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Rússia dá asilo de um ano a Snowden e a cúpula Obama-Putin está em dúvida

A Rússia concedeu, Quinta-feira (1), um ano de asilo ao fugitivo norte-americano Edward Snowden, permitindo que o ex-prestador de serviços da inteligência dos EUA saísse discretamente do aeroporto Sheremetyevo, onde passou mais de cinco semanas num limbo jurídico.

A decisão irritou o governo dos EUA, que gostaria de receber Snowden para julgá-lo por ter revelado programas secretos de espionagem governamental. A Casa Branca sinalizou que o presidente Barack Obama poderá boicotar uma cúpula em Setembro com o seu homólogo Vladimir Putin, e um funcionário disse que uma reunião de alto escalão na próxima semana está “no ar”.

“Vemos isso como um desdobramento infeliz, e estamos extremamente desapontados com isso”, disse o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney. “Estamos a avaliar a utilidade da cúpula.” Antes de fazer as revelações, no começo de Junho, Snowden viajou para Hong Kong, e de lá voou a 23 de Junho para Moscovo.

Sem visto e sem passaporte válido, ele foi impedido de passar pela migração, enquanto Washington pressionava Moscovo e outros governos a não concederem asilo a ele. “Nas últimas oito semanas vimos o governo Obama não mostrar nenhum respeito pela lei internacional e interna, mas no final a lei está a vencer”, disse Snowden ao grupo WikiLeaks, que luta contra sigilos governamentais e tem prestado assistência a ele.

“Agradeço à Federação Russa por me conceder asilo em concordância com as suas leis e obrigações internacionais.” Granuladas imagens de TV mostraram o documento dado a Snowden, semelhante a um passaporte russo. Lá era possível ver a validade de um ano, a partir de 31 de Julho.

Um advogado russo que presta assistência a Snowden, de 30 anos, disse que ele irá para um lugar seguro, o qual permanecerá secreto, e que poderá trabalhar e viajar livremente dentro do país. A TV estatal russa mostrou uma foto de Snowden, usando pasta e camisa azul, a entrar num carro cinzento, guiado por um jovem de boné.

“Ele é o homem mais procurado do planeta”, disse Anatoly Kucherena, o advogado dele, que descreveu o seu cliente como “psicologicamente exausto” depois da clausura num hotel do aeroporto. “Imagine você diariamente (ter que ouvir): ‘Estimados passageiros, o voo para Nova York, o voo para Washington, o voo para Roma…'”, disse o advogado. Pelo Twitter, o WikiLeaks agradeceu “ao povo russo e a todos os que ajudaram a proteger o sr. Snowden”. “Ganhamos a batalha – agora, a guerra”, disse a organização.

Nicarágua, Bolívia e Venezuela haviam oferecido refúgio a Snowden, mas não há voos directos de Moscovo para a América Latina, e ele temia que os EUA interceptassem um voo em que ele fizesse conexão. Por isso ele precisou de permanecer na área de trânsito, considerada pela Rússia como uma zona neutra.

Kucherena disse que deu a Snowden livros russos para ele passar o tempo, e contou que o norte-americano começou a aprender o idioma local, preparando-se para a permanência – que pode ser prorrogada depois do primeiro ano.

Emprego e casamento

Não está claro o que Snowden pretende fazer na Rússia, mas ele teria dito que tem a intenção de viajar pelo imenso país. O VKontakte, espécie de Facebook russo, já lhe ofereceu emprego. Ele também recebeu pelo Twitter uma proposta de casamento de Anna Chapman, a glamorosa ex-agente deportada dos EUA para a Rússia numa troca de espiões que aconteceu em 2010, mas parecia ser coisa da Guerra Fria.

Depois de semanas de relutância em conceder asilo a Snowden, o Kremlin demonstra agora estar a dar um maior apoio ao norte-americano, mas Yuri Ushakov, assessor de política externa do governo russo, minimizou o risco de deterioração nas relações com os EUA.

“O nosso presidente já manifestou a esperança muitas vezes de que isso não irá afectar o carácter das nossas relações”, afirmou. Mas a reunião da próxima semana dos secretários norte-americanos de Estado, John Kerry, e Defesa, Chuck Hagel, com os seus homólogos russos também está ameaçada, disse uma fonte oficial dos EUA à Reuters, sob anonimato.

Tampouco está claro se Obama poderia considerar um boicote à cúpula do G20 na Rússia, em Setembro, imediatamente depois da cúpula prevista com Putin, ou então à Olimpíada de Inverno de Sochi, em Fevereiro. Putin diz que deseja melhorar as relações com os EUA, previamente abaladas por questões como o conflito na Síria e o tratamento rude do governo russo a oposicionistas e ONGs financiadas pelo exterior.

Mas ele corria o risco de parecer fraco se entregasse Snowden aos EUA. Mais de metade dos russos tem opinião favorável sobre Snowden, e 43 por cento queriam a concessão do asilo, segundo a pesquisa divulgada esta semana pelo instituto independente Levada.

Semanas atrás, Putin disse que Snowden só poderia receber asilo se parasse de realizar actividades nocivas à segurança dos EUA. Não está claro se Snowden aceitou essa condição, pois já declarou que não considera suas acções como sendo hostis aos EUA. As divulgações realizadas por Snowden já causam consequências diplomáticas.

China, Brasil e França manifestaram preocupação com os programas de espionagem, e as relações dos EUA com vários países latino-americanos ficaram abaladas.

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