Para quem deseja navegar num mar de delícias e em busca dos melhores sabores da tradicional cozinha moçambicana, o destino certo são os pratos da Zambézia. Para o efeito, o @Verdade procurou, um pouco por todo o Maputo, lugares onde a cozinha da “terra do coco” é o cartão – de – visita e constatou que grande parte dos pratos confeccionados nesses lugares não faz jus à sua origem.
A cozinha moçambicana é uma das melhores do mundo, dispõe de um património bastante rico e uma grande variedade de receitas e de condimentos da mais alta índole gastronómica. Para além de ser muito rica e variada, possui sabores inigualáveis e uma qualidade quase sem precedentes.
Falar da gastronomia moçambicana é falar de sabores que se entrelaçam e à qual é impossível resistir. O impossível também é falar-se da cozinha moçambicana, sem se fazer menção a uma província das mais ricas em gastronomia: a Zambézia, lugar que foi buscar o nome ao rio Zambeze. Esta parcela de Moçambique é famosa, não só pelo grande rio, pelas enormes palmeiras, pelas vastas plantações de chá, mas também pela sua cozinha autenticamente tradicional e bastante condimentada.
A sua gastronomia é baseada no coco e caracteriza-se pela sua excelência e pelo apelo que faz aos paladares mais exigentes. Tem como pratos principais a mukapatha, a galinha à zambeziana e o mucuane.
É conhecida em quase todo o país, mas o “@Verdade” constatou que, no grande Maputo, poucas são as pessoas e restaurantes que conseguem preparar com o devido esmero, mantendo o sabor e o paladar da tradição zambeziana.
No grande Maputo, há uma data de casas especializadas na comida zambeziana, nas quais o prato mais popular é o frango à zambeziana. Aliás, dos diversos restaurantes e “take-aways” que servem pratos tipicamente daquela zona, alguns ostentam o nome da província mas confeccionam o prato mais famoso da gastronomia do ‘pequeno Brasil’ com o frango brasileiro e em moldes não tradicionais.
No cruzamento entre as avenidas Eduardo Mondlane e Amílcar Cabral podemos encontrar o Take-Away Frango à Zambeziana, um espaço bastante concorrido. O fim-de-semana tem sido o período de maior procura. Na avenida Mao Tse Tung, um pouco depois da esquina entre esta e a da Base N`tchinga, encontra-se o Restaurante Take-Away Zambézia, onde o prato típico da Zambézia que se pode saborear é o afamado frango. Os principais clientes são pessoas de classe média e média-alta.
São poucos os restaurantes que mantêm o sabor e o paladar típicos da região. Na ronda que o @Verdade efectuou pela cidade de Maputo, o único lugar digno de menção é o restaurante “O coqueiro”, sendo as seguintes as suas especialidades: mucapata, mucuani com camarão, feijão nhemba e quiabo com camarão.
Tradicional e modesto. Essas são as únicas palavras que expressam rigorosamente o que é na essência o restaurante “O coqueiro”, que funciona na baixa da cidade de Maputo, concretamente na Feira Popular e tem uma história para contar.
A sua história perdura há vinte anos, quando Carima Khan da Graça, zambeziana com muito orgulho, por iniciativa própria e fundos próprios, decide abrir um restaurante que servisse especificamente comida típica da sua terra. No início, muitas pessoas não acreditavam no valor daquela casa de pasto. Rapidamente, tornou-se um sucesso para felicidade dela e dos seus visitantes. No começo, o restaurante tinha como público-alvo os naturais da Zambézia residentes na cidade de Maputo que desejassem matar saudades dos pratos da terra.
Porém, foi ganhando a simpatia de outros moçambicanos das mais diversas camadas sociais e origens. E não só. Também tem granjeado a simpatia de estrangeiros que visitam o país, dentre eles figuras de renome internacional na área musical, empresarial e político.
