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Refrescos

Dou uma vista de olhos pelo relatório publicado nesta semana pela instituição Transparência Internacional (TI). Para quem não sabe, a TI é uma organização que tem como objectivo a luta contra a corrupção a nível mundial. Nos seus estatutos lê-se que “ela une os povos numa poderosa coligação à escala mundial com o objectivo de pôr fim ao impacto devastador da corrupção em homens, mulheres e crianças em todo o mundo.

A missão da TI é estimular mudanças em direcção a um mundo livre de corrupção.” A causa tem tanto de insigne como de etéreo, uma vez que, como dizem os especialistas, a corrupção só terá fim quando o mundo também conhecer o mesmo destino. Filosofias à parte, vamos a factos concretos. Anualmente, a TI elabora um relatório sobre a corrupção que grassa pelo mundo. Esta instituição não se interessa por denúncias isoladas.

Prefere desenvolver ferramentas e estabelecer parceiras com outras organizações preocupadas com este mal – ONG’s – com governos, com empresas privadas, com membros activos da sociedade civil e analistas. O índice não mede, por conseguinte, a corrupção de uma forma objectiva, mas antes como é que os vários sectores da sociedade se apercebem da existência da corrupção. Ou seja, mede a percepção. Na tabela anual da TI, o índice de corrupção é pautado de zero a dez, sendo que zero corresponde ao máximo de corrupção e dez quer dizer que o país se encontra livre desta praga.

É óbvio que nenhum país atinge este último patamar, mas alguns estão quase lá, como é o caso da Dinamarca, Nova Zelândia, Suécia, Singapura, Finlândia ou Suíça – todos acima de 9. Outro aspecto que salta imediatamente à vista – para mim é o principal – é que o desenvolvimento dos países é inversamente proporcional à corrupção. Isto é, os países mais desenvolvidos são os menos corruptos e os mais subdesenvolvidos rebentam a escala da corrupção, como é o caso da Somália – na cauda da tabela – Myanmar, Iraque, Haiti, Afeganistão, Sudão Guiné Conacri e por aí fora. Por aqui podemos deduzir que a corrupção não compensa.

Mas, com esta tabela chega-se rapidamente à conclusão de que a corrupção é apanágio dos fracos, dos que não confiam nas suas faculdades, dos que preferem receber sem fazer qualquer esforço – é só estender a mão -, dos preguiçosos, dos prepotentes, dos déspotas, dos instalados, dos que não querem assistir ao verdadeiro desenvolvimento dos seus países porque estão bem assim e não pensam no futuro dos seus filhos. Estes senhores, quais parasitas, são o grande entrave ao bem-estar da maioria e cavam, à velocidade de uma retroescavadora, diariamente, um irreversível fosso de desigualdades.

Não é por acaso que, em relação a África, os países que encabeçam a lista são o Botswana, seguido de Cabo Verde, África do Sul, Namíbia e Gana. Em todos eles a democracia funciona bem melhor do que nos restantes. Quanto a nós, Moçambique, demos um tombo de quinze lugares e estamos bem na segunda metade da tabela – ocupamos o 126º com 2,6 – sinal de que bebemos cada vez mais “refresco” e de que não queremos rumar ao desenvolvimento.

Efectivamente, hoje, cada vez que vou a uma repartição pública tratar de um papel e vejo o riso amarelo de quem estás atrás do balcão dificultando o fácil, tomo esta atitude como um insulto aos ideais de Samora para quem a corrupção era um cancro que, uma vez disseminado, poderia facilmente matar países.

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