Quando nas vésperas do natal, a Companhia Municipal de Canto e Dança da Matola (CMCDM) colocou (através da dança) a nu, o seu ponto de vista sobre o ano prestes a terminar, a expectativa era que em 2012, os conseguissem renascer. No entanto, se a façanha irá ocorrer, só o tempo pode revelar…
Em 2011, os filhos do velho Matola (do outro lado da província de Maputo) encerraram o ano com um anseio: “Renascer!” Eis que a Companhia de Canto e Dança da Matola, que é o maior projecto cultural daquela urbe, se lançou no espírito do povo, realizando a coreografia “Renascer”.
Na verdade, o concerto em que a Timbila e o Batuque, dois instrumentos que engrandecem a nossa cultura, se mesclaram de forma mestra, propondo novas sonoridades, estava previsto para arrancar às 20 horas, o que não sucedeu.
Foram 30 minutos de atraso. Naquela noite (do dia 23), muita gente abdicou do convívio familiar para testemunhar a festa do canto e da dança tradicionais. No rosto dos munícipes aglomerados no Auditório Municipal da Matola, o local que acolheu o evento, muita ansiedade e expectativa podiam-se ler.
Passado algum tempo, a equipa técnica e os mentores da iniciativa superaram os entraves. O que sucedeu, mais adiante, foi uma festa sem precedentes. É que conforme @Verdade presenciou até às 18 horas já havia defronte do recinto do Auditório Municipal da Matola, uma “avalanche” de pessoas, de todas as faixas etárias.
Foram duas horas de muito canto, dança, animação, mas, acima de tudo, de reflexão. Por essa razão, no fim da cerimónia, o edil da Matola, Arão Nhancale, estabeleceu uma relação crise/sofrimento e vontade de superação do povo na luta pelo desenvolvimento, tudo analisado à luz do que viu em palco.
Para si, o “Renascer” não se difere de uma “história que vindo do sofrimento retrata?o, carregando consigo a esperança na vitória”. Num outro desenvolvimento, Nhancale fez uma analepse para recordar que “o país viveu um triste cenário nas cheias do ano 2000 que devastaram milhares de famílias, dizimando vidas humanas. E a Matola também sofreu”.
Renascer nas Seychelles
Na ocasião em que o edil da Matola felicitava os bailarinos da CMCDM pelo feito, ficou-se sabendo que em 2012 aquele grupo de artistas da dança irá actuar nas ilhas Seychelles por ocasião do Carnaval a acontecer em Fevereiro.
Será uma forma de elevar cada vez mais “a nossa bandeira. Os jovens irão posicionar?se como embaixadores da nossa cultura”. Afinal, “já actuaram em países como África do Sul e Suazilândia, por exemplo”, recorda Nhancale.
Comprometidos com a cultura
Maravilhado com o que viu, o edil da Matola acabou comprometendo-se em apoiar cada vez mais aquele agrupamento cultural de todas as formas. Por isso, “o que nós juramos é que a CMCDM deve, doravante, ser o melhor grupo de canto e dança de Moçambique”, acrescenta.
A consequência imediata de tal comprometimento é que em 2012, quando a Matola celebrar o seu 40º aniversário desde que foi elevada à categoria de cidade a CMCDM realizará a sua primeira sessão de gala, depois de 10 anos de existência.
No fim do show, o sentimento que embalava os presentes era de eterna saudade que acabaram de ver. Por exemplo, reagindo ao que acabara de ver, Davide Fulane, acabou revelando que “Há bastante tempo que não assisto os espectáculos deste grupo cultural. Tinha, inclusive, jurado que este ano não podia acabar sem que eu visse dançarinos, os jovens desta companhia a mostrarem o que melhor sabem fazer: “cantar e dançar”.
Para si, “companhia serve de exemplo para os jovens matolenses e não só, na preservação da cultura moçambicana. Não obstante as influências ocidentais que (sobremaneira) têm interferido na nossa cultura. Devemos preservar o que é nosso, pois é o que (culturalmente) nos dignifica”, ajuntou.
Uma avaliação negativa não é a feita pela Vánia, uma jovem estudante que acedeu ao Auditório Municipal para, renascer com os bailarinos da CMCDM. “Como um conjunto cultural de dança, esses jovens actuam bem. Deliciaram?nos com uma coreografia curiosa, com passos altamente sincronizados, bem combinados. Parece até que se trata de uma pessoa multiplicada em tantas outras. Afinal, dançam da mesma maneira, articulam-se perfeitamente”, disse
Engolidos pela morte
Por seu turno, os artistas, que se sentem estimulados a trabalhar cada vez mais pela cultura tradicional, fizeram um balanço positivo do concerto, no entanto, acerca do ano prestes a findar o balanço não é, necessariamente, positivo. Basta reparar que duas unidades do grupo foram consumidas pela morte.
“Isto foi um abalo para nós. De qualquer modo, não vergamos, quisemos e vamos trabalhar afincadamente como forma de homenagear os nossos colegas que partiram. Deixaram o seu legado cá entre nós: trabalhar e fazer o mundo renascer”, comentam.
Foi assim que, com o concerto Renascer, a Companhia Municipal de Canto e Dança da Matola propôs em finais de 2011, o renascimento dos matolenses. Trata-se de renovar o fôlego para enfrentar os desafios do ano novo.