É um verdadeiro restaurante de família. Actualmente, sob responsabilidade de Marco Aurélio de Oliveira Graça, cozinheiro há mais de vinte anos, e seus irmãos, filhos de Carima da Graça, o restaurante caiu nas graças do público. Os motivos são mais que muitos. Desde a comida magnificamente confeccionada em moldes tradicionais, passando pelo atendimento personalizado de Marco Aurélio e o seu pessoal até a simpatia da chef de cozinha, a D. Isabel. O restaurante conta com um número razoável de empregados, na sua maioria oriundos da Zambézia.
Os preços são convidativos – assim dizem os clientes fiéis da casa – bastam alguns meticais para se comer tudo o que se quiser. A galinha à zambeziana custa 220 meticais, a mukapatha 80 meticais, o mucuani e o feijao nhemba custam 150 meticais o prato e o quiabo com camarão está fixado em 160 meticais, tudo confeccionado à base de coco e em moldes tradicionais. Segundas, Quintas, Sextas e Domingos são os dias de maior procura. Os pratos levam no máximo 45 minutos a serem confeccionados.
Durante a semana, principalmente às Segundas, Terças e Quintas-feiras, os pratos mais procurados têm sido: a mukapatha, o quiabo com camarão e galinha à zambeziana. Mas, as alternativas não se cingem a estas iguarias, as opções são várias. O importante é não se entusiasmar com a beleza dos pratos que demonstram variadas nuances. Música não falta, principalmente aos Domingos, dia em que, por tradição, se podem desfrutar os ritmos da terra que só o músico da casa sabe servir nas proporções exactas.
O segredo do sucesso dos pratos, segundo Marco Aurélio, está no cumprimento rigoroso da receita na hora de preparar e na humildade que consiste em “ser para ter”, pois ele acredita que “ter não é ser”.
O restaurante também serve por encomenda, e tem participado nas feiras organizadas pelo Ministério de Turismo.
Os pratos
Os pratos mais requisitados, em toda a cidade, por uma grande maioria dos apreciadores da cozinha zambeziana são a mukapatha, que pode ser servida com frango ou peixe de preferência assado, que ganha um sabor mais requintado se preparado em panela de barro. O frango à zambeziana e o mucuane, confeccionados com folhas da mandioqueira, camarão e papaia, podem ser acompanhados com xima ou arroz de coco. O quiabo com camarão, geralmente servido com xima feita com farinha de mandioca, é também uma refeição em que é possível apreciar cada ingrediente.
Os pratos típicos da Zambézia, na sua maioria, são normalmente preparados em ocasiões especiais e familiares. São relativamente fáceis de preparar, desde que se tenham os ingredientes e se sigam fielmente e na íntegra as receitas. Aqui ficam algumas dicas para preparar e manter o sabor da galinha à zambeziana e da mukapatha.
Para confeccionar a galinha à zambeziana deve-se ralar a polpa do coco para dentro de uma bacia, e deita-ser um pouco de água quente aos poucos, mexendo-se lentamente com as mãos até ficar um leite cremoso. O coco deverá ser espremido para se obter um melhor resultado. Com o frango limpo e temperado, este é assado em fogões a carvão em brasa e, à temperatura baixa, vai-se regando constantemente com o molho.
Para se preparar a mukapatha, é necessário lavar-se o arroz e o feijão soroco sem casca. Põem-se ambos a cozer numa panela com água e sal, durante vinte minutos. Ralados os cocos, e com um pouco de água morna, espreme-se o leite e junta-se ao preparado anterior. Deixa-se no lume, mexendo-se de vez em quando com uma colher de cozinha, até o feijão cozer e o molho secar. Deste modo, está pronto para servir.
Se porventura quiser experimentar outros sabores da cozinha típica da Zambézia, não se esqueça de degustar as sanavas, bolinhos feitos de farinha de arroz extraído da machamba, e as patanicuas (doces de coco).