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SELO: A guerra das florestas – Por Benedito Machipane

A “Pérola do Índico” ou “Varanda do Índico” tem no litoral 8 províncias, 40 distritos, 12 cidades e 43% da população (INE, 2001). Nesta área geográfica algumas actividades podem alterar a morfologia, provocando a redução de praias e perda de habitats; podem pressionar o solo reduzindo areias nas fundações protegidas o que pode colocar em risco as obras; alterando os valores paisagísticos e dando asas à transgressão marítima.

Compatriotas, a transgressão é um fenómeno visível em Moçambique e muito notável na cidade da Beira. Este fenómeno resulta do aquecimento global. Exemplo disso são os dados de meio-século – 1950-2000 no Vale do Limpopo (Xai-Xai e Chókwè), que mostram a subida da temperatura média em 1.4ºC (Machipane, 2002) – tese de licenciatura.

A realidade do aquecimento é global e isto pode vulnerabilizar o litoral, porque altas temperaturas degelam a criosfera (glaciar/geleira) que drena nos oceanos, aumentando o nível médio dos mares que avançam e transbordam sobre os continentes.

Ora, o que temos verificado na nossa orla marítima é uma autêntica invasão de “floresta de concreto”, isto é, gigantescas obras há menos de 1 km e às vezes menos de 500 metros do limite da maré baixa e nas zonas protegidas, como as Barreiras da Maxaquene, que hoje em dia albergam a floresta de concreto que vai substituindo a floresta de casuarinas e eucaliptos, no coração da cidade de Maputo.

Ao longo da Costa do Sol também há super-infraestruturas há menos de 1 km da maré baixa. Por hipótese, consideremos que o nível de marés tenha aumentado nos últimos 30 anos e recordemo-nos que estamos sujeitos à maremotos ou então tsunami.

De certeza, os estudos geofísicos garantiram a implantação da floresta de concreto mas é bom valorizar a dimensão climática e eustática. Por exemplo, no Brasil vimos casas ruírem em zonas íngremes como a das Barreiras da Maxaquene depois de intensas enxurradas. Esta avalanche de casas foi causada pela intrusão de concreto, derrubando a vegetação. Isto, deve servir-nos de alerta.

Nas Barreiras da Maxaquene, a “floresta de concreto” avança sobre a floresta vegetal de casuarinas e eucaliptos que tinham lá o seu habitat e enriqueciam o ecossistema, dando um pulmão fresco à cidade mas hoje muitas plantas estão secas e quero crer que se houvesse uma sequência de enxurradas, seguir-se-ia um cenário desastroso, pois alguns dos edifícios já têm as fundações a descoberto, é o caso dos edifícios próximos ao jardim dos professores na Av.Patrice Lumumba, defronte à Escola Secundária Josina Machel, ex-Liceu Salazar.

É desaconselhável ocupar a orla marítima com mega-construções, porque é área de risco e deve ser protegida, pois, se a tendência do aquecimento mantiver por mais décadas como prevê-se, a transgressão será irreversível e desastrosa.

Neste período geológico – Cenozóico, ocorre o ciclo eustático, quer dizer, transgressão e regressão marítimas que relacionam-se com oscilações de temperatura que criam os ciclos glaciários e períodos quentes.

Nós temos sinais de transgressão na Beira, cidade que está abaixo do nível marítimo e também com a submersão da Ilha Xefina do Meio. Isto significa que estamos sujeitos a um novo traço cartográfico, com o risco de conflitos de terras. Assim, podemos, inesperadamente, ter edifícios mergulhados no mar.

Por Benedito Machipane

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