Com vista a contrabalançar o poderio americano
Em mais uma visita de trabalho à Rússia, Hugo Chávez voltou a assinar acordos no campo militar com o gigante russo, naquilo que é visto por muitos como uma atitude desafiadora dos dois países face aos Estados Unidos da América.
“A Rússia e a Venezuela selaram, na sexta-feira última, uma aliança estratégica que tem vindo a forjar-se desde o início desta década destinada a constituir um contra-peso sólido à influência norte-americana”, afirmava um comunicado do Kremlin, emitido por ocasião da sétima visita de Estado do presidente venezuelano, Hugo Chávez aquele país em outros tantos anos.
Depois dos encontros na quinta- feira com o primeiro-ministro Vladimir Putin e no dia seguinte com o presidente Dimitri Medvedev, o mandatário venezuelano saiu da Rússia com dois acordos de envergadura em matéria de energia e com a promessa russa de conceder a Caracas um crédito de mil milhões de dólares para a compra de armas e de equipamento militar de fabrico russo. A oferta efectuou-se no dia em que Medvedev anunciou que a Rússia investirá na modernização do sistema de mísseis e de submarinos nucleares.
As compras incluirão, segundo fontes da indústria militar russa, aviões, helicópteros, navios de guerra, submarinos e blindados. Recorde-se que entre 2005 e 2007, Moscovo e Caracas assinaram uma dezena de contratos no valor de 4.400 milhões de dólares, incluindo a venda de 24 caçasbombardeiros e meia centena de helicópteros de combate.
Quanto ao acordo no sector energético este contempla a constituição de um consórcio entre as principais empresas russas do sector, entre elas a Gazprom e a estatal PDVSA (Petróleos da Venezuela). A colaboração deverá estenderse à exploração de jazigos da bacia do Orinoco e de outras zonas, extracção de hidrocarbonetos e construção de infraestruturas. Moscovo considera fortemente ainda a hipótese de auxiliar a Venezuela no desenvolvimento da energia nuclear, se bem que o assunto ainda não figure nos acordos assinados.
Lembre-se que a Gazprom, empresa que possui o monopólio do gás russo, já está presente na Venezuela, onde investiu cerca de 110 milhões de dólares e planeia iniciar em Outubro perfurações de prospecção na costa deste país.
Saliente-se que desde a compra da Sibneft, a Gazprom converteu-se não só na principal empresa de gás como também numa das principais petrolíferas russas, e observa com interesse a exploração de jazigos de petróleo noutros países. A aliança entre a Rússia e a Venezuela consolidou-se nos últimos anos, culminando este mês com a visita à Venezuela de dois bombardeiros estratégicos russos com capacidade para transportar armas nucleares e com manobras navais conjuntas previstas para Novembro.
A Rússia advoga pelo fim do mundo unipolar e pensa que o poder dos Estados Unidos está em decadência. Moscovo aproveita assim o momento para forjar alianças em regiões afastadas dos seus interesses vitais, como a América Latina. O Kremlin pretende que a Venezuela desempenhe hoje um lugar semelhante ao de Cuba para a União Soviética nos anos 60, com a aliciante ainda da riqueza em hidrocarbonetos que a pátria de Simão Bolívar possui. “A América Latina está a converter-se num claro anel da cadeia que levará o planeta a um mundo multipolar”, declarou Putin. “Prestaremos cada vez mais atenção a este vector da nossa política exterior.
Cartão vermelho para Merkel” Depois da guerra com a Geórgia, e ante a reacção hostil dos Estados Unidos face às acções russas, as relações com a Venezuela parecem ter recebido um novo impulso. Moscovo, sentindo-se isolada, busca reforçar os laços com potenciais aliados, ainda que estes sejam, como Chávez, ruidosamente anti-americanos.
O raciocínio é simples: as relações com Washington são tão más que pouco podem influenciar a aproximação entre Moscovo e Caracas. Saliente-se que apesar do apoio da Venezuela à Rússia na guerra com a Geórgia, Chávez não reconheceu a independência da Abkazia e da Ossétia do Sul.