substituída pela solidariedade orgânica, em que os indivíduos unem se por um objetivo que surge pela divisão do trabalho social especializado (DURKHEIM, 2003; MARX, 2013).

Os locais onde ocorrem o suicídio anomico, caracterizam se pela erosão das instituições de controle social informal (família, escola, religião), ou seja, o adulto já não consegue reprimir o comportamento desviante da criança ou da vizinhança, o que contrasta com as sociedades tradicionais.

Este enfraquecimento das instituições de controle social informal é resultado da heterogeneidade étnica cultural no mesmo meio social, originando um “conflito cultural”.

Causas do suicídio

Em Moçambique, o suicídio ocorre com maior frequência em zonas periféricas que em zonas centrais, e esta ocorrência está ligada a falta de integração social, resultado da desorganização social, onde o indivíduo perde referência e inspirações.

São igualmente apontadas como principais causas do suicídio: problemas de índole social, advindos da exclusão sócio econômica, por um lado. Por outro lado, problemas conjugais (traições por exemplo) e problemas de saúde.

Principais sinais

Uma pessoa propensa ao suicídio apresenta dentre vários sinais:

a) Isolamento social da vítima;

b) Consumo excessivo de bebidas alcoólicas, como forma por ela encontrada de se auto desabafar dos seus problemas sociais, uma vez que não consegue se aproximar dos outros que pudesse lhe dar um conselho mais eficaz para ultrapassar o problema.

O suicídio não constitui apenas um problema individual, mas também de um problema da sociedade, porque depende da coesão social.

Os mais frequentes no mundo, resultam da fraca integração social, trata se de suicídio anômico e egoísta. Conforme Durkheim (2014), os suicídios ocorrem com mais frequência aos protestantes do que aos católicos, devido em parte ao seu grau de civilização social. Na sua análise social dos suicídios, o autor concluiu que o mesmo é mais recorrente em pessoas casadas, mormente de status baixo. Conforme ele, a dinâmica do casamento e da vida familiar propencializa a pratica deste fenômeno social.

Diferença entre os três tipos de suicídio

Nas sociedades modernas, conforme Durkheim (2014), predomina o suicídio anômico e difere dos outros por depender não da maneira como as pessoas são vinculadas à sociedade, mas pelo modo como ela- às regulamenta. O suicídio egoísta surge do fato de as pessoas já não entenderem a razão da sua vida. Altruísta resulta da super- integração social.

Neste caso, o suicídio anomico e egoísta tem uma relação comum, o fato da percepção de que a sociedade não está suficientemente presente aos indivíduos (DURKHEIM, 2014, P. 254).

Em suma: indivíduos que se matam sempre passam por um problema social, podendo ser familiar (traição, divórcio, doença crônica etc) ou por orgulho ferido.

A tentativa de suicídio a luz do código penal moçambicano não é crime para o titular da vida, pois parte se do princípio que ele é proprietário da sua vida, mas pune se severamente quem auxilia.

A erradicação de suicídio passa necessariamente por uma boa integração social ou coesão social. Neste caso, considera se coesão social como variável independente ou explicativa do suicídio e a sua taxa, como variável dependente.

Por José Franze

Doutorando em Sociologia pela UFPR-Brasil

Bibliografia DURKHEIM, Émille. O suicídio. Estudo de sociologia. São Paulo: EDIPRO, 2014

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