O cineasta francês, Alain Resnais, 86 anos, e que há 50 anos deixou para a posteridade o austero e inovador “Hiroshima mon amour”, Hiroshima meu amor, fez soprar nesta quarta-feira em la Croisette um vento de fantasia e leveza com “Les Herbes folles” – uma história interpretada por um “casting” surpreendente.
Alain Resnais, que completará 87 anos no dia 3 de junho, não colocava um filme em competição em Cannes desde 1980, com “Mon Oncle d’Amérique” Meu tio da América, que lhe valeu o Grande Prêmio Especial do Júri e o da Crítica Internacional. Apresentou foram de competição, em 2002, “Je t’aime, je t’aime”.
O filme “Les Herbes folles”, muito aplaudido na projeção para a imprensa, representa a adaptação fiel do romance “L’incident”, de Christian Gailly. O título do filme evoca as plantas que crescem à mercê do vento, em local onde não são esperadas. A dentista Marguerite Muir (Sabine Azéma) tem a bolsa roubada. Georges Palet (André Dussolier) encontra a carteira e a entrega a uma delegacia de polícia.
Intrigado pela fotografia da identidade desta mulher, ele procura entrar em contato com ela. A história poderia parecer banal, mas não o é em seu desenvolvimento nem em seu tratamento, tanto por parte do diretor do filme quanto do escritor do livro. Alain Resnais lembrou, durante entrevista à imprensaa, que se seguiu à projeção, que Christian Gailly havia sido saxofonista, para explicar o ritmo “sincopado de jazz” do filme.
A meneira de Christian Gailly empregar a sintaxe “dava os efeitos que me parecem muito perto das improvisações do jazz e da música em geral”, explicou o diretor, indicando que a música de Mark Snow foi utilizada durante a filmagem para dar o ritmo.
O filme, do começo ao fim surpreende o espectador de mil maneiras: diálogos inesperados, absurdo de situações, turbilhão de achados visuais. Tudo isso é apresentado por um casting brilhante, com Sabine Azéma e André Dussolier na cabeça, assim como Roger Pierre num papel coadjuvante. Em outros papéis mais ou menos importantes, estão presentes Anne Consigny, Emmanuelle Devos, Mathieu Amalric, Michel Vuillermoz, Annie Cordy, e a voz de Edouard Baer.
O realizador de “Hiroshima meu amor” e “O ano passado em Marienbad” (1961) passa ao mundo, desde o início, a imagem de um cineasta cerebral, adaptando autores difíceis como Alain Robbe-Grillet, Marguerite Duras e temas complexos.