Uma reunião da dividida oposição síria transformou-se em pancadaria, esta Terça-feira (3), no Cairo, no Egito, o que deve desanimar os líderes ocidentais e árabes que pedem mais unidade contra o presidente Bashar al-Assad. Um grupo curdo abandonou a reunião, dando início ao tumulto e levando alguns delegados a gritar “escândalo, escândalo”. As mulheres choravam enquanto os homens trocavam socos, e os funcionários do hotel onde a reunião acontecia apressaram-se em retirar as mesas e cadeiras, enquanto a confusão espalhava-se.
“Os curdos retiraram-se porque a conferência rejeitou um item que diz que o povo curdo deve ser reconhecido”, disse Abdel Aziz Othman, do Conselho Nacional Curdo. “Isso é injusto, e não vamos mais aceitar ser marginalizados.”
Depois de 16 meses de rebelião contra Assad, a dificuldade em reunir os grupos étnicos e religiosos da Síria sob uma liderança comum deve dificultar a busca da oposição pelo reconhecimento internacional.
“Isso é muito triste. Terá más implicações para todas as partes. Deixará a oposição síria com uma má imagem e desmoralizará os manifestantes no terreno”, disse o activista Gawad al-Khatib, de 27 anos.
Ao contrário do que ocorreu com outros líderes confrontados com protestos da chamada Primavera Árabe, Assad consegue manter-se no poder, em parte pela sua disposição de usar a força indiscriminadamente contra os seus oponentes, mas também pelas divisões dentro da população, entre grupos da oposição e na comunidade internacional.
A Rússia, tradicional aliada da Síria, usa o seu poder de veto na Organização das Nações Unidas (ONU) para impedir qualquer tentativa de governos ocidentais e árabes de impor punições a Assad.
Os Estados Unidos e potências europeias, também, demonstram pouco apetite por uma intervenção militar nos moldes da ocorrida no ano passado na Líbia.
A reunião no Cairo foi organizada pela Liga Árabe, que não esconde o seu apoio aos rebeldes anti-Assad.
Um diplomata da entidade disse que a oposição síria muitas vezes mostra-se “caótica”, mas havia obtido avanços na aprovação de documentos que delineavam os princípios que devem nortear uma nova Constituição e a eventual transição.